sábado, 1 de março de 2014

memorijalni centar (ou última ponta do triângulo)

Parecia-lhe ridículo que não fosse capaz de escrever. Em vez disso, tirou o caderno da bolsa e começou a desenhar. E nem mesmo desenhar conseguiu, porque perdeu a completa noção de perspectiva. Aquelas linhas não faziam sentido. Tentou uma, duas, três vezes e acabou por se encontrar desenhando no escuro, sem saber direito onde deixava traços de grafite no papel. Finalizou o desenho com a rosa, a rosa deitada em cima de todos aqueles nomes. Nomes repetidos insólitas vezes.

E pôs-se a caminhar, notando finalmente aqueles blocos brancos. E, naquela escuridão da noite de sábado na beira da estrada, teve a sensação estranha de se encontrar na França, naquela manhã de agosto, enquanto andava de bicicleta por entre vinhedos. A sensação dos vinhedos: uvas abrochando, quase prontas para serem conservadas e transformadas em vinho. Algo nascendo, crescendo, vivendo. E naquele vinhedo francês, podiam-se distinguir os corredores que eram criados pela organizada formação dos arbustos. Tinha uma urgência de pular da bicicleta e correr por aqueles corredores, sem saber se encontrar naquele labirinto de vida e cores, debaixo do sol de verão.

Mas estava num lugar completamente diferente. E em vez de passear pelos corredores, se arrastava lentamente por entre os caminhos de ladrilhos. Paulatinamente, sem pressa, sem prece.

Parcela M5.

Sentia-se embriagada com aquela sensação de vazio que havia preparado dentro de si para uma invasão insueta que não viera. Deadly silence. Só ouvia o saco plástico amarelo batendo de encontro ao seu próprio corpo. Não havia nada para preenchê-la.

Tentava trocar o ângulo de visão, tentando se livrar da sensação do vinhedo. Mas não podia. Porque não havia direção na qual olhasse em que não pudesse distinguir corredores. Corredores formados por figuras vestidas de branco, imobilizadas, estáticas, empalhadas. Era isso que via e não aqueles polidos blocos brancos pontiagudos que preenchiam sua visão. Não conseguia escapar dos atrativos corredores que a puxavam para que corresse por entre eles, brincando de esconde-esconde. Eram figuras mortas deitadas debaixo da terra, gritando por socorro dentro de pedras brancas amadurecidas. Cortantes, falsas, esmaltadas.

8372.

Se encontraram no meio do caminho ("why that one?" "because... I don't know") e avançaram juntas. Eram só elas duas. I wonder what the empty spaces are. E torneiras, várias torneiras diferentes, sem sentido algum. Umas de rosca, outras de alavanca. Finalizaram juntas, de frente ao portão fechado.

“Should we go? I am a bit creeped out.”

A outra sorriu.

E, assim, partiram numa van policial - no mesmo dia em que pularam a cerca de uma capela. Era escuro e o vinhedo ficava pra trás, com o mesmo vazio pleno com que havia aparecido no horizonte antes do sol se pôr.

“I couldn’t understand how they can be all the same, while there are completely different stories behind each single one of them.”
“They were all the same in their death. They were all the enemy.”

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