domingo, 31 de março de 2013

the dragonfly it ran away but it came back with a story to say

O jeito mais fascinante de aprender algo sobre a cultura ou o país de alguém é sentar no meio da madrugada na cozinha e descobrir tantas coisas. Passei pelo menos duas horas comendo batatinhas (a versão bósnia de Ruffles) e olhando Baghdad no Google Maps com o querido Ibrahim. Ele me mostrou todas as mesquitas, maravilhosas, feitas de ouro e tudo mais. Mostrou a cidade e os lugares de Baghdad que foram bombardeados durante a guerra; Me mostrou onde perdeu seu avô e seus amigos por conta das bombas e onde ele próprio foi ferido. Mostrou a cicatriz no seu braço e eu vi o ódio nos seus olhos: o ódio por aqueles que ele perdeu e o ódio pelos atos do governo dos Estados Unidos. Ele é talvez um dos únicos aqui no colégio que tem certo desprezo pelos Estados Unidos e acho que ele tem seus claros motivos...
O Iraque é um país lindo! Ibrahim mostrou-me várias fotos do Norte e até mesmo de Baghdad e fiquei completamente encantada com as cachoeiras, os vales, as montanhas e as mesquitas. Quem sabe um dia...

Páscoa monótona. Passaram-se três dias em que troquei poucas palavras com Aisa, graças ao fato de que um armário e fones de ouvido nos separam. Foram dias em que Musala esteve absurdamente vazia, somente ocupada por aqueles que necessitam de visto para viajar para fora do país (e até alguns destes se mandaram para algum lugar no interior da BiH). Todos os locais se foram, exceto por Aisa e Adis. E eu fui destinada a ficar aqui porque meus pais são teimosos e o único jeito que eles têm de me controlar é me manter nessa cidade (eu sei que eles vão ler isso e ficar bravos comigo, mas eles sabem que é a verdade). Até Markéta que ia ficar comigo acabou se unindo a Mario e indo para Zagreb de última hora. E eu aqui fiquei: na minha cama, dormindo e tossindo. Pelo menos tive a oportunidade de sair pra jantar com pais de amigos.
Na quinta-feira, estava no quarto com Markéta e Mario quando Bo entrou acompanhada de seus pais convidando eu e Marké para jantar em ABC, uma pizzaria muito boa. Nos encontramos lá e tivemos um jantar adorável. Os pais de Bo são incríveis e pude entender um pouquinho do por quê de ela ser essa pessoa tão extraordinária que ela é. Markéta teve que sair no meio do jantar pra tomar o ônibus, mas fiquei lá compartilhando histórias brasileiras já que os pais de Bo viveram um ano em São Paulo, trabalhando numa favela em Campo Limpo, e também visitaram Ouro Preto e outros cidades. Na realidade, Bo foi concebida em São Paulo, pelo que eles me contaram!
Saímos de ABC e fomos a No Flash, um bar com um clima muito bom. Depois de um tempo, Si-Jull e Maja, uma jornalista nascida em Banja Luka que migrou pra Alemanha e veio pra Mostar para escrever uma matéria sobre UWC Mostar, apareceram e juntaram-se a nós. Os pais de Bo partiram e eu tive a oportunidade de conversar mais com Maja, que já havia encontrado algumas vezes durante sua estadia de dois dias... Ela é uma pessoa muito interessante e adorei ouvir seus motivos para ter se tornado uma jornalista e ter estudado Mídia. Basicamente, o que ela me contou foi que ela acha que a mídia é uma arma poderosa e ela deve estar no poder de pessoas que não abusem desse poder. Questionei, no entanto, sobre sua liberdade como escritora e como jornalista. Ela torceu o nariz e me disse que exatamente por isso ela escolheu trabalhar para a mídia pública da Alemanha, que é uma coisa mágica: o governo tem que garantir que essa mídia (televisão, rádio, jornais...) exista, porque, segundo a constituição, se ela não existir, a mídia privada é proibida de existir. Mágico, não?! Fiquei chocada e não me segurei: tive que rir. Quando que uma coisa dessas aconteceria no Brasil? Só na Alemanha mesmo.... Maja também viveu por um tempo em Barcelona numa residência lotada de Latinos e deu risada ao ouvir eu dizer coisas que só Latinos dizem, como criticar o fato das pessoas chamarem os EUA de "América" (algo que faço com muita, muita paixão).
Maja partiu na manhã seguinte, deixando pra trás boas vibrações e um artigo em alemão na mídia pública alemã sobre um alemão/coreano e sua vida numa cidadezinha no sudoeste da Bósnia-Herzegovina.

No sábado (ontem? hoje?), Jochem voltou de Dubrovnik, trazendo suas duas irmãs, seus pais e seu avô. Ele chamou alguns de seus amigos mais próximos, o que se resumiu a três pessoas, já que o resto está por aí: eu, Pasha (Russia) e Kim (Países Baixos). Fomos a Del Rio e tivemos um jantar delicioso no qual pude conversar com Martha e Bibi, irmãs mais novas de Jochem, que são ativas CISVers e já fizeram diversos programas. Numa dessas conversas, descobri que conheci Martha no México em 2011, no aeroporto, ambas voltando para casa depois de nossos programas cisvianos! Loucura! Ficamos brincando com Jochem: Martha falando que me conheceu primeiro e por isso ela é mais legal. Enfim... Também tiramos muito sarro de Jochem e seus casos (são muitos com muitas mulheres diferentes) e eu contei pra elas um pouco de como ele se comporta em Mostar. Jochem deu risada ao dizer que se arrependeu de me levar pro jantar, mas eu sei que ele não se importa, que eu sou como sua terceira irmã. Depois do jantar, convenci Jochem a levar suas irmãs pra Hemingway's. O bar estava vazio, mas pudemos mostrar um pouco da vida de Mostar.

