terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

e em uma pipa ela voa...

Tenho um poema que escrevi sobre o tempo no meu pequeno caderno preto que carrego pra todo lado. Esse poema foi escrito há dois anos e, mesmo assim, toda vez que o leio, sinto que é um poema tão coerente com meu conceito, com minha percepção do tempo. O nascimento, o crescimento, o amadurecimento, a morte.
E eu nem acho que eu ou ninguém entenda o tempo. Mas não sei se eu entendo essa divisão matemática e astronômica. Não sei se concordo, se gosto, se tenho a urgência de esperar e não querer ao mesmo tempo.
Abro meu caderno e folheio as páginas lendo palavras que por mim foram escritas em diferentes momentos da minha vida; E o poema sobre o tempo continua ali, como que em negrito, concordando com simplesmente todas as outras páginas, rabiscos e rascunhos, no caderno.
E "O Poema Sobre o Tempo" parece ser como o tempo: está sempre aqui, sempre ao redor, sempre por baixo e por cima. Como batidas do coração que sugam o perfume de  uma cidade à beira de seu estado primaveril, O Poema e o tempo são tão imprecisos e incorretos, tão apressados e tão ladrões de emoções, de vontade, de ilusões.
Espero não perder o caderno, senão perderei O Poema e então entenderei que perdi tempo, que fugi de coisas inevitáveis e de medos infindáveis por vontade de começar uma briga de tiroteio na minha mente inquieta. E parece que O Poema e o tempo fazem muito mais sentido de qualquer uma das minhas palavras forasteiras e exageradamente verdadeiras.

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

individualismo, partida brasileira & arte

Em meio a esses pensamentos conflituosos, à clássica procrastinação do IB que faz questão de ignorar o fato de que já são 1h e que tenho que começar a escrever uma redação pra entregar às 10h e começar a estudar pra uma prova que acontece às 8h, pego-me olhando fotos da viagem de um garoto que estudava na minha escola no Brasil e me deparo com dizeres escritos numa parede em Pernambuco.

Enquanto eles capitalizam a realidade, eu socializo meus sonhos. Sérgio Vaz

Completamente contraditório o fato de que eu estou escrevendo uma redação sobre "Enquanto eles socializam a realidade, eu capitalizo meus sonhos", sobre 1984, o livro de George Orwell. Posso sentar o dia inteiro e escrever sobre isso, sobre a minha opinião forte sobre sonhos, realidade, capitalismo, comunismo... Mas parece que vou ter que me segurar e me contentar com somente mil palavras sobre o individualismo em Oceania (a sociedade criada por Orwell). Ou melhor, sobre a ausência dele, sobre a tentativa do Party (Partido?) de acabar com ele, eliminar todos os vestígios e características que definem um ser humano como uma pessoa. Personalidades, gostos, desejos...

Pela manhã de ontem (quinta-feira), Vi e Lu foram embora (bem no dia Internacional da Língua Materna), deixando um vazio nas minhas tardes e noites e deixando um vazio no lugar onde antes eles ocuparam com o português, com o carinho, o amor, as piadas e as histórias. Tive uma semana fantástica com esses dois Clowns que tive o prazer de conhecer tão longe de nossas casas. Tive o prazer de fazer traduções do português pro inglês, do inglês pro português e de dar risada do entendimento dos dois e da tentativa dos meus colegas de hablar español com eles. Faz menos de 24h que eles foram pra Sarajevo pra começar a viagem deles de volta pra casa, mas parece que já faz tanto tempo...  Já sinto muita falta da risada da Vi, de treinar tecido com ela; das piadas do Lu sobre a beleza dele e de todas suas histórias de vida (incluindo quase ter virado um padre). Viraram queridos em pouquíssimo tempo e espero vê-los em Julho, no Brasil, visitar a escola de circo deles e poder acompanhar mais de perto o trabalho do Medicina do Riso.

