Depois de uma semana fatigante, na qual a minha mente se mostrou muito mais exausta que meu corpo - pra contradizer tudo que já vivi nesse lugar -, parti. Na quinta-feira, após um trágico exame oral de inglês e um excelente de espanhol, deixei Mostar com Marta, Nouf e Paula. Outra vez (e provavelmente a última) para ir a Sarajevo. Nos encontramos outra vez em Ljubicica, naquele canto de Barščaršija, depois de termos passado pela padaria francesa e nos deliciado com croissants e pães maravilhosos. O que preencheu nossa tarde foi aquela sensação que tivemos enquanto nos aventurávamos por livrarias e papelarias... como crianças na véspera do Natal.
Acabamos em Gold Fish com nossos novos cadernos, escrevendo e escrevendo. Naquela mesma mesa. Com a mesma apreciação do silêncio, mas uma notável diferença na presença de cada uma de nós. E nos dirigimos à Chipas e, por fim, ao Guinness Pub. Como sabíamos que seria; como foi da outra vez. E quando deu meia noite, celebramos o aniversário de Marta, nascida no dia 29 de fevereiro, com quatro velas e meia. E várias višnjas. A noite acabou com "This is the A-R-E-A of L-O-V-E" gravado na parede. Feliz cumple, Martita!
Na manhã seguinte, parti para Tuzla com Bo e Markéta. Exatamente um ano atrás, havíamos nos aventurado juntas para Dubrovink e, ali estávamos, mais velhas, mais maduras (?). Um ano passado. Quando chegamos em Tuzla, Markéta partiu pra Belgrado e Bo e eu nos instalamos no Apartamant 03. Tuzla me deu uma nova noção sobre o país, com seus compridos prédios e seu espaço público mal utilizado.
Na tarde seguinte, pegamos o ônibus pra Srebrenica.
Background: Srebrenica é uma cidade no nordeste da Bósnia&Herzegovina, muito próxima à fronteira com a Sérvia. Resumidamente, durante a guerra, Srebrenica era uma enclave protegida da ONU. Grande parte da população era bosniak. Em 11 de julho de 1995, cerca de dez mil (de uma população de trinta e dois mil) foram assassinados. O genocídio mais recente da Europa. Os Países Baixos tiveram um papel muito importante em proteger a enclave (o que não deu muito certo) e, por esse e outros motivos, Bo sempre quis conhecer Srebrenica. E eu também. Mas foi um tanto irônico que acabássemos somente encontrando tempo para visitar a cidade no feriado da Independência da Bósnia. A mesma independência que influenciou a invasão sérvia no Leste do país.
Srebrenica não é nem de longe destruída e triste como imaginávamos que seria. Um pequeno vilarejo com uma população atual de cerca de duas mil pessoas. Cinquenta por cento bosníaca, cinquenta por cento bósnio-sérvia. Cirílicos e latim. Uma cidade fantasma, com algumas ruínas e várias casas reconstruídas. Vários cães perdidos, como em todas as cidades desse país. A atmosfera não era pesada como eu imaginei que fosse ser. E Bo e eu nos aventuramos a caminhar seis quilômetros estrada abaixo para encontrar o memorial do massacre. O resto é autoexplicativo (ou pode ser encontrado abaixo). E foi seguido por uma caminhada matutina a uma fortaleza, uma casa abandonada e uma fonte de água. E um retorno mágico a Mostar, com a alegria no peito. Refreshment.
PS: Por conta da minha câmera quebrada, não pude tirar verdadeiras fotos. Tirei algumas com a pequena câmera de Bo e com a câmera de Marta. Cá estão algumas.
Desenho de uma capela
Famosa água de Srebrenica
PS2: Vou guardar pra sempre na memória aquele sorriso vibrante, genuinamente alegre, no rosto de Marta após receber o presente de aniversário de Paula. Sou cursi e sei: mas há amizades que nos deixam felizes só de ver. E, naquele momento, em Gold Fish, eu sentia essa felicidade inexplicável por uma amizade alheia. Mas não tão alheia assim.
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