Pra completar o fato de eu não poder sair dessa cidade nublada por conta de minha menoridade e o fato de que eu não consegui achar ovos de chocolate em Mostar que não sejam os mini kinder ovos que você encontra em qualquer época do ano; meus amigos no Brasil estão curtindo a Páscoa deles num festival simplesmente irado. Não pude ir no ano passado e, ha, muito menos nesse ano. Maldito Lollapalooza. The Killers, Black Keys, Of Monsters and Men, Pearl Jam, Vanguart e tantas outras bandas.
E eu não quero jamais, jamais mesmo, voltar para a escola... Minha motivação para estudar se enfiou no poço enquanto tenho duas apresentações para preparar, mil poemas pra ler, dois lab reports para escrever, lições e lições. Essa Páscoa me deixou meio abismada, quando alguns de meus segundos anos receberam suas respostas para universidades Ivy League. Muitos deles entraram. Minha segundo ano da Albânia, Herda, entrou em Harvard; Liza (EUA), Ali (Paquistão), Antonija (BiH), Stefan (BiH) e Herda entraram em Brown; Herda também entrou em Stanford... Kim (Países Baixos) entrou na sua "dream choice" university, que não é uma Ivy League, mas chama-se Lewis&Clark e é uma universidade que parece bem interessante, sobre a qual ouvi falar quando Sam, um novaiorquino cisviano, passou alguns dias em casa. Liza também entrou na sua "dream choice", Tufts, assim como Marko (BiH). Ric, meu segundo ano brasileiro no Atlantic College, entrou em várias Ivy Leagues (orgulho!)... Todo esse clima de universidades e de segundos anos finalmente sabendo seu futuro (gap year, university, o que seja) muda também o clima pra nós, primeiros anos. Já vi alguns de meus co-anos ficando preocupados quanto a universidade, já que alunos muito, muito bons foram recusados por várias universidades...

quarta-feira, 27 de março de 2013

famílias, castelhano e dia especial

Um dia especial: uma aula de biologia que passou rapidamente, um workshop interessante sobre Interfaith Dialogue dado por uma segundo ano da BiH chamada Vedrana, uma prova de História um pouco catastrófica, mais um pouco de workshop e pizza pra finalizar; Algumas horas em Jump Jump com Jochem, depois Bo e por fim Davor, cuidando de preparações pro Festival de Arte de Rua e conversando sobre os problemas na escola. Depois eu e Mojmir resolvemos fazer juz ao nosso Clowning CAS e ir ao Orfanato chamado "Vilarejo Egípcio", onde demos um workshop de malabares que não deu muito certo e foi um tanto quanto frustante.
Mas aí eu peguei ouvindo uma música chama "Dia Especial".

Mas te vejo e sinto
O brilho desse olhar
Que me acalma
Me traz força pra encarar tudo
Mas te vejo e sinto

E pode soar como uma música romântica, mas ela fez tanto sentido pra mim nesse dia, quando, depois de ter passado uma hora no novo sofá de Musala conversando com Bengisu e nos atualizando uma na vida da outra, fui pra Old Man's pra encontrar os queridos Mediterraneans e suas famílias. As famílias de Yuval, de Aurelia de Uri, de Tamar e de Carme estão em Mostar! As famílias de Bo e de Jochem também estão vindo para a Páscoa! Enfim, nos juntamos todos em Mostar, numa mistura louca de caras novas e energia positiva. E me dei conta de quanto Ctrl C + Ctrl V os nossos genes fazem! Meu pai, os irmãos ali eram todos iguais! O irmão de Uri igualzinho a ele, o irmão de Aurelia igualzinha a ela, o irmão de Carme igualzinho a ela, o irmão de Ogi igualzinho a ele... E que noite, que olhares que servem de calmante e de energia e vontade pra alma, pra encarar esse mundo doido... E ainda tive a oportunidade de falar em castelhano numa velocidade rapidissima com o irmão mais novo e fofíssimo de Carme, que tem 9 anos!

Mas ter ido no Egyptian Village me fez lembrar da crueldade, do sofriemento e da solidão. Vou dormir pensando em tudo isso: nas famílias maravilhosas que conheci e nas crianças que decepcionei.

Sonhei que as pessoas eram boas
Em um mundo de amor
E acordei, na terceira Guerra Mundial.

terça-feira, 26 de março de 2013

"Coreia do Norte ameaça atacar os EUA e ilhas norte-americanas no Pacífico"

Aparentemente, o fato de que eu convenci mais da metade das nações presentes na General Assembly, no Domingo, a votar contra a resolução que impunha sanções sobre a Coreia do Norte fez a República Democrática Popular da Coreia realmente ameçar os Estados Unidos na vida real. Eu e Maud rimos pra não chorar do fato de que aparentemente previmos o futuro do mundo e todos os representantes dos P5 ficaram chocados quando a resolução foi vetada, achando que não poderia ser mundo real.

Vou tentar brevemente resumir os eventos da MUNiM.

