Eu fui amarrada. Eu não saí da barriga da minha mãe porque não podia: haviam me costurado ali dentro, bem, bem amarrada e presa. Não queriam que eu fosse prematura como a minha irmã e olha no que deu: eu, nesse mundo grande; eu, na Bósnia-Herzegovina; eu, amando pouco e amando muito; eu, uma contradição insuficiente de amarguras e de amores eternos da vida; eu, que odeio o "eu", que odeio "I", - embora paulistano tenha mania de ler todo "e" como "i". Só me soltaram da barriga da minha mãe quando já não tinha mais jeito, e eu saí, pesada e chorosa. E hoje, encontro-me nessa parada cardíaca, desse lento sentir.
Parada cardíaca
Essa minha secura
essa falta de sentimento
não tem ninguém que segure,
vem de dentro.
Vem da zona escura
donde vem o que sinto.
Sinto muito,
sentir é muito lento.
Leminski
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