sexta-feira, 31 de maio de 2013

preparame la cena que regreso pronta

Nikola (meu teddy bear)
Tantos dias passam...  Parece que meses atrás eu terminei meu último Paper de Biologia, mas foi na quinta-feira da semana passada... Ainda parecia faltar tanto tempo pra formatura, ainda tinha tanto tempo com meus segundos anos. E hoje, caminho com Uri pelos quartos vazios de Musala, resgatando as coisas deixadas por segundos anos que nos podem ser úteis. Gosto de ter memórias de cada pessoazinha que viveu comigo nessa residência esse ano...
Passei a noite acordada, sozinha no quarto, ouvindo Calle 13 e Buena Vista Social Club, colocando tudo o que tenho dentro de caixas e malas. Foi tanto trabalho...

Não poder postar no meu blog me forçou a escrever num caderno vermelho que há muito não mexia... A necessidade de escrever num momento como este e brutal. Não porque eu esteja triste, mas porque tanta nostalgia me vem... E a verdade é que eu não consigo ver motivos tão válidos para estar triste... A vida segue; eu sempre soube que meus segundos anos iriam embora. Óbvio que isso não me impediu de chorar quando os abraçava depois de receberem seus certificados no palco de Kosaca; não me impediu de chorar quando abracei Anna muito forte na frente de Coco Loco às 3am, prometendo vê-la em breve. Mas não vou mais chorar, porque estou feliz. Feliz pelos meus segundos anos seguirem a vida do jeito que eles desejam. Feliz porque o ano escolar acabou e um peso muito grande parece ter saído dos meus ombros. Feliz porque meus amigos israelenses estão adormecidos na cama ao lado da minha, que costumava pertencer a Aisa. Feliz porque Mostar se abre pra uma nova geracao de UWCers. Feliz porque a vida segue e a gente segue com ela, nesses passos lentos e singelos.

Betka, Marketa, eu e Elena

Tamar, Elissavet, Betka, Marketa, Aurelia, Naeem, eu e Elena

Saffron, eu, Marketa, Amber, Bo, Bengisu e Rhea

Abracando Chloe

Fotos por Sarah Heim na nossa ceia de formatura (prom)

