quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

instruções para dizer adeus

Adeuses acontecem em estações de trem, em aeroportos, em portões e em camas. Nunca se deve interromper um grupo ou um casal de pessoas se despedindo. Não se interfere no momento em que há coisas ficando pra trás e coisas indo. O movimento fixo e fluxo e sem-jeito que há naqueles compassos de abraços é unicamente limitado em termos de tempo e espaço. Seria como se jogar nos trilhos do trem. Também não se deve olhar muito; porque o olhar, invejoso ou não, transforma o campo energético em uma fumaça que se dissolve. 

O jeito correto de dizer adeus é calculável. Primeiramente, deve-se segurar as lágrimas o máximo possível e conter as palavras. Nesse momento, a palavra não é necessária. O mais necessário é o uso dos braços para se colocar os corpos juntos um ao outro. Às vezes, sentir o batimento cardíaco do outro – que não é o você. Embora os dois batimentos às vezes se misturem e sua percepção seja incapaz de distingui-los. O tempo do abraço, no entanto, não é calculável. E, também, um abraço mais longo não necessariamente significa mais amor, mas saudade. O tempo do abraço é sempre decidido e imposto pelos participantes desta.
Há pouco a se fazer depois dessa intensa troca de calores, pois os corpos devem se separar e partir. Não se deve chorar. Os batimentos cardíacos se dispersam. O próximo passo é a troca de olhares entre você e o outro. E aí você se vai. Ou o outro se vai. Alguém se vai. Talvez pra logo voltar. Talvez, nunca mais.

Crônica inspirada em Júlio Cortázar
Dedicada à Laila Kontic.

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

soa pretensioso, mas é verdade

Overwhelming. É o que respondo à constante pergunta "como é estar em casa?" ou "como é voltar?". Me falta a palavra em português e, por isso, às vezes mantenho a palavra em inglês por falta de vocabulário. Ontem, cheguei muito cedo no Aeroporto de Guarulhos e meu português parecia normal enquanto tentava ignorar a dor de cabeça e abracava meus pais e minha irmã. Algumas horas mais tarde, meus avós bateram na porta da minha casa - como a felicidade bate à porta - trazendo algo que sinto muita falta: temaki! E logo mais recebi a visita do meu irmão/vizinho/melhor amigo, que mal consegui falar nas outras vezes em que passei pelo Brasil, mas me parece que ainda estamos na mesma - amizades que não degradam. Talvez ele me preste uma visita pelas bandas balcânicas e nada me traria mais felicidade.
Saí para o aniversário de um pequeno grande amigo e deparei naquele grupo de cinco pessoas em que eu não me encontrava há muito tempo. Foi curto e meu cansaço me tornou um zumbi mudo, quase incapaz de sorrir, mas ainda estava feliz - embora a dor de cabeça.
Voltei pra casa e fui capturada por Mostar, por todos os problemas e responsabilidades que achei ter deixado pra trás. Engano meus. Sigam-me os fortes: há problemas muito fortes. Joguei palavras nesse maldito mundo virtual enquanto desejava poder estar gastando minha saliva e usando minhas cordas vocais. Detesto brigar. E a verdade é que eu nem sequer sei brigar. Mas é melhor eu aceitar, compreender que provavelmente esses dez dias não serão suficientes pra que eu retire minha mente e meus músculos daquela bolha do outro lado do Atlântico. Não me parece de todo ruim. Não se pode esquecer o que te perturba.
E como planejado, à noite estava na festa de formatura da minha série - do colégio em estudei até a 8ª série - encontrando uma multidão de gente. Não estou mais acostumada com isso. E embora tenha sido muito, muito bom encontrar certas pessoas, aquele ambiente me cansou. Nem conversar direito consegui e me doeu abraçar pessoas sabendo que não as abraçarei outra vez antes de Julho - ou mesmo depois - e nem terei a oportunidade de conversar com elas. E me parece difícil agora ver o que tenho em comum com elas. Meus amigos se formaram e agora seguem as vidas, fingindo crescer, mas empacados no mesmo lugar da sociedade, com os mesmos valores burgueses e as mesmas formas de olhas pras coisas ao seu redor - e não necessariamente me excluo completamente disso. A entrada na faculdade não é, de fato, um fator transformador. Pelo menos por ora.

Charlotte: I just don't know what I'm supposed to be.
Bob: You'll figure that out. The more you know who you are, and what you want, the less you let things upset you.
Lost in Translation