Luis, Toam, Vivian, eu e Emina na última noite dos dois em Mostar

Ontem (quinta) praticamente não tive aulas e pude sentar em Abrasevic com Ogi e Markéta, fazendo coisas que não tive tempo nenhum de fazer na última semana, mas sem incluir nada relacionado ao IB. Consegui finalmente chegar à etapa final do meu projeto midiástico (coming soon) e agora só preciso coletar umas últimas imagens, fazer uns remendos aqui e ali, mudar unas cositas e voilà! Mas acho que só terei a versão final depois da minha maratona de Teatro: será a última e também a mais estressante. Acho que já comentei aqui no blog que estou largando o teatro e isso não me deixa extremamente orgulhosa ou feliz - muito pelo contrário. Mas até tive uma conversa com o Luis sobre isso e ele concordou comigo que quando não há prazer, não há vontade, o teatro não faz sentido e não deve ser forçado. Acho que vou sentir falta de arte na minha vida, mas vou buscar assistir mais filmes, fazer mais e mais tecido, tirar mais fotos... A verdade é que vida sem arte não existe e eu preciso dela! Mas voltando, a maratona começa Sábado e termina no outro Domingo, quando estreamos nossa (?) versão de Hamlet. Será uma semana de muito estresse, muita pressão, montanha russa emocional, energia fugindo de mim (provavelmente resultando em nema¹ treino). Vou manter o violão de Quinten no meu quarto (com meu macaco de pelúcia agarrado a ele) e tentar respirar fundo tocando um pouco de MPB.

Meu canto do quarto (foto tirada essa semana)

¹ nema é uma palavra na língua local que não pode ser literalmente traduzida, mas se refere a "não", "nenhum", "nada".

domingo, 17 de fevereiro de 2013

lend me your eyes and I can change what you see

Final de semana caótico. Não sei... Talvez por ter companheiros brasileiros pra andarem pela cidade comigo e pra darem baitas nós na minha cabeça quando eu tenho que traduzir do português pro inglês e do inglês pro português.
Foi um final de semana que me fez odiar dormir. Por conta de uma semana de várias horas dormidas (especialmente no dia em que eu não fui na escola e dormi até tarde), esperava estar cheia de energia. Mas acordei hoje somente às 14h, graças à Markéta que me acordou, falando que eu estava dormindo demais. E ela estava certa. Olhei no espelho e vi olheiras gigantescas debaixo dos meus olhos e pensei em tudo que eu poderia ter feito em vez de dormir até tão tarde. Tanta coisa pendente pro IB e pra organização de coisas, mas eu acabo dormindo. Depois não entendem quando eu digo que dormir é perda de tempo...!
Foi um final de semana que intensificou muito minha amizade com Markéta. Ela, Bengisu e Bo foram minhas primeiras amigas em Mostar, mas no semestre passado nos afastamos bastante, principalmente quando Markéta ficou super doente e teve que voltar pra República Tcheca. Por muita sorte minha, nós quatro nos aproximamos muito depois das férias de inverno e devo dizer que não podia estar mais feliz em relação à isso. Principalmente por conta de momentos fantásticos que temos na nova varanda de Bo. Mas nesse final de semana, Bo foi pra Split, na Croácia, pra encontrar a mãe, a avó e o irmão, que estão a caminho de Mostar. Ela só retornará na terça-feira. E Bengisu seguiu meus passos e foi com Katarina para Milici, a cidade na qual eu fui antes das férias. Basicamente, eu e Markéta passamos muito tempo juntas, comendo ajvar com pão, cozinhando, assistindo séries idiotas na madrugada pra capotar uma no ombro da outra, trabalhando na frente dos nossos computadores por 5h no SportsBar...
Foi bom demais e me fez pensar em como as férias mudaram as pessoas. Muita gente diz que no segundo semestre você já sabe em quem você pode confiar e quem são seus amigos mais próximos. Eu acho que isso é uma grande merdinha que as pessoas botam na cabeça, porque acho que seus amigos estão sempre mudando, de acordo com a fase que você está da sua vida, e também que confiança é uma coisa que não funciona dessa forma. Mas de fato, Bo, eu, Markéta e Bengisu somos conhecidas na escola como "Musala Girls" porque somos as doidas que resolvem passar tardes e finais de semana fazendo caminhadas, escaladas... Somos as doidas que se amam pra caramba. O término do namoro não foi fácil (e ainda não é) pra Bo e ela está num momento semelhante ao meu, tentando encontrar algum caminho, alguma estrada pra seguir agora. Bengisu cresceu muito durante as férias: está muito mais centrada agora, embora muito pressionada pelos pais e também muito mudada depois da visita dos amigos e do ex-namorado a Mostar. Markéta é uma pessoa nova, fresca, renovada, segundo minha percepção. Muito mais confiante pra viver em Mostar, pra seguir seus sonhos e pra dizer a verdade quando sente que deve.