domingo, 26 de maio de 2013

além do tempo e festival de artes de rua

Hoje eu caminhava ao lado de Liza, no nosso caminho até a praia, e me dei conta de que sentia saudade do meu blog... Sentia saudade de poder escrever aqui algo que vou ler daqui a anos e sorrir com todo o gosto da vida na minha língua. Pedi um computador emprestado pra poder relatar um pouquinho do que tem acontecido, desse gostinho de final.
Os dias estão passando rápido. E é sempre assim... Quando você se livra da escola, as coisas vão tão rapidamente... E agora estou tentando arranjar um equilíbrio entre ensaiar pra minha performance, sarar da minha gripe, descansar do estresse do semestre, passar tempo com meus segundos anos e comparecer às atividades do Street Arts Festival. Não é nada fácil. Me sinto culpada por precisar dormir e descansar por conta da gripe, enquanto deveria estar tendo conversas doidas com Celia, ou perturbando Quinten, ou dando risada com as loucuras de Anna e Liza... E tantos outros.
O sentimento de terminar metade do IB é sensacional. Embora eu não esteja absurdamente satisfeita com a minha performance em alguns exams, eu passei viva, sem ficar noites inteiras sem dormir ou mal-humorada: I made it. E naquele dia longiquo (é assim que o sinto) em que terminei os exams, senti essa coisa doida de não saber nada de nada, de não saber se saudade é o que eu sinto desde de já.
O Festival de Arte de Rua começou na quinta, com um show incrível em Abrasevic que deixou Chloe e muitas outras pessoas super emocionadas. Foi a última vi Myriel, Noga, Peya, Lucie, Veronika, Spencer e outros causando arrepios na plateia em Abrasevic. Veronika ficou super emotiva em saber que nunca mais cantaria naquele palco. O show foi maravilhoso. Ainda melhor do que Winter Arts Festival, com Uri arrasando no palco, como sempre.
Sexta-feira foi um dia muito musical. À tarde, tivemos uma Jam Session sensacional em Abrasevic, com direito à participação de terceiros anos e moradores de Mostar. Foi incrível! O que me deixou extremamente feliz foi o grafitti que Celia (Espanha) e Ruzica (BiH) fizeram nas paredes de Old Bank, com a face de Dali e sua musa. Vou passar sempre por lá e abrir um sorriso praquela frase em espanhol sobre retratos tão delicadamente belos. E à noite, a chuva atrapalhou os planos do festival, mas acabamos movendo o show para o querido bar chamado Next, onde tivemos música eletrônica. Como não estava me sentindo tão bem, andei com Sara (BiH) até Musala e nos fizemos companhia por horas e horas, tomando chá e dando risada.
Sábado foi um dia exaustivo. Fui treinar pela manhã com Clara e não sei se estou satisfeita e preparada pra minha performance. Veremos na terça... A parte mais bela do dia foi encontrar Celia nas escadas e ser convidada pra uma fogueira. Um grupo de pessoas foi para os lados de lá, perto do Rugby field, onde ficamos um bom tempo tentando achar madeira e achar algum lugar onde poderiamos fazer uma fogueira. Acabamos entrando numa casa abandonada que é absurdamente bela e fizemos nossa fogueira com marshmallows, queimando past papers do IB. Foi um lindo momento com segundos anos muito queridos: Celia, Anna, Liza e Spencer; também com Lushik e Chloe e duas americanas (amigas de Liza e Spencer). Fomos todos juntos para Coco Loco, onde haveria outro show. Todos nós ficamos confusos, tentando nos decidir entre ficar em Old Man's ou em Coco Loco (os dois são vizinhos) e foi fantástico! Si-Jull arrasou com suas habilidades de DJ e dançamos muito muito! Old Man's também foi extremamente divertido, repleto de pessoas doidas, falando alto!
Mas só pra explicar um pouco esse relato e explicar o que sinto agora.... É confuso ter tantos terceiros anos andando pelos corredores de Musala, saindo dos banheiros quando estou esperando na porta, ou andando na rua de Coco Loco e Old Man's, ou até sentados nas mesas da cozinha. Acho muito legal que eles vieram, de verdade. Na verdade, praticamente metade da geração deles veio, tipo umas 25 pessoas. A tristeza é que, obviamente, meus segundos anos não veem seus segundos anos há um ano e querem conversar, catch up e passar tempo com eles. Juro que não é ciúme! É só uma questão de que eu gostaria de passar esses últimos dias com meus segundos anos, aproveitando eles enquanto posso. Eu respeito totalmente que eles queiram passar o tempo com os meus terceiros anos e na verdade até gosto de pensar que o mesmo vai acontecer ano que vem; mas não deixa de ser meio estranho. Mas na minha conversa de duas horas com Sara, tive esse momento de reflexão e me dei conta de que não quero sentir falta de ninguém. A vida continua. É ridículo falar isso, talvez, mas é a verdade. Desde o meu primeiro dia em Mostar, eu sabia que meus segundos iriam embora, e isso não me impediu de me aproximar deles. Óbvio que eu não vou ficar feliz pela partida deles, mas vou sorrir e assistir a eles seguindo com a vida, do melhor jeito possível com tudo isso aqui que eles viveram e experimentaram: Mostar.

terça-feira, 21 de maio de 2013

quantos...!

Ah, mas que alegria!! Quantas horas de sono! Quanto tempo livre! Quantas refeições apropriadas! Quanto perfume de flor sem me causar alergia! Quantos dias pra ensaiar! Meu computador não está quebrado, não preciso beber energéticos e não tenho que usar um teclado polonês! Ah, mas que agradável!

