Corpos - corpuses - agonizam em silêncio. Estáticos, paralisados. Prendem o riso, o choro, a ânsia de se esconder. A ansiedade oculta detrás dos tons vermelhos e pretos. A luz pulsante e irritante acima de suas cabeças, esquentando o topo da nossa mente, o cérebro, os nervos que nos permitem memorizar nossas falas. Então seus corpos se misturam ao nossos, se aglutinam, se esgueiram por entre nossas pesadas excelências. Como sotaques do sul (e aquela minha cuia desaparecida). Nos invadem. E quase pulo da cadeira, achando que é a hora, mas ela segura minha mão com força e permanecemos ali nas cadeiras na lateral do palco. Ou da plateia.
Nos levantamos e caminhando para trás da placas pretas. E é então quando começo a sorrir inusitadamente. Porque não há cortinas, nem coxias, nem peça. Há nós, vaginas. Unidas.
Pussies unite!
E aqueles sussurros desesperados.
Pussies unite!
E aqueles sussurros desesperados.
Cantando, atiçados.
Com medo. Ariscos.
Somos peças fundamentais do que vem a seguir. Dos monólogos ensaiados de pedaços certeiros.
Há meu medo, o seu, o nosso.
Atrás das placas pretas, há abraços confortáveis (e outros nem tanto) de apoio.
Incentivo.
Atrás das placas pretas, pode-se ouvir a vibração de ossos. De corpos. De pele, mãos, pés. Tudo se mexe involuntariamente.
Atrás das placas pretas, pode-se tocar a invasão daquele cheiro de entusiasmo. Ilustrativo. Emergente.
Salta de corpo em corpo, de boca em boca, de passo em passo. Cafajeste. Nos suga.
Atrás das placas pretas, há a certeza de cheirar o que acontece do outro lado das placas pretas.
E é atrás da placas pretas em que vive a magia de estar no palco. Sem coxias, sem pressa, sem atraso, sem nervosismo. Porque somos vaginas. Somos cruas, puras, abertas, ansiosas. Somos inseguras. E estamos atrás de placas pretas, no aguardo do palco-plateia.
E termino a noite pensando que começos são melhores que finais. Mas digo isso pensando especialmente nas placas pretas e pensando no orgulho que tenho dos que me cercam.
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