Hoje, Luis deu um workshop de malabares (algo que já vi minha irmã fazendo várias vezes). Onze pessoas apareceram (o que foi um sucesso, considerando que essa semana que está começando é grading session) e aprenderam a fazer bolinhas com arroz, bexigas, sacolas plásticas, fita adesiva... Depois aprendemos a teoria de juggling e foi divertidíssimo traduzir todas as explicações do Luis.
Hoje à noite, Gwenno (Gales) organizou uma sessão do filme Mostar Round Trip em Abrasevic. Basicamente, é um filme que foi feito pelo pai de Yuval, um garoto de Israel que estudou em Mostar de 2007 a 2009. Um filme que mostra a relação de Yuval com os país, mostra a relação dele como os outros israelitas do colégio, com sua namorada, com a vida aqui. Foi emocionante ver que os mesmos lugares por onde passamos todo dia também foram parte da 2ª geração do UWC Mostar. Foi emocionante ver a relação de Yuval com Neus (Espanha) e vê-los se despedindo no final do filme, sabendo que, embora se amassem, provavelmente nunca mais se veriam. Foi interessante ouvir o garoto da Palestina, que foi trazido aqui pelo comitê nacional de Israel, mostrar sua opinião clara sobre a Guerra de Gaza e a situação em Israel. Depois do filme, tive uma reunião com toda a comissão de organização do Mostar Street Arts Festival. Mal posso esperar! Mas ao mesmo tempo, odeio pensar que o SAF está próximo, porque significa dizer adeus pros meus segundos anos...

sábado, 16 de fevereiro de 2013

brasileirismo e palhacismo

Acordando na manhã pra catar lixo pra cidade. Me vi nas redondezas do estádio de futebol de Mostar, catando camisinhas usadas, latinhas de cerveja e pedaços de roupas largados no chão. Catamos muito lixo pela cidade. Tive um skype logo em seguida com pessoas muito queridas e depois acompanhei Luis e Vivian na visita deles a um dos nossos CASes, chamado Karašebeš. As crianças se divertiram absurdos (duvido que tivessem visto palhaços antes na sua vida) e fiquei encantada por Luis e Vivian. São pessoas tão maravilhosas, realmente nos damos muito bem e não só pela língua ou pela cultura em comum.
Na noite anterior. levei Vivian comigo ao Climbing Hall e ela ficou absurdamente feliz em poder fazer tecido depois desses meses pela Europa. Meu treino está se tornando diário, com a companhia de Markéta, que realmente vai escalar.

Luis Godoy


Luis fazendo contato no Climbing Hall

Ibrahim (Iraque) e Christina (Austria)

Vivian, Bebo e Luis

Luis brincando com crianças de Karašebeš


Criança de Karašebeš brincando com bola

Markus em uma calma muito rara

Crianças de Karašebeš com UWCers, Luis e Vivian

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

rosas e carinho

Eu fui educada numa família em que comemorações comerciais sempre foram indiferentes. Talvez até seja essa uma das razões pela qual eu odeio meu aniversário. Dois dias atrás, eu descobri que na quinta-feira dessa semana seria Valentine's Day (Dia de São Valentim). O engraçado é que esse Dia dos Namorados tem uma data diferente no Brasil, porque Junho é o único mês em que não há um feriado tipo Carnaval, dia das mães, Páscoa... É um mês perfeito pra encaixar um feriado comercial, já que as pessoas ainda não gastaram seus salários comprando presentes.
Se você ama (e acredita no amor), você deve celebrar o amor todo dia, não num dia específico. Mas, bom, sendo parte do MOPS, eu fui obrigada a organizar eventos pro Dias de São Valentim. A melhor parte foi que nós decidimos organizar algo como "Amigo Secreto" (que rolou durante os Trials dos meus segundos anos também), pra mandar poemas de amor e coisas fofinhas. Voltei ontem à noite pro meu quarto, exausta por conta do treino, e me deparei com um coração de origami em cima da minha mesa. Um arrepio atrasou minha espinha, porque eu já sabia quem era meu "Secret Lover"... Coincidência ou não, era um tanto quanto estranho. 
Hoje de manhã, encontrei Myriel (Austria), minha vizinha e uma das melhores amigas de Aiša, no caminho pra escola e andamos juntas. Passamos por um homem vendendo rosas e Myriel parou pra comprar uma. Achei que ela estava comprando pro namorado dela e a ajudei a escolher. Quando ela pagou, entregou a rosa pra mim e deu um sorriso, falando "Essa é rosa pra minha firstie ensolarada que sempre me traz tanta alegria! Feliz Dia de São Valentim!". Myriel é uma pessoa muito querida e especial, mas também um tanto quanto estressada com coisas da escola. Mas parece que, nesse semestre, ela está bem mais calma e disse que quer muito sair comigo, para conversarmos e compartilhamos experiências de vida!
Depois da aula de inglês, fui pra Musala pra lavar minhas roupas (que se transformaram numa pilha gigantesca, já que não cabem mais dentro do meu cesto de roupa suja) e dei de cara com um casal saindo pela porta de Musala e perguntando por Celia, minha segundo ano espanhola. Eles me perguntaram isso num espanhol um tanto quanto afetado por um sotaque brasileiro. Dei risada e comecei a falar português, lembrando-me de que minha língua materna não é inglês. Eu já sabia que esse casal vinha, só não sabia que eles iam chegar essa semana! A mulher chama-se Vivian e é de São Paulo (Santana, na verdade...) e o homem chama-se Luis e é de Americana. Eles são clowns e fazem parte da Medicina do Riso (não sei muito sobre, mas imagino que seja algo semelhante aos Doutores da Alegria). O Luis estava estudando em Madrid e conheceu Peter, meu terceiro ano austríaco (ele é uma lenda!), que contou sobre Mostar! Por isso os dois vieram parar aqui e parecem pessoas super interessantes! Completamente simpáticos com seus hábitos vegans e sotaque que me lembra muito de casa!
Estou em Abrasevic agora, pensando que preciso correr pro meu quarto e descobrir quem é a pessoa pra quem eu devo mandar bilhetes românticos para Valentine's Day. Logo mais teremos Speed Dating na cozinha de Musala.

