segunda-feira, 29 de julho de 2013

pela lei natural dos encontros

Ela pediu que eu contasse como estou me sentindo. "Deve ser estranho se adaptar a um lugar, voltar pra sua "origem" e ter que sair novamente" e ela ainda completou "deve ser no mínimo confuso!!" Talvez aquilo que ela estivesse falando fizesse sentido. Num momento breve, meus dedos pousaram sobre o teclado, dando um intervalo no movimento frenético que faz surgir palavras na tela do computador. Segurei aquele pensamento. Minha origem. Meus pais, minha irmã, minha família. Delícia de férias com eles, por mais que não tenhamos passado tanto tempo juntos.
Confuso... Talvez. Quase como se o tempo aqui fosse tão insignificante... Rever pessoas por um espaço tão curto de tempo. Conhecer pessoas numa velocidade tão impressionante. E partir - mais uma vez - é assim: confuso. Sair. Passar pelos biombos equatorianos e mostrar meu passaporte, minha documentação de menor de idade - pela última vez - e sentar, na espera que aquela fila para entrar no avião diminua, com um livro no colo e aquela sensação incerta e confusa de dúvida sobre ter saído pelo portão que dizia "exit" ou pelo que dizia "entry" - se é que eles são diferentes. Adaptação. Que diabos! Dá trabalho, é cansativo, mas nada muda no quesito felicidade quando estou em SP. Eu tenho muito na vida; de nada posso reclamar. E o cômodo já invadiu minha vida novamente: Mostar já não me é um mistério e, sim, um espaço geográfico no qual quero estar, sentada na beira do rio.

sábado, 27 de julho de 2013

me dê a mão pra ver o sol

Sentei ontem à noite pra reler meu blog. Pensei no que havíamos conversado no bota-dentro em Brasília, sobre relembrar o ano e refletir sobre ele. O dia era muito conveniente, considerando o que ele significou e ainda significa pra mim... Então sentei e comecei desde o começo, da primeira postagem. O início me pareceu muito estranho.... Minhas frases eram tão objetivas, precisas, sem emoção. Não sei se estava assustada, se não sabia o que estava fazendo. Me surpreendi ao ler certas coisas das quais eu não me lembro e ao ler coisas que eu achei que tinha esquecido, mas consegui resgatar na minha memória.
Minha forma de escrever virou muito mais subjetiva (tão subjetiva que não consigo recordar o que quis dizer quando escrevi certas coisas), muito mais emotiva e talvez muito mais envolvente. O post que marcou essa mudança foi mantendo-se onde a luz está, o post em que reconheci ser descritiva demais pro meu gosto.
Meu inglês se incorporou ao meu português. Eles fizeram uma aliança bonita. Porque meu português se tornou mais sofisticado (às vezes, menos correto gramaticalmente) e um pouco traduzido do inglês. Ao mesmo tempo, meu olhar se tornou outro. A mudança da minha forma de fotografar é muito clara: minha opção pelas sombras, pelas cores avermelhadas e pelos retratos se tornaram muito claras. Minha forma de ver o mundo mudou, como efeito ou consequência.
Sou muito crítica comigo mesma. Raramente consigo gostar de algo que produzo. E meu blog não é uma exceção: não foi fácil relê-lo e desprezá-lo e, em alguns momentos, querer parar de nele escrever. Não foi fácil ver que tem muita coisa do meu ano que eu não consegui aprisionar nas palavras que nesse blog deixei - e que não vou conseguir aprisionar em minha memória por muito mais tempo.

