quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

mantendo-se onde a luz está

Relendo alguns posts, peguei-me decepcionada comigo mesma. Decepcionada por às vezes tentar colocar os fatos que acontecem em palavras tão claras e objetivas sobre o que faço, o que penso, o que quero. Sei lá, talvez seja essa parte bem objetiva de mim que, às vezes, falta no meu cotidiano, mas que é bem presente quando eu sento pra escrever sobre minha própria vida. Isso existe em mim desde que eu aprendi a escrever: minha mão doía por conta das horas que eu me punha a escrever no meus diários, quando era criança, porque teimava em escrever tudo que tinha acontecido no meu dia, não importasse quantas páginas seriam usadas ou quanto tempo eu teria que dedicar àquilo. Mas a verdade é que acho que faltou muito, na maioria dos posts, a expressão do meu amor por Mostar, do meu amor pelo UWC e pela oportunidade de vida que eu tenho.
Aqui em casa, às vezes, quando eu sento em algum lugar e tenho uns flashes em curtíssimos intervalos de tempo que trazem à tona emoções (algo que Stanislavski chamaria de "emotion memory") que já tive algum dia. Muitas delas vêm do período de tempo que passei sem saber o que aconteceria com meu futuro (começinho do ano) e depois, de quando me despedia daqui e me entregava pro mistério do meu novo caminho. Sinto a agonia que tinha e o medo meio-não-sei-de-quê. E aí veio o UWC, todo aquele novo mundo diante de mim.
E eu tinha 16 anos e achava que sabia tanto da vida - e talvez soubesse muito mais do que a maior parte das pessoas da minha idade ao redor de mim, que não tinham passado por nem metade do que eu tinha - e achava que aquela vida nova nem ia ser um "baque" tão grande assim. E nem achei que foi até voltar pra cá e ver que não tolerava mais coisa que antes deixava passar, que tinha coisa que me revoltava tanto e coisa que eu nem ligava mais - tão irrelevantes...
Caí num "mini mundo com problemas de mundo" sobre o qual eu achei que já sabia muito. E fui desiludida. E fui encantada. E me apaixonei por algo que não é descritível nem pode ser reduzido à palavra "mundo". Que mundo vasto e grande! E cruel! E fascinante! Tanto a aprender, a ver, a sonhar, a ensinar e a amar.
Voltei com meu criticismo de sempre, mas muito mais apurado e agora tomando tanto cuidado com as palavras, com a reação que elas podem provocar. Palavras são armas de paz e armas de guerra. Ouvindo com tanta atenção, tentando pegar o sentido de cada palavra com os dedos da minha mão.
Não há nada que eu não associe com a minha vida em Mostar; não houve nenhum momento aqui ainda em que eu esquecesse as pessoas, a atmosfera, o amor, a liberdade: coisas tão fortes pra se nomear que ficam fortemente nomeadas. Fora as infinitas e infindáveis perguntas sobre meu aprendizado, sobre minha vida lá, eu ainda me pego com a minha emotion memory, com sorrisos brotados no meu rosto por piadas realmente internas que soam em minha cabeça ao longo de respostas longas que parecem - e já são - ensaiadas.
Esse break não é fácil. Não é fácil me dar conta de que aquela vida não é eterna e nem sequer o fim. Ainda tem tanto, tanto por vir na vida. E, Ai!, como eu tenho medo do que virá por não saber o que é. Saber que meus próximos um ano e meio estão razoavelmente planejados e aí um abismo...!
Mas sem viajar tanto sobre o futuro e voltando a me dar um pouco de conta sobre o presente... Kelly, minha segundo ano que estuda no Red Cross Nordic UWC, me disse que provavelmente o segundo term dela teria sido muito diferente se ela tivesse voltado pra casa no Winter Break, que ela não teria sofrido tanto tendo ilusões sobre as maravilhas do Brasil e tendo saudade tão enorme de casa... E Bebo me disse a mesma coisa numa noite em que conversamos e tomávamos aqueles isotônicos de limão que sempre me deixam absurdamente enjoada sentados no muro do lado do mercado de Musala.
Voltar pra casa..., bom, não sei. Não é fácil. A liberdade é limitada, a quantidade de pessoas ao seu redor é limitada, a mobilidade pelo espaço é limitada, o transporte é limitado. Esse é um momento e lugar em que me sinto tão desamada e tão amada ao mesmo tempo que parece que algo em mim vai explodir. Família: amor, união, responsabilidade, mas dependência. Tantas definições confusas na minha cabeça e não sei se já está na hora de voltar pra Mostar. Quero muito, na verdade, mas sinto que não fiz tudo que deveria aqui ainda - e sei que nunca vou sentir que fiz. Nunca vou conseguir ver todos que eu gostaria e visitar todos os lugares que eu amo nesta cidade. Converso com muitos co-anos e segundos anos que me dizem não se imaginar em outro lugar agora que não em casa. Ai se me perguntassem... ah! a quantidade de lugares que eu poderia nomear nos quais poderia me imaginar agora...!
Muita gente interpreta errado, acha que não gosto daqui. Nunca fui muito caseira, é verdade. Mas amo, amo aqui e não vai ser fácil deixar o aqui outra vez; reforçar mais uma vez a decisão que eu tomei; deixar aqui pessoas que precisam de mim. Por mais cinco meses.