PS: Acho que não vou comentar sobre o evento que rolou hoje à tarde em Spanish Square. Era pra ser uma coisa relacionada à isso, mas acabou virando uma coisa ridícula com músicas completamente opostas ao propósito do evento... Triste, mas me diverti um pouco dançando com os mediterrâneos, com Bo e Markéta... 

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

vulcão da liberdade

Depois de ter tirado uma segunda-feira off, dormido mais de 16h (algo que talvez eu nunca tenha feito na minha vida), eu, Bo e Markéta decidimos sair pra uma pequena diversão antes do check-in. Um acidente aconteceu e rendeu à Markéta uma ida ao hospital e um ponto no cucuruco. Mas ela está bem, não foi nada demais...
Voltei pro meu quarto, onde encontrei uma Aiša muito carinhosa, uma colega de quarto incrível! Resolvi dormir um pouco, acordar e estudar a noite inteira, já que eu tinha uma maldita redação de história pra começar. Obviamente que eu deixei pra escrever a redação pertíssimo do prazo final, porque é só assim que eu funciono. Peguei-me enlouquecida quando comecei a escrever às 4h da manhã, com milhões de abas abertas na internet, com todos os sites possíveis que consegui achar sobre o Japão durante os 1930's. Óbvio que o Facebook me distraiu um pouco, mas no final da madrugada, consegui ter mais de 800 palavras e ter feito reference de tudo escrito. Ainda precisava de pelo menos 200 palavras, mas ainda tinha tempo.
Thanks God It's Monday! - Graças a Deus é Segunda!
Quando deu 7h, o despertador de Aiša tocou e eu levantei pra puxar o carro, como diria meu pai. Entrei na escola de manhã e me deparei com os alunos do currículo croata fantasiados! Fez-me sorrir e lembrar que, apesar da chuva e do frio, ainda é Carnaval! A minha manhã foi absurdamente exaustiva, com nenhuma aula interessante. O clima na escola foi complicado graças à uma discussão gerada na House Meeting de Susac na noite anterior sobre a iniciativa que o Ecology CAS teve de implantar Meatless Mondays (Segundas-feiras sem Carne) aqui. Basicamente, a House Meeting deles transformou-se em uma baixaria, em uma gritaria entre locais (e Victor) e internacionais, que incluiu ofensas, chamando pessoas de gordas e pessoas gritando pelos seus direitos de escolher o que comer. Acho que às vezes é importante me dar conta de que essa não é uma sociedade perfeita, de que há pessoas com cabeça fechada. E aí vem aqueles argumentados falando "então vamos ter um Dia de Carne no qual os vegetarianos vão ter que comer carne!" e, bom, até ficamos conversando por um bom tempo sobre isso na aula de Español. Como sempre, a conversa acabou sendo direcionada para o fator de termos tantas bolsas pra locais (imagine que no Brasil mais de 200 pessoas se increvem pro processo seletivo da UWC e somente 9 pessoas são selecionadas, enquanto na Bósnia há o mesmo número de inscritos e mais de 40 bolsas; é óbvio que o comitê daqui escolhe os candidatos "menos piores"), o fato de que o número de bolsas pra locais vai ser aumentado no ano que vem e o fato de que os locais não se permitem viver toda a experiência do UWC, indo pra casa durante os finais de semana e etc.
Depois da aula, tivemos uma sessão de MUN sobre o Arms Trade Treatry (Tratado de Venda de Armas) no qual tive que representar o Irã. Pra compensar minha performance super ativa na sessão passada, eu entrei nessa sessão sem saber nada de nada (por ter passado todo meu tempo livre em História). Demorei um bom tempo pra conseguir achar na internet a posição do Irã e a sessão levou um caminho muito estranho quando eu e o Mário (Espanha), que representava os EUA, votamos contra uma emenda escrita por Colleen (EUA), que representava a Alemanha, na resolução escrita por Ali (Paquistão), que representava o Mali. Fiquei desapontada comigo mesma... Não tive uma boa performance nessa sessão e realmente espero melhorar isso na próxima.