Está frio. Eu não gosto de sair de casa no frio de São Paulo: só quero ficar em casa, debaixo das cobertas, madrugando, assistindo filmes e lendo. Ainda mais agora, que me sinto mais sozinha do que paulistano, depois que a alegria do UWC Brasil me deixou. E começo a perceber que me vou embora do Brasil daqui a 6 dias. Tão pouco! Passei tanto tempo aqui no Brasil - quase dois meses. Não fiz nada do que queria. Não fiz nada para o IB, o que tinha prometido pra mim mesma que faria, pra aliviar o estresse do meu próximo semestre. Não consegui nem mesmo passar um tempo decente com o Lucas, meu quase irmão, que foi me buscar no aeroporto e praticamente não o vi depois daquele dia. E ele mora no mesmo prédio que eu....
E são só mais alguns dias que eu tenho pra ver pela última vez - em algum tempo - vários de meus amigos mais queridos. E sei que alguns dos que eu ainda queria ver pelo menos mais uma vez nessas férias, eu não verei. Eu nunca me senti tão estranha sobre ir embora. Não que dessa vez seja mais difícil me despedir. Não que eu esteja mais triste em ir embora...  É inexplicável, simplesmente inexplicável. E tem outras coisas inexplicáveis na vida, como aquilo que me trouxe de volta ao passado no dia de ontem, 25 de julho.

domingo, 21 de julho de 2013

abalo, intensidade e cumplicidade

Voltei pra casa ontem com meu coração amarrado. Não era aquela dor que vem normalmente associada a despedidas; era uma dor completamente nova que pesava dentro de mim sem que eu soubesse explicar, enquanto me esforçava pra não fechar os olhos e dormir ao som daquela música no rádio do carro.
Voltei pra casa e mesmo com todo aquele cansaço me consumindo, precisei sentar e escrever, sabendo que se não o fizesse, não teria o mesmo efeito, o mesma transpassamento daquilo que me tomava e daquilo que eu botasse em palavras cuidadosamente. Salvei um documento de Word tendo a certeza de que o encontrarei daqui um ano e provavelmente chorarei quando o ler. Declarei toda aquela sensação de um bota-fora intenso, de medos, de esperanças, de decepções. Ao mesmo tempo, conversava com uma amiga israelense que estava à caminho de Jerusalém. Fui dormir ainda assim; abalada.
Me apaixonei pelos meus primeiros anos em poucas horas... No começo, não senti as vibrações da geração deles, admito. Não só eu, como outros. Mas não demorou muito tempo pra que eles se soltassem, pra que eles me impressionassem com seus potenciais, seus amores, seus pensamentos maduros. Sorria e ria. Sentei na beira da piscina com meu primeiro ano - aquele em todos os sentidos, brasileiro e mostariano - e joguei tanta coisa naquele espaço entre eu e ele. Cumplicidade, ele disse. E não mentiu. Senti a amizade latina (e esse amor que só nós parecemos conseguir viver) que eu não tive por um ano todo e quase chorei ao perceber essa ausência que eu sempre mencionei, mas nunca percebi de fato. A população de latinos em Mostar está dobrando (ou aumentando em 170%, como diria Fábio).
As dúvidas que eles tinham... dúvidas que faziam tanto sentido um ano atrás e que agora parecem tão... familiares - em todos os sentidos. Sentei no CCSP pela última vez nessa férias; um lugar que pra mim representou o começo do meu interesse em política e representa tanto encontros de UWC... Uma síntese em forma de espaço. O tour por São Paulo foi cansativo, talvez não tão produtivo quanto no ano passado, mas belo com a multidão de São Paulo, com os brasileiros que não são paulistanos se assustando com o ritmo das pessoas no metrô... Fui guia turística na minha cidade de origem. Vi meus primeiros anos pagarem o mesmo mico que eu paguei no ano passado (não o declararei aqui para não ter spoilers para possíveis futuros alunos).
Foi ao longo daquele dia que algo muito UWC foi acontecendo: abraços. Abraços são algo tão importante no UWC. No momento em que você começa a andar por aí abraçada a alguém que você acabou de conhecer, você começa a entender melhor o UWC, talvez. Porque a intimidade do UWC Brasil se dá de uma forma tão rápida e intensa, com abraços longos, beijos no topo da cabeça, sorrisos tão genuínos... No final do dia, nos entregamos a contar e revelar histórias de nossas vidas no UWC, enquanto os primeiros anos as ouviam com tanta atenção e curiosidade - e certa admiração. A tradicional festa na casa do Ricardo foi deliciosa.
A Casa da Amizade foi talvez centenas de vezes melhor do que no ano passado. Talvez porque o grupo era outro, ou talvez porque meus lábios involuntariamente se abriam num sorriso de orgulho, de felicidade, de amor pelo UWC Brasil, pela família que somos, pelo cuidado daqueles primeiros anos que se jogaram com muito amor naquela experiência de uma manhã. Borboletas de mosaico. Mosaico tão bonito quanto o mosaico da própria casa do Gaudi de Paraisopolis - sempre encantadora.
Trouxe todos pra casa. Meus primeiros anos, Kelly (RCN UWC 2011-2013) e Lud (UWC SEA 2011-2013) vieram pra casa numa verdadeira viagem de transporte público, na qual Wesley não conseguia falar uma palavra de tanta fome. Preparei um macarrão enquanto assistíamos a vídeos dos colégios. Fui declarada mãe UWC por Fábio que, no dia anterior, havia dito que eu era muito mais irmã do que mãe UWC. Sim, eu sempre quis ter primeiros anos. Sempre quis abraçá-los pra dentro da família, da mesma forma que fizeram comigo.
A confraternização foi fantástica. Mas tão diferente do ano passado. Rever meus selecionadores sempre é estranho e lindo ao mesmo tempo. Abracei-os e contei dos problemas do colégio. Chorei de rir com as fotos dos meus primeiros anos sendo expostas na apresentação e com suas reações ao vê-las. Discursos belos, envergonhados e profundos de uma forma tão superficial... Insisti na rodinha que fizemos na grama - num verdadeiro campo minado de cocôs -, que foi um fechamento do bota-fora e desejos de boa sorte pra todos, meus co-anos e primeiros anos.
Foi uma bota-fora muito, muito diferente do que vivi no ano passado. Não por ser melhor e pior: não é possível classificar. Mas porque a minha posição foi totalmente diferente. Porque da última vez eu era a inexperiente, a que olhava pros meus segundos e terceiros anos com uma brutal curiosidade... Dessa vez fui eu a admirada, a escutada, a interrogada. Foi diferente, lindo do mesmo jeito que foi no ano anterior. Estar na presença de meus segundos também é sempre mágico, sempre impressionante. Um bota-fora que me trouxe emoções fortes de vontade, de orgulho, de esperança de uma experiência UWC maravilhosa pra cada um desse lindos primeiros anos que o comitê brasileiro teve a perspicácia de selecionar.