Na sexta, não tivemos aula e começamos os debates nos Councils logo de manhã e ficamos o dia inteiro. Foi bem difícil defender a Coreia do Norte, especialmente porque os países do SC que poderiam até ser a favor da CN não estavam presentes (algumas pessoas simplesmente miaram de vir e não apareceram, tipo Marroco, Afeganistão, Iraque...). Basicamente, os únicos países que estavam ao meu favor (não representando muito bem a realidade, mas ok) foram o Japão, a Palestina (nem é um país...), Togo (?) e Ruanda (?). Tive a sorte de que esses países eram representados por pessoas muito boas em public speaking: Gwenno (Gales), Maud (França/Itália), Weronika (Polônia) e André (Alemanha/França/Reino Unido). Basicamente, os Estados Unidos e a China destroçaram a gente, considerando que de fato Ali (Paquistão) e Erika (EUA) eram os melhores delegates de MUN presentes no SC. Mas juro que eu tentei e consegui fazer emendas e amenizar o embargo econômico imposto sobre a Coreia do Norte.
À noite, tivemos uma festa bem louca em Next e antes disso passei umas boas duas horas sentada em Spanish Square com Bo, Markéta e Amber, algumas das minhas pessoas favoritas, só conversando sobre o começo do ano e coisas doidas da vida que queremos fazer.

Security Council
Na manhã seguinte, começamos o outro tópico: Irã e Israel; Devo dizer que foi bem catastrófico já que as delegações do Irã E de Israel eram péssimas e não falaram basicamente nada E ASSINARAM A MESMA RESOLUÇÃO. Não, só não pode ser verdade. E basicamente, eu e Maud nos unimos como Coreia do Norte e Palestina contra a resolução, mas claro que não deu certo e o debate foi bem chatinho. A única parte interessante do debate foi por conta de um dos termos da resolução ser o reconhecimento do Estado de Israel e a Maud, como Palestina, tentou mudar esse termo para o reconhecimento da Palestina também e rolou um debate... Mesmo pelo fato de ter sido uma simulação de crise e Israel ter supostamente invadido o Líbano, irritando profundamente o Irã, nada foi muito interessante e até Quinten estava absolutamente entediado. Na verdade, devo dizer que a melhor parte do sábado foi ficar conversando por bilhetinhos com Bo e Markéta. Nenhuma das duas realmente curte essas coisas (MUN), mas Bo acabou fazendo parte da Conferência de último minuto pra substituir a delegação da Australia que não apareceu (já que a Australia é um dos países que vota no SC esse ano) e Markéta foi a mensageira (basicamente levando bilhetinhos de um lado pro outro da sala ou trazendo água pras pessoa).

Eu e Markéta em Global Vision cantando "Pokoj v dusi"
No sábado à noite, tivemos Earth Hour (um pouco brega e clichê, mas foi surpresa e super legal) e a tal Global Vision que foi sensacional! Simplesmente pessoas aleatórias indo no palco e cantando, no karaokê ou não, qualquer música. Na verdade, eu e Markéta fomos as únicas que fizemos algo de verdade, que não foi pura brincadeira... Antes de dormir, tive um momento delicioso com Liza (EUA) debaixo das cobertas, tendo conversas doidas;

Domingo foi O dia! Estreiamos o City Hall, que é um prédio gigantesco do lado do prédio da escola, que NUNCA havia sido utilizado depois da guerra! Fomos os primeiros! É um prédio super chique e usamos para a nossa General Assembly, que foi loooonga, mas me interessou bastante. E foi nessa Assembleia que todas as resoluções passaram, exceto pela resolução impondo sanções sobre a Coreia do Norte. E devo dizer que eu e Damir (BiH) trabalhamos pra que isso acontecesse. Damir é meu segundo ano que é simplesmente apaixonado pela ideologia de esquerda, tem posters do Che, do avô do Han Sol, de Fidel e outros na sua parede... E os chairs não escolheram ele pra representar Cuba sem querer! Eu tive que subir no pódio pra dar um discurso contra a resolução e simplesmente apelei muito, acusando os Estados Unidos de tentar começar uma nova Guerra Fria, destruindo qualquer poder nuclear e tentando acabar com qualquer tipo de regime que se opusesse ao capitalismo. É, apelei e o Damir foi na minha. Demos muita risada e saímos do prédio pra cantar "el pueblo unido jamás será vencido" debaixo do sol! Han Sol deu muita risada quando contei pra ele mais tarde que eu havia salvado o país dele de um embargo econômico!

Todo mundo pós General Assembly em frente ao City Hall

Domingo à noite, mais uma vez saí com Amber, Bo e Markéta, mas dessa vez com a companhia também de André. Nos divertimos absurdos e eu voltei pra casa morta, de ressaca de MUN, não sabendo mais quem eu era e me referindo a mim mesma sempre na terceira pessoa...

sexta-feira, 22 de março de 2013

você pousa mariposa morna, lisa

Quando contei pra minha segundo ano que estuda na Noruega que amanhã começa a nossa Conferência do Modelo das Nações Unidas (MUNiM - Model of United Nations in Mostar), também contei que eu representarei nenhum país mais, nenhum país menos que a Coreia do Norte. Ela ousa me mandar um link que me faz chorar de rir do lado de Maud, que vai represar a Palestina na sessão de amanhã. Basicamente: "Quando sou Síria/Irã/China/Coreia do Norte e acho um aliado"

Mas bom, como eu disse pra Kelly, amanhã a Conferência se inicia às 8h30. Por isso que tenho uma garota fofa no meu quarto chamada Donia, vinda de um colégio IB no Egito, que veio participar da nossa Conferência. A Donia não só fala árabe fluentemente, mas também francês, italiano e inglês... Humilhação. Mas ela é uma fofa, assim como as outras duas egípcias que vieram para a Conferência, Amina e Derya. Essa segunda na verdade é turca e provavelmente será nossa firstie, pois seu pai é diplomata e está vindo morar na BiH. Mas enfim, ainda vou conhecer mais 60 pessoas que vieram pra Mostar para essa Conferência e serão três dias sensacionais!