Eu e Sjur (Noruega) saímos correndo da sessão pra ir até Palma, uma doceria entre Musala e a escola, para reunião de MOPS. MOPS é o CAS que é responsável por organizar eventos divertidos, como competições nas assembleias, sessões de massagem, girly nights, Valentine's day e coisas do tipo. A chuva de Mostar não tinha parado desde que eu tinha saido de Musala pela manhã e alcançou seu ápice exatamente nessa hora do dia, quando não havia mais nenhuma luz na rua.
Voltei pra Musala pro jantar e logo depois me enfiei no meu quarto pra terminar a redação de History. Depois de ter ultrapassado o limite de palavras, tive que cortar fora algumas coisas e finalmente enviei. Não me senti nada confiante quanto à redação. Ter escolhido o Japão como foco da minha redação foi uma péssima ideia e foi só mais uma das minhas estúpidas decisões pra me provar capaz.
Pelo fato de ser Carnaval, eu, Markéta e Bo havíamos decidido sair à noite e achar algum bar em que estivesse rolando uma festa. Hoje é o dia que os Bósnios-croatas chamam de Halloween: eles se vestem e vão a festas à noite. Enfim, o plano inicial era ir a Hemingway's, mas acabamos andando em direção ao Blues Bar (afinal, Tuesday Blues Day) e fomos atraídas por música alta e uma multidão de gente em La Cage. Nossa, que felicidade que nos dominou! Entramos no bar vestidas de camisas de futebol, caras pintadas com as cores dos nossos países e todos os acessórios possíveis. A música não era nada como música brasileira de Carnaval, era puro turbo folk (o estilo de música horrível dos Balcãs), mas divertidíssimo! Dançamos muito e muito e muito, mesmo com tanta gente nos encarando e provavelmente se perguntando que porra estaríamos fazendo ali.
Um dos pontos marcantes da noite foi quando saímos para tomar um ar e nos deparamos com um garoto Roma que devia ter cerca de 6 anos, debaixo de um guarda-chuva e com uma expressão facial que cortou algo dentro de mim. Bo insistiu que o levássemos até a padaria e comprássemos pão para ele, mas quando Markéta sugeriu isso a ele (em local, já que ela fala quase fluentemente), ele disse que não podia sair dali, que queria 20 km e que não podia sair dali. Bo e Markéta ficaram devastadas e esse tipo de coisa sempre me choca e me sinto absurdamente culpada. Por vir dessa realidade louca, de guerra interminável que o Brasil é, de luta pela sobrevivência nas ruas da minha cidade, garotos pedindo esmola não me chocam, nem se querer me tocam. Odeio isso, mas parece que é uma coisa tão comum, tão... normal. Me dá ódio pensar assim. E Bo e Markéta, que vem de realidades totalmente diferentes, ficam absurdamente chocadas e tristes e tocadas. Quando voltamos pra dentro de La Cage pra dançar, Bo e Markéta não conseguiram sorrir por pelo menos duas músicas e alguma coisa ficou martelando minha cabeça.
Voltamos pra Musala para o check-in, cantarolando na chuva após ter passado na nossa padaria favorita e termos ganhado cada uma um pão de graça! Estávamos absurdamente felizes, cantando Rolling in the Deep e logo em seguida "Paz Carnaval Futebol". Eu e Bo entramos no quarto de Bebo (Egito) cantando "Paz Carnaval Futebol, não mata, não engorda e não faz mal!", completamente ensopadas por conta da chuva mostariana. Alisa entrou no quarto e me mandou limpar a cozinha, já que é a semana em que meu quarto é resposável pelo Canteen Duty. Era tanta tanta tanta louça, mas me diverti absurdos enquanto diferentes homens entravam na cozinha e puxavam assunto comigo.
Carnaval é lindo. Carnaval não é só o Pão e Circo, mas é a energia e a felicidade de um dia especial, não importa em que lugar do mundo!

