domingo, 7 de abril de 2013

somos jovenes y sabemos que jamás seremos vencidos

São 4h37 da manhã e eu provavelmente sou a única alma nessa residência que não está com a respiração constante embalada num sonho. Talvez porque a diferença de fuso horário tenha me mantido acordada até absurdamente tarde nessa semana ou talvez por conta da euforia que percorre minhas veias nesse momento, da alegria de estar aqui, daquele reconhecimento tão benvindo de amar esse lugar, de amar as pessoas e essa vida, da sorte de poder estar aqui. Um vídeo chegou a mim de alguém talentoso e batalhador que sonha algo que eu tenho, que eu conquistei e que respiro a cada minuto.

Amanheci com meu despertador reclamando que o sol já havia nascido. Faz dois dias que meu despertador e o de Aisa estão sincronizados, tocando exatamente no mesmo milésimo de segundo e isso tem nos feito despertar sorrindo uma pra outra, dando risada. Fui buscar o café da manhã na cozinha e enquanto esperava meu sanduíche tostar no grill, Bo entrou pela porta e decidimos sentar do lado de fora da residência, nas escadas, como fazíamos durante o verão. A luz do sol nos sobrevoava, como que nos consolando e dizendo "já passou a chuva. vai ficar tudo bem" e o céu azul mudou nossos humores de uma forma extraordinária. Por um ato expontâneo, pegamos nossos livros e fomos deitar no parque do lado da escola, na grama, debaixo do sol, lendo e conversando, como se fosse verão. Foi uma paz que me inundou naquela manhã. Foram aqueles raios que perceveraram na minha pele, que não foram o bastante pra me proteger de ser ventosa, mas que escaldaram uma parte em mim que há muito não via.

Minha decisão de passar a tarde em Susac me levou a passear por corredores entupidos por varais e por novos moveis que estão sendo colocados na residência. Também me levou a duas horas no skype com minha família, sentado no chão do quarto de uma querida Norueguesa que me contou com um sotaque engraçado que a coisa que eu mais falei durante as duas horas foi "tá bom'. E talvez meus planos para as férias estejam se tornando mais claras do que gemas. Um grande amigo ganhou um quarto novo só pra ele e agora Jochem vai ter uma festa 24h por dia, por conta de todos os seus visitantes.

Subi para o sotão para hablar español com minha querida catalã e levamos quase duas horas pra fazer o que tanto queríamos: escrevemos emails para todos os comitês nacionais latinoamericanos (de países que não precisam de visto para permanecer 90 dias na BiH) pedindo que nos enviem primeiros anos. Não só me diverti absurdos com Carme ao nos esforçarmos tanto para escrever o email, como criei esperanças para uma comunidade latina em Mostar. Carme e Mario sempre falam sobre o quanto gostariam de ter latinos, mas nunca tomaram nenhuma providência e eu empurrei nossos traseiros pra fazer isso e não podia estar mais contente. É claro que tenemos que lutar se queremos algo, já que não é minha diretora que vai tomar a iniciativa de mandar tais emails. Recebemos duas respostas já: de Nicaragua e de El Salvador. Foram respostas absurdamente positivas e nada surpreendentes: ambos comitês não têm condições financeiras de bancar as bolsas de tais alunos, então a escola teria que tomar providência. Aparentemente teremos que lutar um pouco, pero creeo que podemos hacerlo. Sueños.

Terminei um dia com um jantar em Del Rio com quase as mesmas pessoas com quem fui jantar lá na quinta-feira. Os pais de Mario nos convidaram pra jantar e fomos eu, Carme, Tamar, Jochem e Ogi. Pessoas queridas. Talvez os pais de Mario tenham ficado um pouco perdidos por não falarem inglês, mas eu e Carme tentamos puxar assuntos e fiquei encantada com a simpatia do casal de Extremadura. Mario e seus pais nos deixaram em Del Rio e ficamos para tomar um café e continuar nossa discussão sobre cavalheirismo, machismo e sexismo. Andamos até Old Man's e acabamos sentados no playground do parque dando tanta risada que atraímos o segurança do parque.

Deixei meus amigos caminharem para Susac vinte minutos antes do check-in e caminhei sozinha para Musala, ao som de Seu Jorge. Adormeci na cama de Bengisu e só fui acordar quando ela resolveu dormir às 3h. Desde então, estou acordada com a euforia no meu sangue e o amor latino e uma perspectiva de dias novos e ainda melhores do que todos que já tive aqui. Parece irreal.

Somos tão jovens y no sabemos lo que queremos. Pero sabemos que unidos jamás seremos vencidos. "Si luchamos podemos perder, si no lo hacemos estamos perdidos"  

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