"dirigindo para longe. sozinha. no escuro."

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"I Don't Own You"

Horas de dias seguidos no mesmo endereço. A mesma comida (talvez recheios diferentes). As mesmas companhias de sempre. Nesta noite, porém, o calor soa com palavras entonadas e misturadas em diversas línguas sobre diversos aspectos da vida. Como se o tempo nem tivesse andando - são sempre horas nas cadeiras trançadas... Meses contados e ao mesmo tempo inexistentes. Mas outros meses colocados sobre a mesa como corpos nus e revelados em frases que nunca foram esperadas fora da cabeça, fora da mente, do interior pessoal. Entendimento mútuo e uma saudade quase que recomposta por concordâncias de cabeças e risinhos de compreensão. História que foi compartilhada em momentos diferentes na vida e que resultou em semelhança, em medo e pavor. Empurrando com os olhos, caminhamos. Caminhamos porque não há como não; e fugimos de medo daquilo que alcançamos. Um espelho de repente nos reflete e há uma praia atrás, roupas jogadas no chão e temor exposto. O porto seguro está em algum lugar, longe, tão longe, cadê a balsa, e a correnteza nos suga; talvez de volta pra aquilo que fugimos, pra aquilo que fomos, aquilo que lutamos contra. E não há nem tempo de dar um suspiro de alivio ou erguer a cabeça para tomar um pouco de ar (de água?); o Tempo não espera. A pergunta paira no ar e queremos saber se algum dia poderemos mudar nossas cabeças e mudar o que sentimos em relação a tantas coisas graças a outras tantas coisas: a praia vai se afastando.

(o título deste post está relacionado à música que eu estava a ouvir enquanto escrevia)