Adeus. Por duas semanas, provavelmente estarei ausente, devido à morte de Harry Potter, meu computador. (a metáfora aqui é que eu espero que ele reviva e, também, que ele é da marca hp)

domingo, 19 de maio de 2013

intento, himno y fresas

Depois da prova horrível que eu fiz na sexta pela manhã, resolvi que precisava de um descanso e retornei pra minha cama. À noite, tivemos World Cinema, que foi postponed pra sexta-feira devido aos ensaios acontecendo no porão de Musala. Assistimos a um filme que tinha assistido com Liza (EUA) alguns meses atrás. Um filme super bonito que me dá esperança sobre o cinema contemporâneo e sobre o a indústria de cinema americana: Beasts of the Southern Wild. Spencer tomou de forma muito pessoal, já que o filme conta a história de uma comunidade em Louisiana durante o furacão Katrina, o qual Spencer viveu e viveu suas consequências. Acabamos World Cinema com uma discussão interessante que me fez perceber tanta coisa sobre o filme que eu não tinha percebido embora assistindo a ele duas vezes. Terminamos de vez com um abraço grupal, do qual Pauline fez parte, como agradecimento pelo ano incrível que tivemos e todos os lindos filmes experimentais que assistimos juntos. A noite terminou com a Hoodie Party, com quase todos usando o moletom da nossa geração (que ficou pronto essa semana...). A festa não teve um final muito feliz... A polícia veio porque havia uma multidão de homens locais que estavam, aparentemente, provocando os homens do UWC. Homens... Nunca vou entender esse desejo por briga, por violência... Mas Pavle (BiH) tomou uma decisão muito sábia ao ligar para a Polícia e não me incomodou, porque não estava aproveitando tanto a festa... Na verdade, aproveitei pra sentar num banco de Spanish Square com uma amiga: precisávamos catch up depois dessa semana doida e intensa em que mal passamos tempo juntas. Ela me contou de todos os seus medos em relação às suas férias, como ela não tem essa certeza que eu tenho de que meus amigos estarão lá por mim, entenderão minha ausência por todos esses meses e me receberão de braços abertos. Percebi a sorte que eu tenho de ter esses amigos no Brasil que contam os dias pra eu chegar e sabem que, pra mim, não é tão fácil deixar Mostar e voltar pra São Paulo.
O Sábado me levou a um mercado cigano em Vrapcici (tradução: "passarinho"), uma vila fora da cidade. Eu, Rhea (EUA), Anita (Noruega) e Elissavet (Grécia) suportamos o calor da manhã e tentamos desenterrar roupas interessantes no meio de pilhas e pilhas de clothing. A visita a Vrapcici me rendeu um vestido e uma blusa, por R$ 3,90 no total. Sim, uma das melhores compras da minha vida. Acho que nunca mais vou ser capaz de comprar roupas em São Paulo, porque vou lembrar o quão barato é comprar roupas em Vrapcici... Eli e eu retornamos a Mostar e fomos deixadas em frente ao Mepas Mall exatamente na hora que a querida Kata (filha do Sr Susac, o dono da residência e também o nosso fornecedor de comida) passava com seu carro branco e nós corremos atrás do carro e pegamos uma carona pra Susac. Quis visitar um dos meus mais queridos amigos, que completava 18 anos naquele mesmo dia... Dei longos abraços e passamos um bom tempo juntos com Ogi (Macedônia), no Pequeno Círculo de Susac, embora ainda tivessemos plano para mais tarde. Voltei pra Musala com Ogi e deitei na minha cama, procrastinando, por boas horas. Até que Maud (Itália/França) entrou meu quarto, pedindo por roupas brancas, porque era hora de partirmos pra fogueira de aniversário de Mario (Espanha). Ok, sejamos realistas, não deu tãaaao certo, porque não houve fogueira e não foi no lugar em que planejamos. Mas foi deliciosa e taaanta gente inesperada acabou de juntando a nós. Fora que Tamar (Israel) e Carme (Espanha) cozinharam um bolo delicioso! Terminei a noite num bar com Bo (Países Baixos), Pasha (Russia), Ibrahim (Iraque), Mateo (Croácia) e Victor (Russia), só curtindo a música e aproveitando o extended check in.
Meu domingo foi em Susac - outra vez. Os moradores de Susac até começaram a tirar sarro de mim, que eu não tenho nada o que fazer da vida. Mas curti a minha tarde com Mario. Especialmente quando resolvemos fazer uma pausa de 5 minutos nos nossos estudos pra comer morangos. Nossa pausa acabou virando uma pausa de 1h30, completamente deliciosa (os morangos nem tanto...). Voltei pra Musala depois do jantar, pra nossa última reunião residencial, que foi impressionantemente divertida, com todos nós sentados do lado de fora de Musala, sem conversas sobre banheiros sujos e roupas desaparecidas.