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

retratos de neve de mediterrâneos

Maud

Jochem

Mario

Elissavet

Tamar

Carme

Mi co-año Mario

Eu :)

Yuval

Uri

Jochem


domingo, 10 de fevereiro de 2013

você vive só uma vez...

Foi um fracasso a festa de Carnaval de sexta, na qual eu pude ir depois de ter escrito uma redação de Peace&Conflicts sobre o nacionalismo mexicano. Fiquei absurdamente estressada tentando controlar a música (é, porque não importa o quanto eu evite, eu sempre acabo ficando atrás da mesa de DJ nas nossas festas), porque muita gente reclamava da música brasileira. Me deu um bode das pessoas, um bode dos europeus que acham que música de carnaval não é dançável...! O quão irritada eu fiquei quando amigos meus vinham até mim pedir pra eu colocar algo que fosse mais dançável...! Não há nada mais dançável do que samba e música brasileira! E agora eu entendo que é uma coisa plenamente cultural, que não adianta eu querer que meus amigos europeus dancem samba, axé e maracatu...
Voltei pro meu quarto antes do check-in e fui acompanhada mais tarde por Bo, Markéta e Bengisu. Tive que expulsá-las do meu quarto pra fazer minha mala e acabei dormindo na cama de Aiša que foi para casa durante o final de semana. Pra mim foi um momento muito importante quando a mesma disse que eu podia dormir na sua cama quando não estivesse aqui: isso porque ela é neurótica com limpeza, com pessoas tocando as coisas dela e no começo do ano ela ia pra casa e deixava um papel na cama escrito "não sente!". Tenho tanta sorte de tê-la como colega de quarto! Ah, acho que nem comentei aqui que Veronika foi na segunda-feira pra República Tcheca e vai ficar um bom tempo por lá por conta de entrevistas pras universidades, por isso eu e Aiša estamos sozinhas no quarto #4.
Acordei às 5h30 para uma viagem pela qual estava esperando com muita ansiedade!! Depois de passarmos mais de 3h na estrada, à caminho de Pale, uma cidade na Bósnia Central, na República Srpska. Descendo do ônibus, pisei na neve! Mas quanta neve! Eu, Ali (Paquistão), Gautier (França/África do Sul/Camarões) e Colleen (EUA) começamos uma snow fight e eu tive que parar quando a minha mão começou a doer absurdos! Nunca havia sentido tal dor, foi horrível, mas a minha felicidade por conta da neve não me permitiu sentir tanta dor. Nos instalamos no hotel e acabei ficando no quarto com minhas queridas mediterrâneas: Maud (França/Itália), Tamar (Georgia/Israel) e Carme (Catalunia). Nosso quarto era maravilhoso, com não uma, mas duas varandas e uma vista maravilhosa para Pale.
Éramos 30 pessoas na viagem e viajamos quase de graça. Tivemos que pagar somente o transporte de ônibus e o aluguel do equipamento de esqui. O grupo viajando era fantástico e simplesmente deixou Mostar no silêncio: todo o nosso grupo de Mediterranean Firsties (com exceção de Bengisu, Sarah e Lushik), um grupo com qual passo muito, muito tempo, que inclui eu (agregada mediterrânea), Jochem (Holanda - também agregado mediterrâneo), Maud, Carme, Tamar, Yuval (Israel), Uri (Israel), Mario (Espanha), Elissavet (Grécia) e Margherita (Itália). Além de nós, minhas duas segundos anos favoritas estavam lá, Saffron (Reino Unido) e Elena (Alemanha), e outras pessoas que, uau, eu amo: Herda (Albania), Iva (BiH), Andra (Kosovo), Djordje (BiH), Ana (BiH), Lera (Bielorrússia), Si-Jull (Coréia do Sul/Alemanha), Katarina (BiH), Toni (BiH), Ognjan (Macedônia), Liza (EUA), Colleen (EUA), Celia (Espanha), Gautier (França), Ali (Paquistão), Sjur (Noruega), Anita (Noruega), Erika (EUA), Chloe (Reino Unido), Christina (Austria), além dos professores Ljubica, Barbara, Emil e Vladimir.

