domingo, 21 de julho de 2013

abalo, intensidade e cumplicidade

Voltei pra casa ontem com meu coração amarrado. Não era aquela dor que vem normalmente associada a despedidas; era uma dor completamente nova que pesava dentro de mim sem que eu soubesse explicar, enquanto me esforçava pra não fechar os olhos e dormir ao som daquela música no rádio do carro.
Voltei pra casa e mesmo com todo aquele cansaço me consumindo, precisei sentar e escrever, sabendo que se não o fizesse, não teria o mesmo efeito, o mesma transpassamento daquilo que me tomava e daquilo que eu botasse em palavras cuidadosamente. Salvei um documento de Word tendo a certeza de que o encontrarei daqui um ano e provavelmente chorarei quando o ler. Declarei toda aquela sensação de um bota-fora intenso, de medos, de esperanças, de decepções. Ao mesmo tempo, conversava com uma amiga israelense que estava à caminho de Jerusalém. Fui dormir ainda assim; abalada.
Me apaixonei pelos meus primeiros anos em poucas horas... No começo, não senti as vibrações da geração deles, admito. Não só eu, como outros. Mas não demorou muito tempo pra que eles se soltassem, pra que eles me impressionassem com seus potenciais, seus amores, seus pensamentos maduros. Sorria e ria. Sentei na beira da piscina com meu primeiro ano - aquele em todos os sentidos, brasileiro e mostariano - e joguei tanta coisa naquele espaço entre eu e ele. Cumplicidade, ele disse. E não mentiu. Senti a amizade latina (e esse amor que só nós parecemos conseguir viver) que eu não tive por um ano todo e quase chorei ao perceber essa ausência que eu sempre mencionei, mas nunca percebi de fato. A população de latinos em Mostar está dobrando (ou aumentando em 170%, como diria Fábio).
As dúvidas que eles tinham... dúvidas que faziam tanto sentido um ano atrás e que agora parecem tão... familiares - em todos os sentidos. Sentei no CCSP pela última vez nessa férias; um lugar que pra mim representou o começo do meu interesse em política e representa tanto encontros de UWC... Uma síntese em forma de espaço. O tour por São Paulo foi cansativo, talvez não tão produtivo quanto no ano passado, mas belo com a multidão de São Paulo, com os brasileiros que não são paulistanos se assustando com o ritmo das pessoas no metrô... Fui guia turística na minha cidade de origem. Vi meus primeiros anos pagarem o mesmo mico que eu paguei no ano passado (não o declararei aqui para não ter spoilers para possíveis futuros alunos).
Foi ao longo daquele dia que algo muito UWC foi acontecendo: abraços. Abraços são algo tão importante no UWC. No momento em que você começa a andar por aí abraçada a alguém que você acabou de conhecer, você começa a entender melhor o UWC, talvez. Porque a intimidade do UWC Brasil se dá de uma forma tão rápida e intensa, com abraços longos, beijos no topo da cabeça, sorrisos tão genuínos... No final do dia, nos entregamos a contar e revelar histórias de nossas vidas no UWC, enquanto os primeiros anos as ouviam com tanta atenção e curiosidade - e certa admiração. A tradicional festa na casa do Ricardo foi deliciosa.
A Casa da Amizade foi talvez centenas de vezes melhor do que no ano passado. Talvez porque o grupo era outro, ou talvez porque meus lábios involuntariamente se abriam num sorriso de orgulho, de felicidade, de amor pelo UWC Brasil, pela família que somos, pelo cuidado daqueles primeiros anos que se jogaram com muito amor naquela experiência de uma manhã. Borboletas de mosaico. Mosaico tão bonito quanto o mosaico da própria casa do Gaudi de Paraisopolis - sempre encantadora.
Trouxe todos pra casa. Meus primeiros anos, Kelly (RCN UWC 2011-2013) e Lud (UWC SEA 2011-2013) vieram pra casa numa verdadeira viagem de transporte público, na qual Wesley não conseguia falar uma palavra de tanta fome. Preparei um macarrão enquanto assistíamos a vídeos dos colégios. Fui declarada mãe UWC por Fábio que, no dia anterior, havia dito que eu era muito mais irmã do que mãe UWC. Sim, eu sempre quis ter primeiros anos. Sempre quis abraçá-los pra dentro da família, da mesma forma que fizeram comigo.
A confraternização foi fantástica. Mas tão diferente do ano passado. Rever meus selecionadores sempre é estranho e lindo ao mesmo tempo. Abracei-os e contei dos problemas do colégio. Chorei de rir com as fotos dos meus primeiros anos sendo expostas na apresentação e com suas reações ao vê-las. Discursos belos, envergonhados e profundos de uma forma tão superficial... Insisti na rodinha que fizemos na grama - num verdadeiro campo minado de cocôs -, que foi um fechamento do bota-fora e desejos de boa sorte pra todos, meus co-anos e primeiros anos.
Foi uma bota-fora muito, muito diferente do que vivi no ano passado. Não por ser melhor e pior: não é possível classificar. Mas porque a minha posição foi totalmente diferente. Porque da última vez eu era a inexperiente, a que olhava pros meus segundos e terceiros anos com uma brutal curiosidade... Dessa vez fui eu a admirada, a escutada, a interrogada. Foi diferente, lindo do mesmo jeito que foi no ano anterior. Estar na presença de meus segundos também é sempre mágico, sempre impressionante. Um bota-fora que me trouxe emoções fortes de vontade, de orgulho, de esperança de uma experiência UWC maravilhosa pra cada um desse lindos primeiros anos que o comitê brasileiro teve a perspicácia de selecionar.

 Fabinho (UWC SEA 2013-2015)

Vitoria (UWC Costa Rica 2013-2015)

Isadora (UWC Maastricht 2012-2014)

Lucas (UWC Mostar 2013-2015)

Fotos tiradas no trabalho feito na Casa da Amizade

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