sábado, 29 de setembro de 2012

entre muros

Foi uma semana longa. Tão longa e tão curta. Mas devo dizer que a aproveitei muito! Tivemos inúmeros aniversários (aparentemente, na Europa, o povo engravida no ano novo e os filhos nascem em Setembro...) de pessoas muito queridas e estamos tendo também chegadas dos últimos co-years: Andra, de Kosovo, chegou ontem (ainda não tive a oportunidade de conhecê-la) e Hawi da Ethiopia e Mohammad do Afeganistão chegam amanhã! A boa notícia é que os três estão em Musala, o que significa que seremos não apenas 19 first years em Musala: seremos 22! UAU!...
A razão de eu não ter conhecido a Andra, que é praticamente minha vizinha, ainda é porque eu não estou em Mostar. Na quinta-feira, depois de ter tido 2 horas incríveis de Modern Dance, encontrei meus pais em frente ao Gimnasia. Depois de um mês, foi completamente natural encontrá-los e devo dizer que foi uma delícia mostrar Mostar para eles.
Ontem, pegamos o carro depois da aula (graças aos meus queridos free blocks, eu não tenho aula na sexta à tarde) e viemos pra Dubrovnik, na Croácia. Uma cidade litorânea maravilhosa que expira história. A primeira surpresa foi a quantidade de turistas em puro final de Setembro. A segunda foi perceber que MUITOS desses turistas são brasileiros. E a terceira foi de cair o queixo: a beleza dessa cidade. Não me refiro à cidade em si, mas à Old Town, que é bem maior e completamente diferente da de Mostar.
É uma cidade fundada por volta do século IIX (mas também se diz que a cidade já existia antes de Cristo...) que foi destruída e reconstruída diversas vezes por conta de guerras e terremotos. Foi um importante posto de abastecimento do Império Veneziano (na época em que Veneza era cidade-mundo e mesmo antes). A cidade foi muralhada no século XII e é exatamente como eu imaginava um feudo. Simplesmente incrível!
Ontem à noite, depois de descer vários lances de escada (Dubrovnik é uma cidade absurdamente íngreme, é mais ou menos como eu imagino a Grécia), alcançamos a rua principal da Old Town, chamada Placa ou Stradun, e nossos queixos caíram. Além da beleza óbvia da Torre do Sino e das catedrais, a Old Town é inteirinha feita de pedra branca.
Passeámos bastante pela Old Town ontem e hoje. Hoje, demos a volta completa na cidade pelo alto, pelos corredores de vigilia e eu me senti... feudal. Os buracos nos muros são exatamente como eu imaginava para que os vigilantes pudessem ver o que estava fora dos muros e também para que puderem atirar. E o Mar Adriático... uau... sem palavras pra cor e pra beleza disso...
A vantagem desse final de semana, além de poder passar tempo com meus pais, obviamente, é poder ter condições boas de vida novamente. Comi zero frango desde quinta-feira, tomei suco em todas as refeições, tomei banho em chuveiro que não é na altura do meu umbigo, tomei um café da manhã decente que não foi croissant de chocolate (não me entenda mal, croissant de chocolate é uma coisa muito decente, mas não pra comer todo dia de manhã)... Colocando dessa forma parece que a vida em Mostar é ruim, mas muito pelo contrário. O que eu aprendi em um mês em Mostar é que não é preciso ter condições incríveis de vida, comida caseira e um quarto só pra você. As pessoas ao seu redor é que fazem a vida boa. Mas mesmo assim, ter um pouquinho de luxo nunca é ruim.




Uma Crônica Brasileira


O sol à pinho nos cansou tanto que finalmente tivemos que parar pra almoçar. Achamos um restaurante gostoso na rua, com as mesinhas ao ar livre debaixo de guarda-sois. Depois de camarões grelhados, arroz e pão com azeite, não tivemos vontade de levantar e ficamos confortavelmente conversando.
De repente, notamos um homem de costas pra nós usando crocs brancos, bermuda xadrez e uma camisa preta de futebol numa mesa próxima e falando em Português por Skype. Pela conversa, pudemos perceber que o homem morava em Dubrovnik e que a mulher com quem ele falava era sua esposa.
Depois de um tempo, vimos o 22º grupo do navio que havia atracado no porto da cidade. Minha mãe já havia falado que com certeza havia brasileiros naquele navio e eu não botei muita fé. Mas não é que, no meio desse 22º grupo, um grupo de pessoas falava a mesma língua que nós?!
A cena seguinte foi épica. O grupo passou por nós e logo em seguida pelo rapaz que falava no Skype. Quando perceberam que o homem falava Português, começaram a berrar e acenar para a câmera do laptop, fazendo a maior festa. Eu e meus pais não conseguimos fazer outra coisa além de rir e nos dar conta de que brasileiro é um pouco muito louco e animado. Não sei se isso só impressiona e encanta os europeus ou se também os assusta um pouco.
Só sei que europeus me assustam um pouco quando se diz respeito ao quanto eles sabem da nossa cultura. Na noite do dia anterior, jantamos próximo à Catedral principal da cidade e tivemos o privilégio de ouvir música ao vivo. Os artistas tinham um repertório bastante eclético e foi uma delícia ouvir músicas tão boas e de origens tão diferentes. Até que eu ouço notas muito familiares repetindo incessantemente e lanço um olhar petrificado para meus pais. É claro que "Ai Se Eu Te Pego" começou a ser tocada e, logo em seguida, cantada. A única coisa que consegui fazer durante os minutos que se passaram com aquela canção ao fundo foi enfiar meu rosto entre minhas mãos e choramingar.
Ainda sentada à mesa pós almoço, contava para minha mãe sobre o bar próximo à minha residência em Mostar que toca música num volume exageradamente alto enquanto ninguém realmente dança ou se diverte lá. Contava que, numa noite, ouvi Rouge, Michel Teló e Gusttavo Lima, o que quase tirou minha noite de sono. Felizmente, minha mãe é uma pessoa culta demais pra saber quem é Gusttavo Lima e eu tive que cantarolar "Che Che Rere Che Che" pra que ela talvez reconhecesse a melodia. No final dessa frase, um homem atrás de nós a completa "Gusttavo Lima e você!" e nos obriga a virar para olhá-lo. Não era brasileiro e conhecia a música. Porque todos na Europa a conhecem. Minha mãe olhou pra mim atônita e nós começamos a rir. Literalmente, rir pra não chorar.


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