 Fabinho (UWC SEA 2013-2015)

Vitoria (UWC Costa Rica 2013-2015)

Isadora (UWC Maastricht 2012-2014)

Lucas (UWC Mostar 2013-2015)

Fotos tiradas no trabalho feito na Casa da Amizade

sexta-feira, 19 de julho de 2013

família UWC Brasil - o reencontro

Dá-se início ao bota-fora 2013 com uma ida inútil ao centro de São Paulo e, em seguida, uma viagem até Cotia. Mas tudo vale; até mesmo acordar às 6h20 pra buscar seus primeiros anos brasilienses e ficar horas dentro do metrô na hora do rush. Minha casa virou uma festa, com três mulheres doidas pra se somarem à minha nostalgia UWC.

Kelly (Red Cross Nordic UWC 2011-2013)

Ricardo (UWC Atlantic 2011-2013)

Silvia (UWC USA 2011-2013)

Raísa (UWC Costa Rica 2011-2013)

João (UWC Adriatic 2010-2012)

Silvia e Raísa

Mariana (UWC Atlantic 2011-2013)

quarta-feira, 17 de julho de 2013

redes, vulvas aladas, ao rodrigo, fondue e nasceres do sol

Dias de vício. Dias em que a noite nos foi muito mais importante que o dia, em algum canto do bairro do Godoy. "Não existe tempo aqui". Ora era música ao vivo pelos cinco músicos, ora era jazz, blues, mpb, rock tocando naquele pequenino amplificador do baixo. Pinturas feitas na noite anterior sempre se deitavam pela casa inteira e eu percebia isso quando levantava da cama às 15h, caminhando de olhos quase fechados pra cozinha. Sentados em volta da fogueira, sentíamos o arder dos olhos com a fumaça nos envolvendo. Ouvimos Transa uma, duas, três vezes. Demos risadas de textos musicalizados de formas bregas. A uvaaaaaaaaaa, a uuvaaaaaaa... Ao Rodriiiiigooooo, ao Rodriiiiigooooooo...  Sentamos na estrada, com cobertores, para assistir ao nascer do sol. Falamos com voz de Google Tradutor enquanto jogávamos um jogo de cartas; jogamos truco, buraco, mao. Comemos churrasco, fondue, cachorro quente, batata com maminha. Ganhamos do barranco: não caímos nenhuma vez nas subidas à Casa Alta.
Nenhum de nós queria ir embora, e até os menos sentimentalistas admitiam isso. Vivíamos nossa própria anarquia. Talvez inspirada por Caetano, notei que estamos ainda muito presos a traumas adolescentes, produzindo coisas não tão profundas. Mesmo assim, quando olhei em volta, eu não vi Oswald, Vera e Santa; eu vi FAU, FFLCH, ECA... Havíamos crescido - talvez mesmo sem perceber. Concordamos odiar conclusões. Odiamos a necessidade que existe de um final clichê, daquela moral... Por isso terminarei por aqui: sem conclusões, sem clichês, sem morais. Gosto dessa falta de tempo e daquelas coisas perdidas.

Alguém já disse que os homens que fixam seu espírito nos temas enfrentados na infância produzem obras profundas, enquanto os que repetem indefinidamente as questões e ilusões da adolescência estão fadados a girar nessa zona periférica em que se discute repressão, definição sexual e satisfação de anseios de liberdade. Eu me situo no segundo grupo.
Caetano Veloso 





Fotos por Laila Kontic

sexta-feira, 12 de julho de 2013

coraçãos estáveis e parados