domingo, 23 de dezembro de 2012

porteira



Sentada numa varanda, ouvindo Chico Buarque e Nara Leão, folheando um livro de Sebastião Salgado e refletindo sobre "Terra" na língua em que fui educada. A beleza de estar no Brasil, de perceber que isso é, apesar de tudo, tudo aquilo que conheci algum dia. Fui lembrada de tanta coisa que aprendi: Kant, Castañeda, Filósofos de Frankfurt... Coisas tão próximas que parecem tão distantes, que foram esquecidas. Acho que a importância de vir pra casa é poder juntar dois grandes pedaços da minha vida. Mentalmente e geograficamente, eu separei a minha vida no Brasil (e até mesmo a minha vida no CISV) da minha vida em Mostar. Mas estou vendo que, apesar de não ser tão fácil, é possível juntá-las.
Conversa vai e vem. Mas, na verdade, nunca precisamos falar muito quando MPB preenche o silêncio de tantos pensamentos em nossas mentes e tanta paz. Pergunto a ele o que ele acha que vai ter acontecido quando eu voltar pro Brasil da próxima vez. O que será que vai ter mudado por esses lados? E isso me faz rir, porque a vida é um mistério tão belo quanto atravessar uma porteira desejando encontrar um lar, desejando encontrar, por fim, um pedaço de terra que se possa nomear de seu - e no fundo nem acho que queira isso. Talvez seja só mais uma coisa que a sociedade transforma em norma, em sentimentos que pensamos sentir... Sentimentos que pensamos entender. Sentimentos que insistimos em nomear. Sentimentos que não se prescreve, não se prevê, não se esquece.

sábado, 22 de dezembro de 2012

dias de continuação & fim do mundo

Fui buscada no aeroporto por pais saudosos e queridas amigas nas quais dei abraços longos e deliciosos. O papo simplesmente não acabava e, apesar do estranhamento na primeira hora, logo nos demos conta de que nossa amizade continuava a mesma. Ouvi Helo e Isa falando que não haviam estado felizes daquela forma em muito tempo e precisei abraçá-las muito forte. Elas sabiam que deixar Mostar era difícil pra mim, mas que estar em casa com elas era simplesmente maravilhoso.
Chegando em casa, pulei em cima de uma irmã doente e dorminhoca. Meus avós vieram tomar café da manhã conosco e, apesar do cansaço de horas não dormidas no avião com os corintianos, meu ânimo estava muito pra cima. Mostrei fotos e contei muitas histórias; também ouvi outras. O almoço surpresa de aniversário da Helo foi delicioso e depois horas deitada na cama e conversando com uma das pessoas que eu mais senti falta, Neves. Havia esquecido o quanto nossas conversas fluíam e o quão fundo éramos capazes de ir quando refletindo sobre as coisas, sobre a vida, sobre relacionamentos, sobre pessoas.
A quarta-feira me trouxe um mestiço vindo diretamente de seus meses na Inglaterra e mais uma vez me surpreendi pelo fato de que as amizades, o laço entre as pessoas, simplesmente não muda. Fui jantar com uma amiga muito amada e querida, Lara, com seu irmão, Caio, com duas gêmeas incríveis, Helen e Re, e o japa Renato num restaurante mexicano.
A quinta-feira me trouxe uma cunhada (de consideração) muito amada, Laura, que logo mais parte para sua nova vida em New York. Tive conversas deliciosas e abraços gostosos demais, sem saber quando a verei de novo. Depois um churrasco de aniversário em que vi outras meninas e pude matar saudades que não sabia se seria capaz de matar nesses 20 dias no Brasil. Conversei com duas intercambistas recém voltadas e dei muita risada das histórias diretas da Inglaterra e da Nova Zelândia. À noite, fiz um programa absurdamente familiar: meus pais, eu e minha irmã fomos ao circo Tihany que está instalado no Parque Villa Lobos. Uma mistura de técnicas muito boas com uma representação que me deixou enojada do corpo feminino e me senti assistindo ao programa do Faustão debaixo de uma tenda de circo.
Fizemos um sleep over na casa do Neves e tive uma noite incrível. Fora jogos estúpidos, muita comida, música brasileira (sem exceções) e palavras em bósnio/sérvio/croata, senti mais uma vez que nunca parti.
As pessoas me perguntam como eu me sinto estando de volta à minha terra natal e à minha casa. Minha resposta é que parece que eu nunca parti. Além das mudanças internas e as milhões de coisas que eu aprendi, eu não cresci de tamanho e não mudei de personalidade. Sou a Sofia Pontes Moreira que deixou o Brasil em Agosto, aberta pra milhões de experiências, agora um pouco mudada, mas com o mesmo coração e ainda com todo o amor que deixei aqui. A sensação que tenho agora, nesse momento, é que Mostar foi um sonho muito muito bom. Além da mala aberta no meio do meu quarto, a perda de uns cinco tons de cor na pele, um dedão do pé trincado e amigos com nomes esquisitos no Facebook, eu não tenho evidências da minha vida em Mostar. Quer dizer, além da saudade imensa que já existe, mesmo eu tendo partido a uma semana. E do amor imenso que sinto pelas pessoas que, agora, estão em lugares diferentes do mundo.