E depois dessa relato estúpido e sem qualquer emoção do meu final de semana, deixarei um pingo de tensão aqui gravado, porque Mostar é lindo, mas nada é perfeito... 

Tamar, Carme e Mario na celebração do cumple de Mario

Anita em busca de roupas em Vrapcici 

Última reunião residencial com meus segundos anos

Quatro segundos anos muito especiais (das quais sentirem extrema falta) 
e minha querida e amada Chloe

sexta-feira, 17 de maio de 2013

tudo junto: ironia, brincadeira e realidade

Minha vida em Mostar é tão real quanto o objetivo de tirar uma power nap por 2h e acordar 4h mais tarde. É tão real quanto cruzar sua professora favorita na porta da sua residência e ir tomar um sorvete com ela e outras duas amigas. É tão real quanto dormir sobre cometas e super-herois. É tão real quanto pensar em estar em casa em algumas semanas. É tão real quanto amanhecer numa Mostar enraivecida, chuvosa e fria para a estação de Maio.
Nem sei se eu sou irônica, brincalhona ou realista quando componho frases cheias de meus pensamentos. Sinto que parei na estação Sumaré e o metrô não anda mais. E vejo todas aquelas faces, me perguntando a suas histórias de vida, o que há por trás daquelas imagens, daqueles perfis. E vejo lá embaixo tantos carros, placas, ruas, árvores. A chuva cai na terra da garoa e eu acordo daquele sonho bizarro, numa manhã em que o sol não nasce - quem nasce é a água no horizonte. Na manhã seguinte ao acontecimento de um cachorro desaparecendo e eu sendo selecionada pra gritar com a plateia e me mostrar furiosa, admiro três câmeras fotográficas dispostas pela minha mesa e tantos livros, papeis, latas de energéticos e todo o tipo de coisa inútil espero pelo despertar do meu medo, da minha realização de mais duas provas diurnas. Olho pro meu quarto e percebo a ausência de dias... Dias.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