Além do fato de que eu terei que representar a Coreia do Norte amanhã no Security Council, numa sessão cujo tópico é "O Programa Nuclear da República Popular Democrática da Coreia e as consequências de seus testes nucleares em 2013". Hm, sounds complicated, yo sé. Por isso, entrei de supetão no quarto #3 de Musala hoje, pedindo pra um coreano que jogava Call of Duty (numa conta chamada "Los Terroristas"... piada esses meus amigos) me explicar tudo sobre a visão do tio dele. Ha, parece piada, mas é sério que o tio dele é ninguém mais ninguém menos que o ditador da Coreia do Norte. Achei engraçado que tudo que ele me falou sobre representar o país dele parece como a representação dos EUA (algo do tipo "meu país é melhor e blablabla"). É, bons, esses poderes mundiais, vai entender...

Amanhã à noite teremos a MUN Party que vai ser simplesmente animal já que temos tantos visitantes! Mal posso esperar! No sábado, o Security Council vai dar início à discussão sobre Israel&Irã. No domingo, fechamos a conferência com a Assembleia Geral.

Estou muito ansiosa. Meu "chair" é o Quinten, meu querido segundo ano holandês, com o qual passei duas horas jogando War (ou como eles chamam aqui, Risk) no lobby do Hotel Bristol na segunda-feira. O cara me destroça se eu mandar mal como Coreia do Norte. Pressão. E outra pressão é ter passado uma hora no porão com Markéta, ensaiando pela primeira vez (e na verdade escolhendo) a música que vamos tocar no Global Vision (imitação do European Vision) no sábado à noite. Acho que mandaremos bem com nossa música eslovaca, se eu acertar no meu solo de violão que eu tirei depois de voltar de uma tarde intensa em Susac.


Gender Days acabaram hoje com uma sessão deliciosa na biblioteca da escola com amigos muito próximos, lendo poemas sobre todos os assuntos discutidos durante a semana e debatendo-os ainda mais.
Ontem fui adicionada no Facebook pelo meu primeiro ano norueguês que por acaso é um CISViano e tem muitos amigos em comum comigo! Na verdade, ele fez Village em SP exatamente um ano depois de mim e mal posso esperar pra ter ele aqui comigo, Sjur e Jochem: expandindo nossa comunidade cisviana no UWC Mostar.

Tensão crescendo na escola. Amigos um pouco desesperados recebendo emails inesperados. Piadas sobre superioridade, cócegas e uma porta fechada. Hamsters, bolos de chocolate e mapas. Também uma pitada de baixa auto-estima, caminhada solitária e nacionalidades. E um final bem misterioso desse post.

segunda-feira, 18 de março de 2013

os dias de cão acabaram

Acordar às 10h com a felicidade de o fazer só para assistir aula de história. Vestir-me e arrumar a cama ao som de Ed Motta ecoando pelas paredes do meu quarto num raro momento de solidão no quarto #4. Receber uma prova de História e me admirar com um resultado excelente: 7. Receber o segundo 7 depois do almoço, escrito numa prova de Biologia. Ficar até tarde no laboratório de Biologia com quatro amigos, cada um fazendo seu próprio experimento, mas todos ouvindo Dire Straits e se deixando levar por uma guitarra, uma canção, uma melodia nunca antes escutada e apresentada a eles por uma brasileira que inocentemente conheceu Dire Straits num avião anos atrás, através de um ipod irmão. Caminhar até Musala com Sarah e preparar um chá enquanto duas amigas descansam deitadas na minha cama. Descer para a cozinha de Musala e dar início aos Gender Days, com uma discussão chamada Gender and Sexual-TEA Discussion, sobre tantas culturas diferentes, especialmente sobre julgamentos, sobre igualdade, sobre estupro e atração...
Só um dia que me mostra o presente e que continua sem pausas. É a alegria de um dia de gato (e não sou eu que mio do lado de fora de Musala), de uma canção não ouvida há muito tempo... Um dia bonito que também mostra que o fim está próximo e outro começo virá quando recebo um email sobre a Introduction Week dos meus firsties...
E sabe, não é à toa que o presente se chama presente. O presente é realmente um presente, é o que você constrói pra você mesmo e se dá com gosto ou não. O presente requere entrega de si próprio e para si próprio. Que nome bonito que o presente tem...

domingo, 17 de março de 2013

"povos de comida deliciosa e política horrível"

Beleza etiópia


Querida dançarina da Namibia


Croata fingindo ser árabe


Membros da Semana Cultural da África, Oriente Médio e Ásia

Coreia do Norte, Indonesia, Hong Kong, Coreia do Sul e China



sexta-feira, 15 de março de 2013

semana de cultura vasta, discussões (sobre) políticas (horríveis), começo do inverno e antigo começo

Que semana...! Depois da segunda feira ter passado, a semana cultural da África, Oriente Médio e Ásia se iniciou. Terça-feira, algumas das atividades falharam por conta da chuva em Mostar, mas a discussão com Han Sol (Coreia do Norte, sobrinho do atual ditador) e Si-Jull (Alemanha, com pais que migraram da Coreia do Sul) sobre o conflito entre as duas Coreias.
Na quarta-feira, fiquei encantada ao ter uma aula completa sobre a história do conflito entre Paquistão, India, Bangladesh e Kashmir da boca de um Paquistanês e da minha professora de História que fez um mestrado na India sobre o tal conflito. Fiquei chocada pelo fato de que, antes dessas duas horas no porão de Musala, mal tinha ouvido falar sobre a situação desastrosa no Sul da Ásia. E é esse tipo de momento que me desperta uma curiosidade tamanha pelo mundo e pela História da humanidade, por entender todos esse conflitos, todos esses mal entendidos e essas teimosias de não abrir mão por medo da resposta do oponente.