No primeiro dia, éramos muitos iniciantes e só aprendemos a parar quando descemos a ladeira. Tivemos até um instrutor divertidíssimo chamado Marko. Foi hilário ver pessoas caindo e foi absurdamente cansativo subir a ladeira com aquelas botas de esqui, que fazem eu me sentir em Pequenos Espiões 3 (ah, infância!), por 10 min e descer com os esquis em menos de um minuto. Mas devo dizer que a adrenalina que eu senti e a satisfação em aprender um novo esporte em um ambiente completamente diferente pra mim foi fascinante! Chorei de rir quando Yuval não conseguiu parar e acabou trombando num grupo de pessoas ou quando Elissavet caiu logo depois de ter subido nos esquis! Eu, Mario, Uri, Tamar e Yuval almoçamos lá em Jahorina mesmo, num restaurante super "caro" (pros padrões da BiH). 

Elissavet (Greece), Yuval (Israel), Mario (Espanha),
Uri (Israel) e Tamar (Israel)

À noite, encontramos Nikolina, uma garota linda que era da minha classe de Biology e era rommie de Sarah. Sempre sorria pra mim de manhã quando eu entrava no laboratório de Biologia e dizia "dobro jutro", mas ela resolveu abandonar o UWC, porque não estava feliz aqui e voltou pra sua cidade natal que, surpresa!, é Pale! Ela nos levou pela cidade e caminhamos nas ruas desertas, debaixo e em cima da neve! Eu, Mario, Carme, Maud, Jochem, Ali e Gautier jantamos e depois resolvemos encontrar os outros num bar. Nosso check-in era só às 23h, mas acabamos voltando pro hotel bem antes por puro cansaço.

Joguei baralho com Saffron e Elena depois de voltar. E Uri me convidou para uma caminhada quinze minutos antes do check-in. Saímos debaixo da nevasca, nos -10ºC, e começamos a jogar bolas de neve um no outro e assistir aos flocos de neve caindo do céu, e ficamos brisando naquilo, quase como uma ilusão, como assistir um filme 3D. Antes de dormir, nosso quarto estava lotado de mediterrâneos de pijamas, dando risadas e morrendo de medo de que Barbara cumprisse com sua ameaça e viesse nos expulsar do hotel se fizéssemos muito barulho.

Vista da nossa varanda na manhã

O dia seguinte nasceu lindo e ensolarado, e não neblinoso e nebuloso como o dia anterior. Esquiamos mais e finalmente eu caí! Isso porque Yuval decidiu que eu e ele devíamos subir bem mais na ladeira e realmente pegar um pedaço de uma pista. Não vimos que era cheia de lombadas e levamos tombassos que quase me fizeram chorar de rir enquanto a neve derretia na minha face. Almoçamos com o mesmo grupo e com Ali e Elissavet. Causamos um pouco no restaurante, como sempre.

Saímos de Jahorina por volta das 18h e voltamos diretamente pra Mostar. Não queria voltar pro vento e pro frio de Mostar! Gostei muito mais da neve pra substituir a chuva e o frio para substituir o vento. Foi uma viagem inesquecível e meu bode de europeus deu uma acalmada. Eu, Mario e Uri ficamos tão fascinados pela neve, nos ensopamos tanto por conta de empurrões, montinhos e bolas de neve... Mal posso esperar pela viagem de esqui do ano que vem...!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

vício em viver livre

Segunda-feira: Blagaj pós escola com um amigo musical. Conversas sobre minas que possivelmente poderiam explodir debaixo dos nossos pés enquanto subíamos a montanha até a fortaleza; sobre escrever, sobre tocar violão e guitarra e sobre sentimentos.

"Você não sente falta de chorar às vezes?"
"Não. Faz quatro anos que eu não choro."



Blagaj debaixo do sol



Terça-feira: subir a montanha que vejo da janela de Bengisu ou da janela de Bo. Parecia que eu e Markéta nunca chegaríamos lá, mas acabamos alcançando um estado de euforia com o frio e a beleza do topo do pico, com ruínas e pão com ajvar. Descemos a montanha e fomos direto para o Climbing Hall, onde treinei por uma hora e percebi não ter mais energia. Foi um belo e exaustivo dia que terminou com uma ida ao Blues Bar e conheci duas mulheres mostarianas com dreadlocks.