Eu fui amarrada. Eu não saí da barriga da minha mãe porque não podia: haviam me costurado ali dentro, bem, bem amarrada e presa. Não queriam que eu fosse prematura como a minha irmã e olha no que deu: eu, nesse mundo grande; eu, na Bósnia-Herzegovina; eu, amando pouco e amando muito; eu, uma contradição insuficiente de amarguras e de amores eternos da vida; eu, que odeio o "eu", que odeio "I", - embora paulistano tenha mania de ler todo "e" como "i". Só me soltaram da barriga da minha mãe quando já não tinha mais jeito, e eu saí, pesada e chorosa. E hoje, encontro-me nessa parada cardíaca, desse lento sentir.














Parada cardíaca
Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.

Leminski 

terça-feira, 9 de julho de 2013

pero el silencio es la más elocuente forma de mentir

Ontem, deitei debaixo do edredrom, na cama da minha querida irmã, e dei risadas saborosas ao telefone com um irmão recém chegado dos Estados Unidos, para visitar a namorada. Conversamos sobre tanto e tão pouco... E quando desligamos, duas horas depois, fiz um esforço pra fechar a veneziana da janela, virei para o lado e dormi.
Não é nada surpreendente que as imagens que se passaram em minha cabeça durante as minhas horas de sono tenham sido todas relacionadas ao UWC. Não é surpreendente porque, após passar 5 dias increíbles com brasileiros que fazem parte desse mundo e dessa sensação que é ser UWC, a vontade e a saudade de estar com pessoas que te entendem tão bem bateu muito forte. Meus sonhos me levaram a uma conversa com minhas amadas colegas de quarto, Aiša e Veronika, sentadas em uma cama, no nosso antigo quarto (#4 ou #8?), que estava parecendo um quarto totalmente diferente... E no sonho, eu percebi que estava vivendo um sonho, porque não entendia a presença delas, embora não quisesse que elas fossem embora. Abri a porta do quarto e olhei o cartaz pregado ali, onde antes havia os nossos nomes. Aquele não era o mesmo cartaz; era um cartaz marrom, com uns desenhos muito esquisitos, com o meu nome e mais quatro nomes abaixo dele que não tinham nenhum significado pra mim, mas, o mais importante de tudo, é que eles não eram os nomes de Aiša e Veronika.
No momento seguinte, estava entrando no quarto de Si-Jull e dando de cara com quatro rostos que eu nunca havia visto na minha vida. E me encontrei falando aquelas frases ridículas que os segundos anos começam a falar na frente de seus primeiros anos e queria me bater naquele momento. Mas eram rostos tão engraçados, tão distintos daqueles que eu tinha o costume de ver todos os dias... Eram todos europeus: branquinhos, loiros, olhos claros... E no meu coração, eu detestei eles.
Em seguida, estava descendo uma escada espiral, no escuro, e meu coração ardia, meus olhos queriam derramar lágrimas enquanto pensava em Anna, Colleen, Celia, Liza, Quinten, Markus, Pasha e tantos outros... Onde estavam meus segundos anos?! Eu nunca quis ser segundo ano, quis? Não, não é verdade, eu quis sim... Eu mal chorei na formatura, então por que choraria ali, agora? Mas era uma ardência quase que insuportável. Fui parar no último andar, que me parecia um calabouço, e a única saída era uma janela muito alta. Fiquei olhando-a por um momento e descobri como escapar: dei um pulo, fiz uma oitavinha nas grades e me prendi na curva da minha perna direita. De ponta cabeça, consegui abrir a janela e escapei para o lado do sol, onde Si-Jull ficava de pé em frente à sua mesa de DJ e todos os meus co-anos dançavam ali, na beira da rua.