um dia na semana de pieces of cake

Hoje foi um dia delicioso. E achei que seria um tanto quanto válido descrevê-lo aqui, dando uma noção do meu dia-a-dia (um pouco abalado pela semana de provas, mas ainda valendo).
Acordei cedinho, tomei um banho, voltei pra minha cama pra uma soneca de 20 minutos, acordei de novo e fui tomar café no refeitório que fica a aproximadamente 10 minutos de Musala. Sentei pra comer meu sanduíche, tirando sarro do fato de que todos nós estávamos prontos para "failing" a prova de matemática. Eu dava um boa dia e soltava algum comentário irônico/cínicio a cada pessoa que entrava no refeitório. Acho que, de alguma forma, dei um jeito de levantar o humor de várias pessoas com minhas brincadeiras e a minha certeza que não devíamos nos preocupar com matemática, já que todos nós iriamos tirar notas horríveis.
O corredor da escola estava amontoado de gente. Muito barulho e pessoas com livros nas mãos, revisando nos últimos minutos. Eu, pelo contrário, coloquei meus fones de ouvindo e deixei Lisztomania encher minha alma de felicidade e euforia. Entrei no Spanish Room assim que meu nome foi chamado: sentei-me na segunda fileira, na segunda carteira, logo atrás de Bengisu (o que me trouxe a alegria de poder olhar para seus cachos lindos durante minha prova). Fiz a prova em pouco mais de uma hora e caminhei de volta pra casa, sentindo-me tão mais calma. Cheguei no meu quarto e tive que ler uma dúzia de emails e caixas internas e depois resolvi dormir. Coloquei meu alarme para às 12h, mas obviamente resolvi dormir mais, afinal, minha prova era só às 14h. Despertei com Pavle entrando meu quarto e gritando que minha prova tinha começado três minutos atrás. Levantei num salto e corri pra escola. Entrei no Spanish Room praticamente suando e só fui me acalmar quando comecei a ler um texto em minha língua materna... E que diferença faz! As palavras soam tão naturais e as expressões tão.... parte de mim! É doida a identidade que uma língua trás. Acho que fiz uma prova horrível... Analisei um texto em somente 55 minutos e saí da sala seguida por Jochem. Sentamo-nos num dos bancos que ficam na frente do colégio e conversamos sobre o amor e coisas doidas, enquanto ele quase adormecia ao meu lado de tão cansado. Quando a prova acabou pra todo mundo, um amontoado de pessoas desceu as escadas e deu de encontro conosco. Corri pra Musala pra pegar algumas das minhas coisas e fui encontrar Amber tomando um sorvete com Bengisu e Markéta.
Eu e a Amber caminhamos pra Susac, enquanto ela me contava sobre alguns dramas de sua vida quanto à relacionamentos e amizades... Quando chegamos em Susac, sentei-me no quarto de Aurelia e Tamar, conversando muito baixinho com Aurelia para não acordar Tamar, enquanto compartilhávamos nosso medo das provas de Biologia e História que virão na semana que vem...
Resolvi visitar Maud e acabamos chorando de rir quando Si-Jull apareceu sem camisa com todas aquelas suas piadinhas de quando ele está de bom humor (depois de quase três semanas trabalhando como um louco, ele teve dois dias de sono profundo). Carme entrou o quarto com batom vermelho, cabelos presos, uma sandália de salto e um vestido fofíssimo (que ela conquistou na Swishing Party), perguntando se eu gostaria de me juntar a ela e Tamar para um jantar em Megi's (um dos melhores restaurantes de Mostar). Óbvio que eu nem hesitei, já que tudo que eu queria era evitar matemática. Ficamos quase duas horas sentadas do lado de fora de Megi's, conversando sobre Tel Aviv, Barcelona, São Paulo, nossos amigos back home, nossa vida nesse ano e muitas outras coisas que simplesmente vem naturalmente quando passamos tempo juntas.
No retorno a Susac, acabei sentada com um grupo encantador de locals composto por Mirza, Teo, Ajsa, Aida, Natasa e Amina que passaram a falar inglês com a minha chegada e me fizeram chorar de rir enquanto lembrávamos de Pokemon, Digimon e Dragonball Z (infâncias compartilhadas em países completamente diferentes! é uma coisa mágica!). Quase chorei (de tristeza) quando Ajsa e Mirza perguntaram se eu conhecia Chocolate com Pimenta e Da Cor do Pecado, duas novelas globais horríveis que vieram pra BiH alguns anos atrás. Ai que dor em ver esse tipo de cultura brasileira se espalhando pelo mundo. Andamos todos de volta pra Susac e eu avancei pra minha próxima parada: quarto de Mario.
Depois de algum tempo no quarto de Mario, conversando sobre coisas absurdamente aleatórias, acabamos, os dois, no quarto de Uri. E foi só alguns momentos depois que começamos nossa própria festa, com direito à melhor música possível. Foi quando Uri largou sua guitarra, cuja música estava me dando arrepios enquanto eu a apreciava deitada na cama do colega de quarto de Uri, que conectamos meu computador ao amplificador e fizemos nossa própria festa. Dançamos muito e meu humor foi de 10 a 100 com aqueles dois doidinhos! Terminei minhas visitas aos quartos de Susac com uma parada no quarto de Mateo, enquanto nós dois reclamávamos sobre nossos exams e discutíamos sobre ateísmo e religião (our every day topic).
Voltei pra casa ouvindo música e sentindo uma alegria quase que boba. De repente os exames pareciam piece of cake e todo o resto tão mais bonito e importante.

