Ontem, deitei debaixo do edredrom, na cama da minha querida irmã, e dei risadas saborosas ao telefone com um irmão recém chegado dos Estados Unidos, para visitar a namorada. Conversamos sobre tanto e tão pouco... E quando desligamos, duas horas depois, fiz um esforço pra fechar a veneziana da janela, virei para o lado e dormi.
Não é nada surpreendente que as imagens que se passaram em minha cabeça durante as minhas horas de sono tenham sido todas relacionadas ao UWC. Não é surpreendente porque, após passar 5 dias increíbles com brasileiros que fazem parte desse mundo e dessa sensação que é ser UWC, a vontade e a saudade de estar com pessoas que te entendem tão bem bateu muito forte. Meus sonhos me levaram a uma conversa com minhas amadas colegas de quarto, Aiša e Veronika, sentadas em uma cama, no nosso antigo quarto (#4 ou #8?), que estava parecendo um quarto totalmente diferente... E no sonho, eu percebi que estava vivendo um sonho, porque não entendia a presença delas, embora não quisesse que elas fossem embora. Abri a porta do quarto e olhei o cartaz pregado ali, onde antes havia os nossos nomes. Aquele não era o mesmo cartaz; era um cartaz marrom, com uns desenhos muito esquisitos, com o meu nome e mais quatro nomes abaixo dele que não tinham nenhum significado pra mim, mas, o mais importante de tudo, é que eles não eram os nomes de Aiša e Veronika.
No momento seguinte, estava entrando no quarto de Si-Jull e dando de cara com quatro rostos que eu nunca havia visto na minha vida. E me encontrei falando aquelas frases ridículas que os segundos anos começam a falar na frente de seus primeiros anos e queria me bater naquele momento. Mas eram rostos tão engraçados, tão distintos daqueles que eu tinha o costume de ver todos os dias... Eram todos europeus: branquinhos, loiros, olhos claros... E no meu coração, eu detestei eles.
Em seguida, estava descendo uma escada espiral, no escuro, e meu coração ardia, meus olhos queriam derramar lágrimas enquanto pensava em Anna, Colleen, Celia, Liza, Quinten, Markus, Pasha e tantos outros... Onde estavam meus segundos anos?! Eu nunca quis ser segundo ano, quis? Não, não é verdade, eu quis sim... Eu mal chorei na formatura, então por que choraria ali, agora? Mas era uma ardência quase que insuportável. Fui parar no último andar, que me parecia um calabouço, e a única saída era uma janela muito alta. Fiquei olhando-a por um momento e descobri como escapar: dei um pulo, fiz uma oitavinha nas grades e me prendi na curva da minha perna direita. De ponta cabeça, consegui abrir a janela e escapei para o lado do sol, onde Si-Jull ficava de pé em frente à sua mesa de DJ e todos os meus co-anos dançavam ali, na beira da rua.
Meus dias em Brasília me deixaram com mais saudade do que eu já tinha sentido nessas férias. Deixaram essa vontade de ir pra Mostar, de encontrar as pessoas que eu já encontrei, e me deu um medo de encontrar pessoas que eu ainda não consigo entender que eu vou encontrar. Quando cheguei no Aeroporto Internacional de Brasília, na quinta-feira, à tarde, encontrei Lucas (meu primeiro ano) e Gabi (sua namorada) apoiados na grade. Andei até eles, meio envergonhada, e falei "oi". Gabi contou-me que Lucas estava planejando sair correndo, antes que eu chegasse, porque, quando eu aparecesse, o UWC seria real pra ele e ele iria começar a compreender de verdade a sua ida pra Mostar. Mal sabem eles que, embora eu não soubesse, a minha sensação não foi tão diferente.
Na minha mente, eu conseguia aceitar muito bem a ida dos meus segundos anos e a chegada dos meus primeiros anos. soñar con mi partida y con tu llegada. Mas somando os pouquíssimos momentos em que passei com Lucas em Brasília e esse sonho que acabei de ter, percebi o quão assustador é. O quão assustador é preparar a Induction Week, ter essa responsabilidade nas minhas mãos... Pelo menos um dos rostos desconhecidos já me é um pouco conhecido...
E sinto falta de um abraço especial... Sinto falta de sentar num chão específico, dando risada com vergonha e com vontade.
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