Na quinta-feira, sentamos no IT Lab depois das aulas e assistimos Tweets for Tahrir, com direito a pausas no meio e explicações de uma pessoa que experienciou a Revolução. Lushik tem opiniões muito fortes sobre o regime de Mubarak, sobre a manipulação na educação e a manipulação de fazer todas as instituições políticas umas contra as outras. Depois do filme e das discussões, caminhei com Lushik até Musala e conversamos sobre o quão difícil parece ser para os europeus entender esse tipo de coisa. Uma revolução na contemporaneidade... Às vezes tenho a impressão de que os europeus nos acham animais incivilizados... Perguntas que me deixaram chocada vieram de bocas de Europeus que não conseguem entender um regime como o de Mubarak, muito menos entender as medidas tomadas pelo povo egípcio e todo o desenrolamento da Primavera, incluindo as falsas eleições, o bloqueio da internet e o controle louco do exército....

Depois do jantar, no mesmo dia, assisti metade de Diários de Motocicletas em World Cinema. É um filme maravilhoso do Walter Salles que conta a história da viagem de Ernesto Guevara pela América Latina antes de se tornar Che Guevara, o líder da revolução. Mas, bom, o motivo de eu ter assistido só metade do filme foi porque eu resolvi chegar na hora para a Jam Session que rolaria em Next (o nosso mais novo bar para atividades como festas). De manhã, eu havia saído de casa só de camiseta e resolvi sair de jaqueta, já que sempre esfria à noite. Ah, e também tive a genial ideia de sair de sapatilha. No meio do caminho, além da chuva que estava fraquinha e começou a aumentar, uma nevasca se inicia. Não só eu, mas todos nós ficamos em choque. Não só porque duas semanas atrás a primavera estava começando, estávamos andando de havaianas, shorts e camiseta, deitando na grama do parque e tomando sol, mas porque não nevou o inverno inteiro e DO NADA começa a nevar bem uma semana antes do início da primavera. Que diabos...?! A neve ficou presa nos meus dreads e chegamos em Next completamente ensopados e congelando. Meus dedos do pé estavam roxos e eu mal conseguia senti-los. Mas óbvio que a neve estava maravilhosa e linda caindo do céu.

Pra melhorar tudo, a Jam Session foi melhor do que qualquer coisa. Foi um dos melhores momentos no UWC em que unimos pessoas da nossa escola com moradores de Mostar tocando guitarra, bateria, baixo, tambor, saxofone... Percebi o quanto sentia falta de sentar com meus amigos e ouvi-los tocar violão e só fritar na música; a música: a coisa mais incerta e certa que existe na vida. Uri (Israel) arrasou na guitarra, como sempre. Também me impressionei ao ver pela primeira vez Davor (EUA/BiH) tocando bateria. Uri insistiu que eu me juntasse ao jam, mas eu tenho vergonha demais de tocar assim em público, ainda mais porque nunca realmente toquei numa banda. Mas eu fechei os olhos e deixei a música entrar suavemente nos meus tímpanos e percorrer todo meu corpo, sentindo toda célula e ouvindo toda nota, toda virada, todo tom...

Chegando em Musala, resolvi cozinhar um brigadeiro nos últimos 10 minutos antes do check-in. Levei a panela pro quarto de Markéta. Eu, ela, Saffron, Bengisu e Bo nos deliciamos com o doce brasileiro e logo depois resolvi dormir por uma hora antes de começar a estudar. Essa "hora" virou "seis horas". Levantei às 5h30 por conta própria e me deparei com o sol nascendo e a neve espalhada pelos telhados mostarianos. Tudo isso acompanhado de uma notícia que me deixou extremamente feliz e me fez voltar a dormir em paz até a hora real de acordar.
Essa manhã, talvez não tenha feito a melhor prova de Biologia, mas tive um momento incrível minutos atrás com meus co-anos. Não sei se já comentei aqui, mas considero Mário e Carme meus co-anos e nos choramos de rir no meio do Spanish Room, lendo mensagens mandadas antes dos nossos tempos de UWC.  Voltei atrás e li a primeira conversa entre eu e Mário (ele foi o primeiro co-year com quem eu entrei em contato) e Carme leu a primeira mensagem que ele mandou pra ela. É, isso me trás boas memórias e boas energias... Que semana...!

E pra terminar esse post (e essa semana), deixarei aqui uma citação que é muito importante na minha vida, no meu passado, no meu presente e no meu futuro.