quarta-feira, 15 de maio de 2013

um terço do caminho

Esses dias exaustivos em que eu jogo minhas roupas no chão de tal forma que tenho que evitar olhar pra bagunça do meu corner quando nele entro, e tenho que tomar cuidado pra não pisar em nenhum cinto, nenhuma garrafa d'água, despertador ou bolsa... Tenho passado a maior parte do meu tempo deitada no Chilling Sofa de Celia e Chloe, meu quarto preferido nesses tempos...
Já fiz provas de inglês, espanhol e a primeira de matemática... agora só tenho mais uma prova de matemática, uma de português, duas de peace&conflicts, duas de biologia, duas de história e terei oficialmente terminado metade do IB. Parece nada... Porque eu sei tudo que vem pela frente.
E agora quase todos os segundos anos terminaram seus exames e só sobramos nós, os primeiros anos preguiçosos e cansados, que mal terminaram as aulas e já entraram nessa maratona horrorosa de provas. E eu acho que nunca estive tão cansada na vida... Por mais que durma de 6 a 7 horas por noite (algo que nunca acontece em circunstâncias normais), continuo querendo retornar pro meu colchão, pra debaixo do meu cobertor (mesmo que esteja um calor absurdo e um sol ardente do lado de fora).
São só mais uma semana e dois dias... Eu aguento, não é? E depois será uma maratona de despedidas... Ontem, já começamos com segundos anos doando roupas, assim como primeiros anos. A Swishing Party organizada por Chloe e Liza: algo como uma feira de roupas descartadas, que me rendeu muitas peças maravilhosas, incluindo dois vestidos de Pauline (que vou guardar com todo o carinho). Estou tentando não estressar em relação à minha performance na formatura, mas a falta de energia e tempo não me ajudam a ensaiar e parece que eu não tenho nada ainda... Nem força, nem número, nem certezas.
Mas vou seguindo... Mesmo com essa dorzinha no peito e essa vontade e desvontade de voltar pra casa e de ter meus primeiros anos andando por Mostar... Vou sentir falta de Musala, do meu quarto, das minhas roommates, da parede do lado de fora de Musala, das horas e horas rindo na varanda de Bo depois do check-in... Ando tão nostálgica...

"A distância ia-se esticando, fazendo fila de arbusto, a submissão indomável do mato, da seca ao tempo. Mesmo sem chuva, a resistência da cor traduzia uma vontade de viver." Maria Amélia Mello

domingo, 12 de maio de 2013

entre minas, portas e porteiras

É aquela dor de cabeça depois dos três dias mais emotivos que eu já vivi em Mostar. É aquela sensação de agonia, de um aperto dentro de si, e de lágrimas lutando pra sair de seus olhos... É aquela aflição de não poder abraçar ninguém sem liberar essas porteiras e expandir o mundo de fora pra dentro. É aquele sonhar tão longe e tão junto. É aquela tarde num jardim à beira do rio; uma pureza tão bela e tão gostosa que invade nossos peitos já saudosos. É aquela cesta de morangos em cima da mesa e aquele gosto de canela na língua. É um sorriso tão sincero e um carinho tão inexplicável.

É tão assustador admirar alguém dessa forma. É tão assustador antecipar todos os adeuses que terei esse mês e toda a onda de emoções que virá como uma avalanche de palavras e amores e cartas e confusões. É aquele medo de não saber lidar com nada disso, de não saber como chorar ou admitir que eu não sou uma muralha. É aquela agonia de querer escrever tudo que eu vivi nos últimos dias, sem saber como descrever os momentos desde que eu vi aquela mulher vestida em vermelho sair pela porta de sua casa e nos receber com um sorriso sincero e assustado nos lábios. É a dor de não saber como viver o futuro daqui a três meses se eu nem sei como viver o futuro de amanhã, com o amanhecer me trazendo meu primeiro exam. É aquele arrependimento por ter escrito algo que eu não consigo encarar ("- Pensei que você não acreditasse em arrependimento..." "-Eu não acredito. Não é porque eu o sinto que eu nele acredito.") que me faz querer esguelar até rasgar meus pulmões. É aquela sensação assustadoramente contagiosa de perdição, de euforia e júbilo. Aquele ser e estar guardados no meu peito como uma mina pronta pra explodir quando alguém nela pisar.

