O dia raiou com cores laranjas pelo colégio. Os neerlandeses (sim, virei politicamente correta e parei de chamá-los de holandeses) acordaram com sorrisos no rosto, celebrando a abdicação da rainha e a coroação do novo rei (que, surpreendentemente, chama-se Willen). Por acaso, esse rei é um alumni do UWC Atlantic e, por isso, segundo André, se não fossemos a Abrasevic assistir a coroação, era como se estívessemos perdendo o casamento de um parente. Uau. Quantas facas que eu levei no estômago hoje com frases como essa. Ou um simples "Happy Queen's Day!" que me fazia tentar forçar o desaparecimento da minha face de sarcasmo. Como eles esperam que eu celebre o Dia da Rainha? Por que diabos eu celebraria o fato de que há um novo rei nos Países Baixos? E quando eu pergunto isso, os meus amigos neerlandeses se limitam a dizer "É uma razão pra celebrar! Precisa de mais?!". Ah, precisa, queridos. Falta de senso crítico. E nem sei, talvez eu tenha uma visão muito crítica em relação à monarquia, é verdade. Porque quando eu reclamei, Amber (Bélgica) disse que aprecia o fato de que a monarquia é o que une o país dela. E aí eu me pergunto: então será que a Bélgica é válida como um país? Se a monarquia é a única coisa que mantêm os flamengos e os francófonos, então se a monarquia acabar, será o ponto decisivo na já existente batalha pela separação de um país de 30,5 km²? Ah, e tem mais: e todos os impostos? E o fato de que essa mesma linhagem sanguínea passou gerações e gerações e séculos e séculos vivendo às custas do trabalho dos outros. "Ah, mas não é como se eles não fizessem nada." Ah, ok, os monarcas são figuras diplomatas que saem por aí acenando e sendo bonitos (ou não, porque a família real neerlandesa não é nada bonita). O máximo que eles fazem é doar dinheiro pra caridade, o que eu já acho um... não tenho palavras, simplesmente. Acho que é um debate muito grande... Iniciei-o várias vezes hoje. Tipo, "por que a monarquia seria uma coisa ruim, Sofia?". Ah, deixa eu te contar um pouco da história do mundo... Tipo assim, as monarquias foram criadas na Europa, e os reis eram como que as figuras mais próximas de Deus e blablablabla. Well, adivinha, tradições não são necessariamente posivitas.
Mas, mesmo com tudo isso, como eu não tive aula de inglês, resolvi ir pra Abrasevic fazer uma pesquisa antropológica (ok, soa muito arrogante, mas é um pouco verdade). Deparei-me com os neerlandeses, uma garota de Hong Kong, um britânico (futuro morador dos Países Baixos) e os namorados: russo e afegão. Todos com bandeiras dos Países Baixos nas bochechas, vestidos de laranja, bandeiras em todo o lugar... Foi divertidíssimo quando Milad (Afeganistão) soltou a pérola "Essa é a princesa?! Minha avó é mais bonita!" e eu quase chorei de rir.
Mas toda essa questão e a minha atitude hoje quanto à isso está relacionada ao fato de que um amigo meu me ensinou com o tempo (e com muitas brigas) que às vezes é melhor deixar a atitude positiva, incentivadora e "aceitadora" de lado e provocar um pouco o senso crítico nas pessoas, pra elas poderem se enxergar e enxergar ao seu redor. E não falo só sobre mim, mas sobre todos e sobre como deviam agir em relação à mim também. Mas a questão é que sempre tive o problema de não querer criticar pra não magoar... Mas aprendi que sempre tem um jeito que não magoa e faz pensar. Bom, o UWC muda as pessoas... Novidade!
PS: acabei de ser acrescentada na parte de "Quotes" do Yearbook com as seguintes frases.
"Hey, you know what happened to me today?" "hahahahaha" "You are soooo cute!"
Contadora de histórias, risonha e apaixonada por todos... Sounds like me.
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