Ruína no topo da montanha:
"Morte ao fascismo!!!
Viva a Bósnia-Herzegovina unida!"


Vista do topo da montanha; Mostar por um novo ponto de vista

domingo, 3 de fevereiro de 2013

é o vento ventando, é o fim da ladeira

Um dia em Blagaj, uma cidade a 12 km de Mostar, com três garotas muito especiais. Deixarei minhas fotos falarem por mim e irei dormir nessa sábado assim como Bengisu dorme na primeira foto: com um sorriso no rosto; e vou sonhar com o dia fantástico, com o vento batendo no meu rosto enquanto vejo Blagaj do topo da fortaleza, ouvindo Eddie Vedder.










PS: Terminei um dia de hoje com um jantar maravilhoso, na casa de Clara, professora de español, com solamente hablantes de español: eu, Carme (Catalunia), Celia (Espanha), Mario (Espanha), André (Reino Unido/ Alemanha), Colleen (EUA), Liza (EUA), Dylis (Hong Kong), Emina (BiH) e Lucie (Alemanha). Hablamos español a noite toda, comemos jamón, batatas bravas e outras gostosuras ibéricas. Ainda finalizamos com um jogo divertidíssimo e saí da casa de Clara querendo falar em espanhol por todos os dias seguintes da minha vida.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

é um caco de vidro, é a vida, é o sol

Deitados no parque, numa quinta-feira, em pleno inverno, Uri e eu decidimos subir a montanha até a cruz depois da aula. Agregamos várias pessoas a uma caminhada que deveria ser exclusiva, mas não nos arrependemos! Eu, Bo (Holanda), Markéta (República Tcheca), Si-Jull (Alemanha/ Coreia do Sul), Davor (BiH/EUA), Sarah (Alemanha/França) e Uri (Israel) subimos a montanha naquela quinta-feira, com o sol brilhando acima de nós, com risos e com tirações de sarro sobre como nossos segundos anos estudavam pras provas enquanto curtíamos o inverno e Mostar.
A subida foi engraçadíssima, com direito a apostas (o que significa, basicamente, Davor sendo Davor), a perseguidores, a soldados suíços perguntando se sabíamos sobre as minas espalhadas pelo caminho (claro que sabíamos, por isso pegamos o caminho mais longo...) e a um por do sol maravilhoso (pena que não pudemos assisti-lo do topo, mas valeu a pena mesmo assim).
Chegando na cruz, uau, aquela vista é simplesmente de tirar o fôlego! Nunca havia estado lá em cima à noite, nunca tinha visto as luzes de Mostar... Fizemos uma fogueira e nos esquentamos, tentando esquecer o vento congelante que faz a temperatura parecer 15ºC mais baixa. Comemos pão com ajvar e bebemos com muito gosto. Ah, quinta-feira! Ficamos imaginando se não apagássemos totalmente o fogo e a cruz pegasse fogo. Quem seriam os culpados? Óbvio que seriam os Bosniaks, que queimaram o símbolo religioso dos Croats...! Poderíamos ter causado uma guerra, sem brincadeira. Nema problema, apagamos o fogo e a BiH ainda está de boa.
Na descida, tivemos que tatear um pouco as trilhas, por conta do escuro. Mas tínhamos nosso super alemão, com sua lanterna e seus braceletes neons (sim, ele vai pra escola com isso... vai saber por quê). É, digamos que os estereótipos sobre alemães são, geralmente, bem coerentes com a realidade. Ah, Si-Jull, ainda bem que você existe!
Claro que não resistimos e, na volta, paramos no Blues Bar. Os visitantes, amigos tchecos de Markéta, juntaram-se a mim, Bo, Markéta e Uri, assim como Katarina e ficamos lá por um tempo. Depois de uma conversa absurdamente intensa sobre prazer e satisfação com Uri - uma das conversas mais inspiradoras que eu já tive na minha vida, que me fez me apaixonar pela pessoa que Uri é -, resolvi voltar sozinha pra Musala, andando pelas ruas de Mostar com um pedaço de pizza na mão, requentado na padaria na esquina da rua do Blues Bar. Andei com felicidade, sentindo uma leveza no sangue, a barriga cheia, as bolhas do meu pé me cutucando e com uma vontade imensa de continuar assistindo Into the Wild; Então o fiz.