sábado, 11 de maio de 2013

finais e finals

Lisa e seus alunos de English A - Lang&Lit

Pauline e seus alunos - absurdamente já saudosos - de História 

sexta-feira, 10 de maio de 2013

holocausto, (ini)migos e microondas

Tire sua fala da garganta
E deixa ela passar por sua goela
E transbordar da boca
Deixa solto no ar
Toda essa voz que tá ai dentro deixa ela falar

O trem vai tão lentamente... Uma mulher pula pela janela e é nocauteada com o som grave e cortante que tira sua vida. Uma criança corre extremamente desesperada e agonizando com o medo que cresce em seu peito. Foram tanto anos de alimentação de ódio, algo tão ilógico... Como?! Te prometo que não consigo entender... Os livros e as palavras ditas por professores não me parecem lógicos. Como é possível controlar uma massa de tal forma brutal?
Dois corpos adormecendo e despertando em diferentes momentos. Pés nervosos e miradas discretas. E quando eu rio, você me estira no chão, como lixo, como algo que você tem medo de enfrentar e prefere pisar em cima. E aí senta-se ao meu lado aquele senhor concordância e abraça minhas falas por segundos tão limitados e logo mais começa a falar de traduções e pixações sobre as quais não quero saber. Quero esse ar de mistério, de algo profundamente escondido, de um medo guardado exposto pra fora da garganta. E aguardo pacientemente enquanto os dias passam e eu cochilo calmamente ao seu lado, espero o segundo em que o microondas vai apitar e a comida estará pronta pra abandonar as palavras sem nexo e noção que coloco em frases e sentenças que nem eu mesma compreendo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

quando alguéns se eclodem após uma guerra

Foi uma tarde toda na varanda: ouvindo a chuva bater no telhado, mas sem conseguir ver pingos na vastidão do calor, com dezenas de páginas de internet abertas com números e estatísticas de mortes e evacuação da Segunda Guerra Mundial, fazendo piadinhas sobre dívidas entre países e ouvindo as músicas favoritas de um amigo querido deitado ao meu lado. Fugi da guerra por algum tempo e fui me refugiar no quarto de um alguém, deitada, encolhida, na cama, adormecida, com vozes do lado de fora do quarto dizendo coisas que eu não conseguia processar. Meu coração tão acelerado pela adrenalina de toda aquela informação e eu tentando acalmá-lo para conseguir cochilar. Levei um chute na testa e fui despertada pela entrada de um calorento senhor. E não sabia o que era tudo aquilo - não sei se jamais vou saber -, sem saber reconhecer meus sentimentos e meu cansaço.
Antes de ir dormir, assisti a mim mesma deitada debaixo das estrelas com uma pessoa perdida, conversando sobre nem-lembro-mais-o-que. Senti uma energia no círculo de Susac enquanto nós dois nos acalmavamos enquanto eu acariciava seu cabelo e ele deitado no meu colo. O estresse do dia inteiro parecia partir enquanto discutiamos sobre o céu se mexer e foi uma das nossas poucas conversas em que não choramos de rir.
Acabei comendo chocolate belga e tomando chá num cozinha que tinha estado pela última fez quando me despedindo de uma garota de cabelos fogosos. Ouvi histórias de uma vida tão misteriosa que eu nunca teria imaginado e alcancei com a minha mão todo aquele desespero que ela jogava com palavras sobre a mesa e que me obrigava a aguentar firme e não fechar meus olhos, embora o sono fosse tão forte. Fomos interrompidas por uma garota que sentou-se conosco e mudou completamente o assunto: insônia.
Nessa manhã eu acordei tão cedo que as nuvens ainda estavam entre a luz das estrelas da noite e da do dia. Coloquei um vestido no meu corpo e me aventurei pelas ruas, vagando de volta pra casa, perguntando o que será de mim no ano que vem... E mais tarde tarde escrevi  um piece que odiei, que foi resultado de uma prova frustrante que impressionantemente não me fez chorar. E achei nas palavras de Leminski algo de mim

Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguia
de alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

um primeiro casamento e prazeres culposos

Um primeiro casamento

Em sonhos meus, eu via os primeiros casamentos em que eu estaria presente. Eu via meus amigos se casando, e eu assistindo da cadeira mais próxima, com um sorriso sarcástico no rosto - feliz pelos meus amigos, incerta sobre a forma de assegurar o compromisso. Quando pensava em casamento, não vivia aquele numa igreja coberta de ouro em suas paredes, e quadros de um homem que foi morto com pregos em uma cruz, mas vivia algo alternativo: talvez as ondas do mar cobrindo a areia e o sol batendo em rostos repletos de amor e aquele olhar que o noivo lançava pra noiva quando ela caminhava para o lado dele; Aquele olhar que parece que vai vazar de tantos sentimentos, que vão cair lágrimas coloridas pra representar cada mínima emoção. E aquele sorriso inevitável brotando nos olhos de alguém com esperanças, com um plano não tão claro pro futuro.
O primeiro casamento que eu assisti em meus sonhos foi atrás de uma livraria em ruínas, cujos livros não mais respiravam ali e em seu lugar havia garrafas de vinho, copos de plástico e pequenas velas formando um coração fogoso no chão asfaltado. Os convidados eram poucos e quase todos tinham um cigarro entre os lábios, dando um ar de calma, de informalidade à cerimônia. Ninguém se sentava: estávamos todos de pé e eu tinha minha câmera em volta do pescoço e em frente ao meus olhos. Vi a cerimônia toda atráves de um buraco de um câmera - algo que me dá um enorme prazer. A cerimônia acontecia numa língua que eu não entendia, mas pouco me importava: o contato e como os corpos se portavam dentro daquele coração - duas mulheres.
Pouco parei pra pensar se aquele sonho fazia algum sentido enquanto ele rodava em minha mente. Pouco parei pra me perguntar se aquilo não era tão precoce, tão impreciso e vulnerável. Mas quando eu acordei num colchão sem lençol, eu me toquei que eu não era a única que sabia que esse casamento não era real.

Prazer Culposo

Naquela tarde, o calor era tão intenso que parecia que eu ia ser derrubada por ondas solares; seria encontrada desmaiada no asfalto, na linha de frente de uma guerra passada: a guerra entre eu e eu mesma. Caminhava em direção ao rio, ao lado de uma certa quantidade de formigas que procuravam doces. Sentei-me no barro, sem me importar em me sujar. Joguei minha cabeça pra trás e senti naquele momento meus pés alinhados e paralelos à correnteza. Eu esperava os segundos se debulharem enquanto meus pés involuntariamente se aproximavam da água e, embora o sol fervesse minha pele, eu sabia que não fervia a água corrente do rio. As emoções passavam tão turbulentas por mim e eu descobri naquele momento: era meu prazer culposo.
Meu prazer culposo era saber o que esperar - o frio, os pés vermelhos e inchados, a vontade de me afastar da água -, mas, ao mesmo tempo, não saber - como nossas sensações são lembradas? E foi quando os segundos passaram e as pontas dos meus dedos e meus calcanhares foram atacados por pequenas ondas d'água, que ferveram meu sangue de gelo e a dor do frio preencheu os nervos dos meus pés. Desafiei-me a deixar os pés por dez segundos debaixo da água e foi como se o tempo parasse enquanto eu contava, em uma língua que não era a minha, o tempo pra me afastar daquilo que me causava dor, porque era aquele me instinto. Mas como tanto mais na vida, eu tentava fugir dos meus instintos e achar minha própria razão e motivos racionais. Quando tirei os pés da água, eles não mais ferviam com o frio, mas meus dedos estavam inchados e vermelhos, meus pés quase roxos. E eu sorri enquanto alguns amigos riam numa mesa próxima a mim.