Meus dias em Brasília me deixaram com mais saudade do que eu já tinha sentido nessas férias. Deixaram essa vontade de ir pra Mostar, de encontrar as pessoas que eu já encontrei, e me deu um medo de encontrar pessoas que eu ainda não consigo entender que eu vou encontrar. Quando cheguei no Aeroporto Internacional de Brasília, na quinta-feira, à tarde, encontrei Lucas (meu primeiro ano) e Gabi (sua namorada) apoiados na grade. Andei até eles, meio envergonhada, e falei "oi". Gabi contou-me que Lucas estava planejando sair correndo, antes que eu chegasse, porque, quando eu aparecesse, o UWC seria real pra ele e ele iria começar a compreender de verdade a sua ida pra Mostar. Mal sabem eles que, embora eu não soubesse, a minha sensação não foi tão diferente.
Na minha mente, eu conseguia aceitar muito bem a ida dos meus segundos anos e a chegada dos meus primeiros anos. soñar con mi partida y con tu llegada. Mas somando os pouquíssimos momentos em que passei com Lucas em Brasília e esse sonho que acabei de ter, percebi o quão assustador é. O quão assustador é preparar a Induction Week, ter essa responsabilidade nas minhas mãos... Pelo menos um dos rostos desconhecidos já me é um pouco conhecido...
E sinto falta de um abraço especial... Sinto falta de sentar num chão específico, dando risada com vergonha e com vontade.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

minhas flores de pensar

No estrondoso som da porta de vidro batendo, meu pensamento veio correndo de algum lugar. Me deu arrepios. Todas aquelas ideias zumbindo na minha cabeça, aqueles planos confusos que eu não consegui aceitar ou desvendar, e aquele entendimento sobre o retorno de uma parte muito grande da minha vida... A gente é sempre uma pessoa só, por mais mutável e camaleões que sejamos. Nossa vida nos guia de forma até repetitiva de vez em quando... E é nesse momento em que eu me encontro, percebendo o retorno de elementos que um dia foram tão importantes pra mim como são agora.
Mas aí eu me encontrei deitada na rede, pra não dizer que eu não falei das flores. Fui pega por aquela onda de cansaço e sono e pensei em tanto, em muito, em tudo, em alguns. Nem deu tempo de reflexões, porque a cada dia que passa, parece que eu levo muito mais tempo pra conseguir domar minha mente e convencê-la a refletir sobre a vida, sobre as pessoas, sobre alguéns mais especiais que outros. Me peguei com essa idea louca, que reconheço como quase uma besteira... Mas vou botá-la em prática, porque não pareço ter nada a perder nessa vida. E parece que minhas palavras fazem ainda menos sentido do que meus pensamentos.


quinta-feira, 4 de julho de 2013

brain damage e eclipse

Um dia eu estava ali, sentada em uma rede com dois homens que posso chamar de irmãos. Ficamos horas numa conversa de confidências e revelações muito únicas que não podemos ter fora daquele campo nosso, daquela energia nossa, debaixo da escuridão que a ilha trazia com aquele cheirinho de maresia e os barulhos da noite, dos quais eu tanto sinto falta na cidade. Aquela nossa energia foi cortada quando a voz do Caetano Veloso - aquele Caetano que encheria minhas madrugadas de sonhos e arrepios enquanto lia 'Verdade Tropical' - saiu pela 90ª vez da caixa de som, e os meus dois pularam da rede e correram pra trocar a música antes que aquela voz enlouquecesse a todos nós.