Sempre que houver alternativas, tenha cuidado. Não opte pelo conveniente, pelo confortável, pelo respeitável, pelo socialmente aceitável, pelo honroso. Opte pelo que faz o seu coração vibrar. Opte pelo que gostaria de fazer, apesar de todas as consequências. Osho

terça-feira, 12 de março de 2013

loucuras do IB, alcances, arrogância e "deixadas"

Hoje foi um dia morto. Sempre que perco a voz, sinto que todas as energias em mim se esvaem. A única coisa decente que consegui fazer hoje foi corrigir a IA de Economia de uma amiga e ter uma conversa muito boa com Carme (Espanha) e nossa professora de História, Pauline. Conversamos sobre nossas EEs, que nós duas queremos fazer em History. Carme quer escrever sobre o conflito da Bósnia e, por isso, ficamos meia hora depois do final da aula conversando sobre o conflito e depois conversamos sobre a Guerra Civil Espanhola (que estamos estudando nas aulas) pela perspectiva da Catalunha em comparação com a perspectiva de outras regiões da Espanha.
Não vou me prolongar em explicação sobre termos do IB, porque não acho nada necessário... Mas basicamente IA é Internal Assesement, basicamente uma redação que vale tipo 25% da sua nota final, e que é corrigida pelo seu professor. A EE é a Extended Essay que eu traduziria simplesmente com Monografia. No sábado, tivemos uma palestra sobre a EE e estamos sendo forçados e escolher essa semana sobre o que queremos pesquisar e escrever. Começa com você escolhendo uma matéria, depois um tópico, depois uma "questão investigativa" e por fim escrevendo-a. É, jogaram isso na nossa cara, assim, super simples. Ah, eu tenho 10 dias pra decidir no que vou querer mergulhar desde agora até Março do ano que vem. Tão simples... Mas enfim, tenho quase certeza de que vou fazer em History (talvez em Peace&Conflicts). Meu problema é que tenho muitas ideias na cabeça: não se quero escrever sobre a Grécia Antiga e sua mitologia (pela qual sou fascinada), sobre O Príncipe de Maquiavel, sobre a ditadura militar no Brasil, sobre o impacto da sociedade portuguesa na sociedade brasileira, sobre a formação da identidade brasileira... Acho que são todos tópicos sobre os quais eu gostaria de pesquisar e não sei o que vão escolher.
Mas, bom, o motivo pelo qual o dia de hoje foi "morto" é por conta das loucas últimas duas semanas que eu tive, sem tempo pra fazer nada fora uma coisa. E agora que essa coisa passou (e foi sensacional!!!), parece que minha vida está vazia (o que é uma mentira, considerando o IB). Estou tão orgulhosa e feliz pelo evento de ontem e devo dizer que tive o melhor extended check-in, no telhado de Abrasevic com Si-Jull, Aurelia, Bo, Bengisu, Maud, Markéta, Jochem, Anita, Yuval, Ogi e Mojmir. Foi lindo quando nos abraçávamos e cantávamos e sentíamos "o amor da geração". Nada como se sentir em casa, como abraçar pessoas queridas, abrir os olhos e se dar conta da realidade, se dar conta da sorte em estar viva, em sentir, em amar, em querer e aspirar por tantas coisas. E eu sei que temos egos tão gigantescos, somos tão orgulhosos e nos achamos tão bons de vez em quando, mas somos capazes de alcançar tanto, mesmo com todo o criticismo e a arrogância.
Na verdade, devo dizer que tem me estressado bastante essa questão da arrogância: das pessoas acharem que elas entendem tão melhor as coisas do que outros, que se outra pessoa discorda da sua opinião, ela é ignorante e está completamente errada. Principalmente quando se diz respeito à arte. Mas como eu disse, os egos daqui parecem ser completamente enormes e a junção deles pode muitas vezes ser explosiva.

Ontem, me dei conta de que meus segundos anos vão embora logo mais. Eu sempre soube; sempre disse pra mim mesma que eu tinha que me preparar psicologicamente, não ficar muito apegada a eles (mas ser capaz de amá-los ao mesmo tempo); que não iria chorar na formatura deles, porque a vida segue e isso não pode ser uma coisa triste. Mas ontem, quando pessoas me disseram coisas tão bonitas e quando me enfiei num abraço delicioso de uma segundo ano que chorava absurdos, que me apertava com tanto amor, senti uma pontada em algum lugar e ameacei chorar. Quando juntei as forças pra soltar o abraço, recebi tantos mais. Alguns silenciosos com muito amor, outros tão felizes e orgulhosos, cheios de palavras bonitas e lisonjeiras. Senti algo indescritível que foi tapado pelo meu cansaço, que me impedia de sorrir com meus olhos e só me permitia sorrir com os lábios.
Não sei como vai ser olhar meus segundos anos fazerem as malas pra deixar esse lugar. Não sei como vou aguentar, porque eu vivo ao redor deles a maior parte do meu tempo. Óbvio que amo meus co-anos, mas 70% da minha residência é composta por segundos anos. Como vou deixar minhas roommates partirem e deixarem Mostar - me deixarem? Não sei. Não me gusta pensar sobre isso. Doí o coração, doí meus músculos, doí tudinho. Parece que não temos festas o suficiente, não temos finais de semana o suficiente nem  suficiente tempo livre para matarmos juntos antes do final do ano... Parece que a vida é composta por fases, que essa fase daqui um dia acaba pra outros e um dia acaba pra mim. They are the love generation.