Um sonho muito, muito bom.

São Paulo continua a mesma e as pessoas continuam as mesmas. E o Fim do Mundo devia ter sido hoje, mas nadica de nada. Fora o aumento do calor, nada mesmo.



Que venha o tal Novo Mundo!

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Milici & Sarajevo

Depois de ter encontrado com meus três israelenses favoritos no ônibus a caminho de Sarajevo, meu Sábado estava fadado a ser incrível. Chegamos à Sarajevo por volta das 13h e sentamos num café chamado Coffee Time na estação de ônibus, conversando e tomando expressos com Uri, Yuval, Tamar e Katarina. Era estranho deixar Mostar, mas estava feliz por ainda estar com esses queridos. Esperamos por uma hora: enquanto eu e Kaca (leia-se Katia) ainda tinhamos mais de três horas de ônibus até Milici - cidade natal de uma das minhas locais favoritas -, os israelenses passariam o dia em Sarajevo e partiriam para seu país na manhã seguinte.
A viagem foi rápida. Considerando que passei o tempo inteiro com os olhos vidrados na paisagem, na neve espalhada pelas árvores e pelas montanhas, cobrindo com uma camada fina o telhado das casas. E eu entendi porque, na aula de espanhol, minha professora, Clara, havia falado que branco era uma cor fria. Na minha cabeça, branco sempre havia sido uma cor clara e eu entendi que, na Europa, o branco representa a neve, o inverno, o Natal e o começo de um novo ano.
Chegando em Milici, fomos buscadas pelos pais de Kaca. Não falavam inglês, mas foram uns amores e Kaca traduziu absolutamente tudo para mim. Infelizmente, a neve na cidade já estava derretendo e estava um tanto quando enlameada. Estávamos torcendo para que nevasse nos próximos dias e não deixei de fazer a piada de que meu calor brasileiro simplesmente impedia a neve de cair. É a piada eterna que eu e o Bebo (Egito) fazemos.
Andamos pela cidade no sábado à noite e tive a oportunidade de experienciar uma vida noturna numa cidade (vilarejo?) de 15 mil habitantes que não tem iluminação pública nas ruas. Há dois bares na cidade onde velhos, adolescentes e adultos vão. Não diria que foi a noite mais divertida, mas estava muito feliz em estar com Kaca. Soube que fiz a decisão certa ao ir pra casa dela antes de voltar para a minha própria: algo como um meio termo entre viver em Mostar numa residência, rodeada de pessoas da sua idade, sem pais e uma liberdade grande e a vida numa cidade gigantesca no Sudeste do Brasil, numa casa com outras quatro pessoas e uma liberdade limitada pelas condições da cidade e por pais.
O Domingo foi um tanto quanto calmo. Além da comida caseira maravilhosa e do amor imenso doado à mim pela família Lalovic, passeei pela cidade (inteira). Assisti uma série a muito tempo esquecida com Kaca e dei muitas risadas com o irmão dela. Lazar é um garoto de 11 anos com um futuro brilhante. Nessa idade, fala inglês e alemão fluentemente (sendo que eu fui a única pessoa com quem ele conversou em inglês fora da aula de inglês e ele tem um inglês incrível), entende muito de informática e é absurdamente inteligente. Fiquei tão feliz em conhecê-lo e realmente estou curiosa para saber qual vai ser o futuro desse garoto.