Era

Caetano Veloso (artista)
Odeio (nome da música)
(Álbum)


Num outro dia, eu estava aqui, passando noites fora com amigos. Sentei na beira da piscina enquanto minhas amigas dançavam umas músicas que me faziam pensar "Eu não vim da Bósnia pra isso" e Clara disse exatamente aquela frase, como se lesse a minha mente, imitando minha voz. Dei risada e pensei que as férias deles significava algo pra mim. Comecei com aquele "tendo saudades daquilo que nunca mais terei": aquela sensação de adentrar o pátio do Santa Cruz e avistar vários amigos sentados nos bancos, nas mesas de pique-nique, na grama, debaixo do sol, na fila da cantina... E João (UWC Adriatic 2010-2012) havia me falado com um sorriso: "Quando eu vim entre o primeiro e o segundo ano, eu ainda saía só com o pessoal do Santa". E eu peguei naquela estrangulação da 'realização': será que eu estou vivendo os "últimos" outra vez? Como vivi no ano passado, nessa mesma época do ano... É, da próxima vez que eu vier vê-los, eles estarão na faculdade, saindo com pessoas de fora da bolha Santa Cruz - e eu até diria finalmente -, seguindo com as vidas...

Num outro dia, eu estava tomando um ônibus pra um lugar muito conhecido. Fui recebida por um rosto mais conhecido ainda e em seguida recebida por uma amada cachorra correndo na minha direção. Foram dias deliciosos deitada no sofá, lendo, tomando um café preparado pela Gi, fazendo carinho na Atena (minha fox-paulistinha/boxer), irritada com o meu computador (que resolveu achar que todas as cores são mais bonitas quando elas são rosas), conversando sobre coisas doidas de Sofia, Tomás e Gi... Também pude comer fondue com meus avós, conversar sobre Mostar (e batia uma saudadezinha... mas com aquela sensação de que nada que eu contava era mesmo real... como um sonho), ganhar um cachecol lindo vindo de Buenos Aires (mas Made in China, como minha avó constatou).

Num outro dia, estava pegando o metrô na Liberdade com um amigo querido. Subimos o escadão na Vila Madalena admirando os grafites e fazendo nossos planos de projetos artísticos: de grafite e de vídeo. Nós dois: uma mistura explosivamente divertida. Deitamos no chão do quarto dele, colocamos o LP do Dark Side of the Moon pra tocar na vitrola, nos cobrimos com um cobertor (eu com o pé na cara dele, ele com o pé na minha) e dormirmos na hora da transição de Brain Damage para Eclipse.

Num outro dia, estou embarcando para Brasília... pra conhecer a terra da minha irmã e a capital do país em que eu nasci (cansei de falar que o país é 'meu', porque é 'meu' coisa nenhuma). E também - e principalmente - pra conhecer meu filhote, meu primeiro ano, o herdeiro da minha posição como única latinoamericana no UWC Mostar. Sinto - e acho que é mútuo - que nos daremos extremamente bem. Não sei que tipo de segundo ano eu serei, mas sei que vou dar muito de mim para ajudá-lo com tudo o que precisar, dar o apoio cultural e linguístico que eu não tive...

É, tempo de reflexão e de demoras. João diria "É... tá acabando". E eu diria: "só tô na metade das férias, e ainda tenho meses e meses de experiência UWC.".
Nesse friozinho de São Paulo (que finalmente veio!), só consigo pensar no calor insuportável que terei que encarar em Mostar daqui um mês e meio... E não vou me prolongar nessas coisas daqui, porque preciso me atualizar sobre o Egito (e que golpe!) e fazer não sei mais o que...

PS: queria constatar que embora minha vida seja muito sobre o UWC, nem tudo nela é relacionada à Mostar, ao IB e ao UWC. Mas como esse blog tem essa finalidade, continuemos com isso mesmo nas férias.