sábado, 9 de março de 2013

falta de tédio, família UWC Brasil e firsties

Acho engraçado que esse blog às vezes fique tão parado... Ou só mencione uma coisa que eu ando fazendo. Talvez passe a impressão totalmente errada de que eu tenho algum tempo pra sentar na minha cama e não fazer nada, enquanto, na verdade, eu mal tenho tempo pra arrumar minha cama ou lavar minhas roupas. Daí acontece de eu ter uma semana como essa em que todas as minhas roupas estão sujas e eu tenho que pedir roupas emprestadas... Pois é, esse é o nível da correria da minha vida aqui.
Essa semana foi muito sobre abrir minha caixa de entrada e ter 40 emails novos depois de só 1h sem verificá-la. Parece loucura e eu até postaria aqui o motivo, mas, bom, não posso, porque meu first year pode estar lendo isso e ele não deve saber das coisas antes da hora... Mas digamos que organizar coisas requerem muito tempo e energia. Mas eu sobrevivo, mesmo sem ter tempo pra almoçar e às vezes jantar, mas a gente segue.
Essa semana me alegrou ao receber um pacote dos meus pais, com Havaianas azuis e meu macacão (colant) pra fazer tecido. Além disso, recebi cartas dos meus co-anos que estudam no UWC da Costa Rica, e me deixou extremamente feliz. A minha co-ano apareceu numa reportagem da CNN sobre o colégio. Muito orgulho, a Marcela é uma fofa! O André também é um fofo e eu fiquei muito orgulhosa por ele ter sido escolhido pra representar o colégio no Congresso Internacional do UWC que rolou duas semanas atrás. Também recebi um tablete de chocolate (divino!) da minha maravilhosa segundo ano que estuda no Red Cross Nordic UWC (Noruega). A Kelly é linda, me mandou não só o chocolate, mas uma ecobag (com algo escrito em noruegueses que eu não faço a menor ideia do que seja) e um presentinho surpresa (hihi)! Lembro de postar no começo desse blog sobre o sentimento de ser inserido na família UWC Brasil e é uma pura verdade: a gente é uma família. Sempre é uma alegria pra mim ter longas conversas no Skype com a Isa (UWC Maastricht), longos chats com a Ju (Pearson College), divertidíssimas conversas com o Mat (UWC USA)... Também sempre é bom ouvir do Greg (UWC Adriatic), que é um tanto quanto sumido, mas às vezes aparece e sempre me manda algo bombástico (essa semana foi a reportagem sobre a morte do Chavez que me deixou chocada) e xeretar o flickr da minha linda e artística co-ano no Mahindra, a Clara, que me mandou uma carta linda no começo desse semestre. O Flavinho é o mais sumido dos meus co-anos, porque no AC não tem wi-fi no campus, só nos IT Labs... Mas adoro falar com ele e ler o fofíssimo blog da mãe dele. Meus segundos anos são maravilhosos, mas um tanto quanto sumidos com seus deveres de segundos anos. Sempre falo com a Kelly (não se se sobreviveria se não falasse) e costumava falar muito com a Raísa e com a Sílvia, mas as duas somem.
Enfim, escrevi esse parágrafo porque eu estou toda amores com o UWC Brasil. E estou super ansiosa pra ter um primeiro ano, pra jogar truco, cozinhar brigadeiro e pão de queijo, dançar forró e samba, ouvir Chico, Caetano, Gil, Milton, Elis, Tom, Lenine... Só falta eu ter um firstie que curte funk e sertanejo hahaha Bom, eu também sou capaz de me adaptar a isso e vou amá-lo de qualquer jeito :) Enfim, nesse final de semana, as entrevistas em SP estão rolando e eu estou mandando energias positivas. Ontem, estava "trabalhando" em algo com minha co-year Chloe (Escócia/Inglaterra) e ela me contou que a mãe dela está entrevistando os candidatos no Reino Unido e que ela manda emails falando o qual maravilhosos os candidatos são!
Logo mais vou postar sobre a morte de Chavez, sobre como isso impactou os latinos e sobre como a morte é vista aqui em Mostar. Mas agora vou fingir que eu estou assistindo o filme no Spanish Room, nesse maldito TOK Festival que nós, firsties, temos que aturar num sábado de manhã... Eita IB.

terça-feira, 5 de março de 2013

mutação e subordinação

Nós somos 'seres sociais'. Podemos ser inseridos em ambientes em que nos tornamos alguém que não costumamos ser em nosso 'ambiente natural'. Temos discutido isso em Peace&Conflicts e todas as discussões sobre o Fascismo e o Nazismo tem me feito pensar nesse mesmo aspecto. Até que ponto nós nos controlamos inconscientemente de acordo com as normas da sociedade e as normas de convivência? Até que ponto controlamos nosso instinto violento? O "Experimento de Aprisionamento de Stanford" que estamos estudando com Dzenan me fez pensar muito nessas perguntas... Até que ponto somos influenciados pelo papel que nos é designado na sociedade? Pensando nas mulheres durante os anos 20 e 30 na Itália e Alemanha... a loucura de uma mulher ser somente responsável por cozinhar, criar filhos (que sejam perfeitos italianos ou perfeitos arianos) e cuidar da casa. Que merda era essa? Não consigo entender como uma mulher pode se render tão facilmente a algo assim, só porque milhões de posters estão espalhados pela cidade dizendo que você deve ser assim. E aí entramos também no mundo de George Orwell em 1984, todo o funcionamento da sociedade imposto por Big Brother e o papel doido dos funcionários dos ministérios... E também o resultado do "Experimento de Aprisionamento de Stanford", que mostrou como as pessoas viram absurdamente violentas quando devem interpretar o papel de um guarda de uma prisão, seguindo algo antes já visto em filmes e séries... E qual é o controle sobre nós, seres do século XXI? Além da internet, dos momentos escondidos atrás dos nossos computadores e dos nossos perfis em redes sociais...?

domingo, 3 de março de 2013

do lado de fora das paredes, independência e arroz


Old Town à noite

Eu e Bo "meditando" numa área proibida

Queria que o Tietê fosse um pouco mais parecido com o Neretva...