Inverno coberto por Outono e rodeado por Primavera



Kaca e eu no bar Absinto




























Hoje de manhã, acordei às 6h pra pegar o ônibus para Sarajevo. O frio do lado de fora me obrigou a vestir bons casacos, o que me fez rir, ao me dar conta de que em 21 horas estaria provavelmente arrancando as roupas de tanto calor. Dei um abraço delicioso de até logo em Kaca e entrei no ônibus com muito medo de encarar essa viagem sozinha. Aprendi a falar várias coisas úteis que me ajudariam a chegar ao aeroporto. A viagem durou três horas e pude cochilar um pouco, além de assistir à neve no caminho. Deu tudo certo, embora o taxista tenha me roubado uma boa quantia de dinheiro pra uma viagem de 200m até o aeroporto.
O aeroporto de Sarajevo é muito assustador, por ser tão pequeno e deserto. A neblina do lado de fora causou o cancelamento de vários voos durante o dia todo e estava torcendo para que o meu não fosse cancelado. Depois de fazer o check-in e quase ter um ataque do coração quando o funcionário do aeroporto falou que minha mala estava 9 kg mais pesada do que o limite permitia e eu ter tido que explicar pra ele que, como eu estava voando pro Brasil, o limite da companhia aérea era mais alto.
Paguei uma nota preta por um café expresso e por uma hora de internet, mas valeu a pena porque pude skypar com Lushik diretamente de Susac. Dei a sorte de encontrar com Kim (Holanda) que tinha seu voo algumas horas depois de mim. Ficamos juntas conversando até que eu resolvi passar pelo embarque e esperar meu voo, deixando Kim pra trás. E o susto que levei quando me deparei com Mario (Espanha), Colleen (EUA) e Celia (Espanha) no portão de embarque. O voo deles havia sido cancelado pela manhã e eles iam pegar o mesmo avião que eu. O avião não apareceu na pista até 10 minutos depois do horário programado pra embarque, mas deu tudo certo e chegamos aqui em Munique apesar da neblina.
Um tanto quanto ridículo o fato de que o meu voo para São Paulo e o voo dos três para Madrid é exatamente no mesmo horário e não podemos passar essas 7h conversando, porque a União Europeia nos separou: no aeroporto de Munique, os passageiros que vão para países da UE vão pra uma parte separada onde eles tem que apresentar passaportes e etc na conexão. E eu, pobre latina, estou enfiada nessa parte isolada do aeroporto, rodeada de corintianos vindo diretamente do Japão para São Paulo (sim, eu tô sabendo que o Corinthians ganhou, mas eu não dou a mínima).

