domingo, 31 de março de 2013

the dragonfly it ran away but it came back with a story to say

O jeito mais fascinante de aprender algo sobre a cultura ou o país de alguém é sentar no meio da madrugada na cozinha e descobrir tantas coisas. Passei pelo menos duas horas comendo batatinhas (a versão bósnia de Ruffles) e olhando Baghdad no Google Maps com o querido Ibrahim. Ele me mostrou todas as mesquitas, maravilhosas, feitas de ouro e tudo mais. Mostrou a cidade e os lugares de Baghdad que foram bombardeados durante a guerra; Me mostrou onde perdeu seu avô e seus amigos por conta das bombas e onde ele próprio foi ferido. Mostrou a cicatriz no seu braço e eu vi o ódio nos seus olhos: o ódio por aqueles que ele perdeu e o ódio pelos atos do governo dos Estados Unidos. Ele é talvez um dos únicos aqui no colégio que tem certo desprezo pelos Estados Unidos e acho que ele tem seus claros motivos...
O Iraque é um país lindo! Ibrahim mostrou-me várias fotos do Norte e até mesmo de Baghdad e fiquei completamente encantada com as cachoeiras, os vales, as montanhas e as mesquitas. Quem sabe um dia...

Páscoa monótona. Passaram-se três dias em que troquei poucas palavras com Aisa, graças ao fato de que um armário e fones de ouvido nos separam. Foram dias em que Musala esteve absurdamente vazia, somente ocupada por aqueles que necessitam de visto para viajar para fora do país (e até alguns destes se mandaram para algum lugar no interior da BiH). Todos os locais se foram, exceto por Aisa e Adis. E eu fui destinada a ficar aqui porque meus pais são teimosos e o único jeito que eles têm de me controlar é me manter nessa cidade (eu sei que eles vão ler isso e ficar bravos comigo, mas eles sabem que é a verdade). Até Markéta que ia ficar comigo acabou se unindo a Mario e indo para Zagreb de última hora. E eu aqui fiquei: na minha cama, dormindo e tossindo. Pelo menos tive a oportunidade de sair pra jantar com pais de amigos.
Na quinta-feira, estava no quarto com Markéta e Mario quando Bo entrou acompanhada de seus pais convidando eu e Marké para jantar em ABC, uma pizzaria muito boa. Nos encontramos lá e tivemos um jantar adorável. Os pais de Bo são incríveis e pude entender um pouquinho do por quê de ela ser essa pessoa tão extraordinária que ela é. Markéta teve que sair no meio do jantar pra tomar o ônibus, mas fiquei lá compartilhando histórias brasileiras já que os pais de Bo viveram um ano em São Paulo, trabalhando numa favela em Campo Limpo, e também visitaram Ouro Preto e outros cidades. Na realidade, Bo foi concebida em São Paulo, pelo que eles me contaram!
Saímos de ABC e fomos a No Flash, um bar com um clima muito bom. Depois de um tempo, Si-Jull e Maja, uma jornalista nascida em Banja Luka que migrou pra Alemanha e veio pra Mostar para escrever uma matéria sobre UWC Mostar, apareceram e juntaram-se a nós. Os pais de Bo partiram e eu tive a oportunidade de conversar mais com Maja, que já havia encontrado algumas vezes durante sua estadia de dois dias... Ela é uma pessoa muito interessante e adorei ouvir seus motivos para ter se tornado uma jornalista e ter estudado Mídia. Basicamente, o que ela me contou foi que ela acha que a mídia é uma arma poderosa e ela deve estar no poder de pessoas que não abusem desse poder. Questionei, no entanto, sobre sua liberdade como escritora e como jornalista. Ela torceu o nariz e me disse que exatamente por isso ela escolheu trabalhar para a mídia pública da Alemanha, que é uma coisa mágica: o governo tem que garantir que essa mídia (televisão, rádio, jornais...) exista, porque, segundo a constituição, se ela não existir, a mídia privada é proibida de existir. Mágico, não?! Fiquei chocada e não me segurei: tive que rir. Quando que uma coisa dessas aconteceria no Brasil? Só na Alemanha mesmo.... Maja também viveu por um tempo em Barcelona numa residência lotada de Latinos e deu risada ao ouvir eu dizer coisas que só Latinos dizem, como criticar o fato das pessoas chamarem os EUA de "América" (algo que faço com muita, muita paixão).
Maja partiu na manhã seguinte, deixando pra trás boas vibrações e um artigo em alemão na mídia pública alemã sobre um alemão/coreano e sua vida numa cidadezinha no sudoeste da Bósnia-Herzegovina.

No sábado (ontem? hoje?), Jochem voltou de Dubrovnik, trazendo suas duas irmãs, seus pais e seu avô. Ele chamou alguns de seus amigos mais próximos, o que se resumiu a três pessoas, já que o resto está por aí: eu, Pasha (Russia) e Kim (Países Baixos). Fomos a Del Rio e tivemos um jantar delicioso no qual pude conversar com Martha e Bibi, irmãs mais novas de Jochem, que são ativas CISVers e já fizeram diversos programas. Numa dessas conversas, descobri que conheci Martha no México em 2011, no aeroporto, ambas voltando para casa depois de nossos programas cisvianos! Loucura! Ficamos brincando com Jochem: Martha falando que me conheceu primeiro e por isso ela é mais legal. Enfim... Também tiramos muito sarro de Jochem e seus casos (são muitos com muitas mulheres diferentes) e eu contei pra elas um pouco de como ele se comporta em Mostar. Jochem deu risada ao dizer que se arrependeu de me levar pro jantar, mas eu sei que ele não se importa, que eu sou como sua terceira irmã. Depois do jantar, convenci Jochem a levar suas irmãs pra Hemingway's. O bar estava vazio, mas pudemos mostrar um pouco da vida de Mostar.

Pra completar o fato de eu não poder sair dessa cidade nublada por conta de minha menoridade e o fato de que eu não consegui achar ovos de chocolate em Mostar que não sejam os mini kinder ovos que você encontra em qualquer época do ano; meus amigos no Brasil estão curtindo a Páscoa deles num festival simplesmente irado. Não pude ir no ano passado e, ha, muito menos nesse ano. Maldito Lollapalooza. The Killers, Black Keys, Of Monsters and Men, Pearl Jam, Vanguart e tantas outras bandas.
E eu não quero jamais, jamais mesmo, voltar para a escola... Minha motivação para estudar se enfiou no poço enquanto tenho duas apresentações para preparar, mil poemas pra ler, dois lab reports para escrever, lições e lições. Essa Páscoa me deixou meio abismada, quando alguns de meus segundos anos receberam suas respostas para universidades Ivy League. Muitos deles entraram. Minha segundo ano da Albânia, Herda, entrou em Harvard; Liza (EUA), Ali (Paquistão), Antonija (BiH), Stefan (BiH) e Herda entraram em Brown; Herda também entrou em Stanford... Kim (Países Baixos) entrou na sua "dream choice" university, que não é uma Ivy League, mas chama-se Lewis&Clark e é uma universidade que parece bem interessante, sobre a qual ouvi falar quando Sam, um novaiorquino cisviano, passou alguns dias em casa. Liza também entrou na sua "dream choice", Tufts, assim como Marko (BiH). Ric, meu segundo ano brasileiro no Atlantic College, entrou em várias Ivy Leagues (orgulho!)... Todo esse clima de universidades e de segundos anos finalmente sabendo seu futuro (gap year, university, o que seja) muda também o clima pra nós, primeiros anos. Já vi alguns de meus co-anos ficando preocupados quanto a universidade, já que alunos muito, muito bons foram recusados por várias universidades...

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