A guerra não pode ser encoberta...



sexta-feira, 1 de março de 2013

primavera que no llega

Nem sei que semana foi essa, com fatos que mudaram a continuação desta. Foi em Outubro que Snjezana ignorou nossos "nãos" e impôs que faríamos Hamlet, tanto first years quanto second years, e que Peya dirigiria a peça como seu IPP. Foram exatamente 4 semanas (uma por mês) que cada um de nós tentou erguer o dedo e deixar o mais claro possível que ninguém estava interessado em fazer Hamlet. Não só porque é uma peça arcaica (não digo que não é interessante, boa ou atual) mas porque o inglês shakespeariano, bom, não é inglês. Ninguém estava afim, ninguém tinha motivação e, no primeiro dia de ensaio, me senti numa conspiração que resultou no cancelamento da peça.
Por isso, meus planos de viajar com Bo e Markéta foram restaurados. Gostaríamos que Bengisu pudesse ir conosco, mas ela se encontra agora em algum lugar da Turquia, sentada do lado de uma cama de hospital e espero que toda a energia positiva que eu estou enviando pra ela esteja sendo efetiva. Daqui a 4 horas, partimos pra Dubrovnik com nada mais do que duas mudas de roupa na mochila da escola e alguns itens necessários. Fui pra Dubrovnik com meus pais e foi uma experiência bem diferente do que essa será, por estarmos de carro e por termos feito um programa bem família. Bo e Markéta são companheiras de viagem maravilhosas e mal posso esperar pra entrar na água gelada do mar adriático nesse ensolarado começo de primavera!
Que semana brutal de treinos, alongamentos e talvez nenhum estudo. Talvez eu tenha mandado muito mal na prova de Matemática, talvez razoavelmente bem. Melhorei a maioria das minhas notas nesse semestre! Finalmente conquistei meu 6 em Inglês - Linguagem e Literatura, 6 pra 7 em Peace&Conflicts, 6 pra 7 em História (tirei 17 de 20 na minha redação sobre o Japão!)... (lembrando que a nota máxima do IB é 7). Foi uma semana em que Pauline, minha incrível professora de história, foi parar no Egito com Quinten (Holanda) e Erika (EUA), acompanhando eles na MUN Conference pra qual nossa escola foi convidada (e financiada, obviamente)! Na sessão de World Cinema da semana passada, ela se desculpou e falou que precisava correr pra casa e fazer a mala porque tinha acabado de descobrir que ia pra Cairo no dia seguinte (já que Dzenan não conseguiu tirar o visto). Então essa semana não tive aula de história e percebi o quanto isso influenciou meu humor, já que as aulas sempre me prendem e despertam meu interesse.
Fora isso, bom, essa semana me levou a passar uma tarde inteira com Davor, nosso day student (um aluno UWC que não mora na residência, mas mora com sua família em Mostar), que é um grande amigo meu, mas que não costuma sair muito por conta da pressão da família. Fomos comer uma panqueca juntos e rendeu uma conversa bem prolongada sobre a formação de grupos no UWC Mostar e sobre a hipocrisia em se dizer cabeça aberta quando tantas coisas acontecem que provam o contrário.
A semana também me levou a ir tomar um café com Mateo (Croácia), que nos fez conversar muito sobre História, sobre a Croácia e os Bósnios-Croatas, sobre a crise na Europa... O Mateo é um cara mais quietão, que na verdade prefere observar, mas também é capaz de falar sem parar. Ele é um cara  muito realizado; Ele se entende muito bem, admite seus defeitos, seus erros e sabe reconhecer profundamente seu lado preconceituoso sem vergonha. Foi uma perspectiva muito diferente que eu nunca havia tido de alguém e ele me fez pensar bastante sobre relacionamentos e seres humanos.
Num bloco A, que é o bloco que praticamente todos os meus co-anos internacionais têm livre, sentamos em Jump Jump: eu, Maud, Ognjan, Uri, Lushik e Jochem, discutindo sobre se um artista deve ser menos valorizado por usar drogas, por se apropriar de uma medida externa pra buscar algo interno. Lushik e sua teimosia (que devo dizer, às vezes ser pura mentalidade minúscula que ela recusa abrir) afirmava que não conseguia confiar num artista se soubesse que ele, por exemplo, escreveu um livro chapado. Maud se revoltou profundamente. Uri e Ognjan, como os músicos da geração, tinham suas próprias opiniões, mas praticamente ficamos todos contra Lushik. Na verdade, me impressionei muito que ela tenha falado isso. Até porque não é tão simples assim e até porque você nunca vai realmente saber se um artista compôs/escreveu/pintou/apresentou sóbrio ou não. Não acho que a arte possa ser desvalorizado só por ter se apropriado de algo "externo" que possa simplesmente desinibir e liberar certas ideias que estão enterradas numa parte do interior que não é tão facilmente aberta.
A primavera meio que já começou e isso me deixa extremamente feliz. Passei tanto tempo sentada no parque, tomando sol e sentindo a brisa do inverno ir embora...