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

última noite & um pouco de música que me recuerda de Mostar

Voltar pra casa...? Bom, quando eu deixei Mostar no sábado de manhã, eu sabia que estava deixando minha "home". Tranquei a porta do meu quarto, na correria de estar atrasada pra pegar o ônibus, deixando travesseiros e cobertores em cima da cama, uma mesa completamente limpa e vazia. Tinha passado o dia anterior inteiro limpando o quarto, aspirando a bagunça deixada pelas minhas colegas de quarto. Tinha passado momentos incríveis com Bo numa noite anterior e percebi o quão em casa ela me faz sentir, embora constantemente tenha a ouvido falar da sua outra casa. Não estava tão certa de que queria ir pra casa, nem que eu teria um tempo tão divertido de volta ao Brasil, mas Bo me fez perceber a beleza de voltar praquela vida que um dia vivemos e perceber que na vida nem tudo se perde: amizades continuam, nossas cidades natais continuam, nossa família continua.
A última noite em Mostar antes de ir embora foi especial. Tomei um chá com a minha querida Iida, uma finlandesa adorável de cabelos vermelhos que eu provavelmente nunca mais verei na vida, mas que tocou alguma coisa muito funda no meu coração com suas opiniões fortes e sua personalidade encantadora. O Winter Gala foi um momento muito emocionante pra todos nós, amigos de Iida, que tivemos que ouvir discursos tocantes sobre a partida da nossa querida amiga. Mas no meu coração algo me faz sorrir, porque eu sei que ela está fazendo uma escolha tão sábia. E eu sei que ela não está escolhendo o caminho mais fácil - porque se acomodar com a vida em Mostar seria mais fácil - e eu me orgulho do fato de ela ser capaz de reconhecer que pode fazer muito mais na Finlândia do que em Mostar, sofrendo com o IB e aproveitando cafés aleatórios no meio da tarde. Nosso chá particular transformou-se numa barulheira na cozinha de Susac com Anita (Noruega), Haimeng (China), Dilys (Hong Kong) e Anna (Holanda) juntando-se a nós. Quando Iida me deu tchau porque tinha outra despedida com outro amigo, nos abraçamos de pé em cadeiras e eu sorri com um alívio no coração. Não senti dor nem tristeza, e sim uma leveza que a permitia ir, que prometia a mim mesma que eu ainda a veria um dia e que seria exatamente igual e que talvez pudéssemos nos aproximar ainda mais. Porque uma menina de cabelos vermelhos que um dia eu conheci em Mostar, que gostava de fotografia e de nudez, que sorria com todos os dentes e com os olhos meio fechados, vai mudar o mundo. Talvez não o mundo, esse globo gigantesco, mas o mundo do coração de tantas pessoas. E eu sei que ela pode tanto e fará tanto, não importa se em Mostar ou na Finlândia. O silêncio ficou quando ela saiu da cozinha, mas eu dei uma risada de leve e deixei-a ir...
Depois do chá, passeei muito por Susac, me despedindo das pessoas que ainda não tinham partido. Passei mais de uma hora hablando español com a minha querida catalã e apressando-a. Caminhamos até Old Mans em um dos grupos que eu mais gosto da vida em Mostar: Mario (Espanha), Carme (Catalunia), Yuval (Israel), Tamar (Israel/Georgia), Lushik (Egito) e Sarah (França/Alemanha). Rimos o caminho inteiro até chegarmos pra festa de aniversário de Pasha em Old Mans, que foi simplesmente fantástica.
O cansaço me arrastou de volta pra Musala com Si-Jull (Coreia do Sul/Alemanha) e passei a hora antes do check-in no andar térreo, passeando pelos quartos masculinos, rindo muito e dizendo "até logo" para espanhois, francês, bósnios-herzegovinos, afegãos, alemães, paquistanês, egípcio, austríaco, americano... Mil nacionalidades que não mais me importam: são pessoas que amo independentemente de suas experiências passadas, de suas culturas, de suas línguas. 
Subi pro segundo andar e adormeci com um sorriso no rosto, sozinha no quarto #4. Fui acordada por Katarina e Marija e conversamos por um tempo, enquanto elas riam e me chamavam de teddy bear por causa da minha posição debaixo das cobertas. Minha mala ocupava metade do quarto, com quase tudo que havia no meu armário algumas horas atrás.
Fui dormir (pela segunda vez) lembrando de um bar de esportes, de um isqueiro verde, de uma caminhada debaixo da chuva, de uma toalha no ombro, de uma canção de Bob Marley no corredor, um abraço na cozinha, um presente caindo de um prédio em nossas cabeças, um pulo que me fez bater a cabeça, uma porta trancada e um aviso... Tantas memórias da última noite.


quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

um pouco de Winter Arts Festival & Winter Gala

Um pouco da minha vida corrida daqui: Winter Arts Festival está com a corda toda! Não tenho como descrever o quão incrível está sendo e o quão incrível foi o Winter Gala ontem.
O Winter Gala causou um estresse matutino. Claro que acordar com a neve espalhada pela cidade foi uma coisa linda: ainda mais dando pelo fato de que eu nunca havia visto neve na minha vida e levei a primeira bolada de neve na cabeça por Bo e Lera! Organizar o evento foi muito bom, principalmente a decoração e a seleção de fotos para o slide. Durante o evento em sim, além de ter sido mestre de cerimonia, também fui responsável por fotografar os casais entrando no salão. Subi no palco tantas vezes que estava cansada demais de andar no salto. Slobodan (Montenegro) foi o anjo que me ajudou a descer do palco todas as vezes.
As reflexões feitas foram lindas. Ouvi co-years fazendo discursos lindos sobre a nossa chegada, sobre o começo dessa vida tão bonita. Ouvi segundos anos abrindo seus corações e admitindo temer o fim disso e reconhecer o quanto amam seus primeiros anos. Também subi no palco por alguns instantes pra dizer que um dos pontos mais altos do semestre foi a cerimônia de abertura, que me dá arrepios toda vez que vem à minha mente; e pra agradecer minhas colegas de quarto pelas manhãs que acordo rindo. O coral cantou maravilhosamente bem. Os quatro homens - Victor (Russia), Pasha (Russia), Jochem (Holanda) e Ibrahim (Iraque) - cantando You Are Beautiful do James Blunt foi incrivelmente engraçado. Foi um momento muito emocionante e passei por estresse organizando e administrando o evento, mas agora que passou, só posso sorrir ao me lembrar de ontem. Essa manhã limpei o salão de Abrasevic com a melhor pessoa e dei tantas risadas que meu coração se encheu de alegria. Hoje eu e ela vamos virar pombo correio, entregando todas as cartas da Thanksbox.

Sobre o Winter Arts Festival, hoje tenho duas performances. Hoje é o segundo e último dia do festival: dia das danças e performances teatrais.
Segunda feira foi um sucesso, com muito talentos revelados! Uri (Israel) - foto ao lado - subiu ao palco mais de três vezes, acompanhado por vozes maravilhosas de Tahel (Israel), Markéta (República Tcheca), Elissavet (Grécia) e Gwenno (País de Gales - foto ao lado). Mas um dos pontos mais altos da noite pra mim foi ter minha querida colega de quarto no palco cantando Portishead - que é a banda que mais me lembra dos meus tempos fazendo tecido acrobático -, com três grandes amigos. Os quatro com uma presença de palco absurda performaram outras duas músicas pra fechar o show. Abaixo o vídeo da versão de Glory Box feita por: Veronika (Republica Tcheca) no vocal, Markus (Áustria) na bateria, Nikola (BiH) na guitarra e Spencer (EUA) no piano.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Winter Gala, firsties & inverno

Na falta de tempo pra escrever aqui, me resta colocar imagens. Estou a organizar esse evento super fantástico chamado Winter Gala e aí está o convite!!
O Winter Gala por acaso vai ser na terça-feira, exatamente no mesmo dia em que vai nevar pela primeira vez nesse inverno. Quero ver todas nós andarmos de salto alto pela cidade na neve.... Mal posso esperar.


Amanhã, lá no Brasil, meus futuros e possíveis primeiros anos vão fazer a prova, que é a primeira fase do processo seletivo! Mal posso esperar pra ter (se é que vou ter) um firstie!!!!! Quero muito alguém com quem falar português e com quem rir de política, da Globo, de piadas idiotas que só fazem sentido na nossa língua nativa... Mas enfim, isso ainda está muito longe. Nem quero ver meus segundo anos indo embora. Não gosto nem de lembrar que metade do meu tempo com eles já se foi. Mas não posso reclamar, foi um semestre maravilhoso que está se acabando. Depois dessa estúpida grading session, semana que vem terminamos na sexta-feira e a maioria das pessoas estará indo para casa. A maioria estará indo para o inverno cruel (exceto eu, Peya e Gautier). Depois do frio dessas semanas de Mostar, vou encarar o calor insuportável de São Paulo.