sábado, 14 de dezembro de 2013

minhas lágrimas em seus bolsos

"you just keep proving how awesome you are!" e um abraço; assim que desci do palco.. Nesses momentos me dou conta que eu não preciso de nada mais, que são essas grandes amizades que me sustentam, que sustentam toda essa estrutura ao meu redor que vai além daqueles microfones que pareciam me prender estática naquela cadeira. Só podia mover as mãos, os braços, as cordas vocais, o meu diafragma. Medo de palco, algo que, minha mãe diria, eu nunca sofri na infância. Mas aí era a segunda vez na semana que meu corpo inteiro parecia tremer por causa daquelas luzes quentes em cima de mim e a escuridão na plateia com pessoas gritando meu nome e aplaudindo. E nem era um sonho. Mas foi naquela troca de olhares que eu lembrei da noite anterior, quando quebrei sua caneca e quando ríamos muito do quão socially awkward eu estava após duas horas sozinha, na sala de música, com toda aquela energia e aquela natural chemistry. Me acalmei. E não sei ao certo como foi, mas algo saiu dali e eu ouvia Andrew gritando "Latinas!" da plateia, enquanto tentamos arriscar nossas harmonias e nosso pouco entendimento do significado real da letra da música. El tiempo está después, cantávamos.
Eu ainda estava nervosa quando Marta desceu do palco (após um grito "Marta linda!" de Lucas) e logo em seguida, Markéta subiu. Acho que me acalmei um pouco enquanto afinava o violão e ela anunciou pra plateia que estaríamos cantando aquela música em homenagem a Bo e Amber. Levantei a cabeça e vi as duas ali na frente, abraçadas, felizes, amadas. We care too much. E foi outra química natural que se desprendeu de nós pelo ar em forma de notas musicais, de palavras que por nós foram ouvidas tantas vezes naquela varanda que um dia pertenceu a Bo e agora pertence a Amber. Nossos tempos em Musala. E sempre me dá aquele aperto no coração e uma vontadezinha de chorar. Uma saudade muito forte; é o que sinto em relação a Bo, Markéta e Bengisu, de quem me afastei fisica e geograficamente, mas que ainda significam mais pra mim do que eu poderia imaginar. Sempre me surpreendo. Infinity.
A semana passou mais rápido do que eu poderia ter imaginado. E foi assim de um dia pro outro que as pessoas começaram a ir embora com suas grandes malas, com sorrisos no rosto em estar indo pra casa, mas com um brilho curioso nos olhos, evitando chorar. Sarah me disse que eu não estava sonhando, que, de fato, parecia que essas despedidas estavam sendo muito mais difícil pra todos nós esse ano do que ano passado, porque estamos tão mais próximos como uma comunidade. Unidade. E foi assim que me encontrei sentada em diversas camas, assistindo amigos empacotarem suas coisas e deixando seus quartos, deixando Musala e deixando Mostar pra trás pra um inverno tenebroso (o mais frio?).
Mas tudo isso foi apagado por um tempinho quando Marta e eu corríamos rua acima, nos sentindo culpadas por estar meia hora atrasadas pro nosso Latino Dinner, tentando criar as melhores desculpas pros meninos. Bullshit. Estávamos todos atrasados. E,  na verdade, Simon chegou somente um minuto antes de nós e Noam e Lucas apareceram muito depois. Mas comemos nossos nachos e tivemos nossa divertida reunião parental. Acabamos o jantar com nosso Amigo Culto (estilo Brasília), que foi uma delícia e rendeu um relógio de bolso pra Noam, uma malha para Simon, luvas para Lucas (dadas por mim), um jogo de dardos para Marta e uma carta (que foi a prévia de um lindo presente que foi deixado no meu quarto durante a noite enquanto dormia) com um desenho da nossa caminhada montanha acima que aconteceu pela manhã (ir à escola no último dia de aula? Pra quê?). Família, é claro. E acabamos debaixo da Old Bridge, com Simon declarando que havia sido ali onde passara a primeira e a última noite do term. Os quatro deitaram no meu colo e dávamos risadas em frente àquele rio, no ar congelante de Mostar. Feliz, feliz, feliz! Un dia nos encontraremos en otro carnaval.
Nos movemos pra Black Dog, um bar em plena Old Town, onde nos encontramos com os 'restantes'. Mas queríamos uma palacinka e caminhamos em direção ao Palacinka Bar. Me deparei com Matea no meio do caminho. Foi um choque gigantesco encontrar uma segundo ano, ainda mais Matea, que passava tanto tempo no meu quarto. Choque. Eu e Elissavet continuamos caminhando, num silêncio processante da matéria daquele encontro em frente ao colégio.
Segundos anos às vezes são como esses fantasmas que nos perseguem sempre. Nos perseguem quando sentimos falta deles e eles parecem não se ausentar de nossas mentes e nos perseguem quando aparecem aqui e trazem com eles tantas memórias esquecidas. Encontrei uma carta na caixa do correio com um colar dentro dele, enviado de outro continente. Agora carrego os fantasmas no pescoço e os ombros pesam nesse alívio de sonhar com água de coco e com caminhadas na Paulista. Mas há muita, muita coisa que me assombra nesses dias. EE, Lab Reports, ToK Essay, College Applications. Quero pausar o tempo e deixá-lo pra depois.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

submersão e enroscamento (así)

Mais uma vez me encontro naqueles tempos em que arrumar a cama pela manhã me parece uma coisa irrelevante. Aqueles momentos em que tento conseguir o máximo de sono que eu consigo, em intervalos entre um trabalho em outro. Acordo com aquelas olheiras imensas e uma vontade de voltar pra cama. Mas não há tempo pra gastar com dormir e tenho que constantemente lembrar-me do quanto detesto perder tempo adormecida.
A (o?) Winter Gala foi maravilhoso ontem. Peguei-me com todas as memórias do evento do ano passado, o quão maravilhoso foi organizar aquilo com Bengisu. Lembro-me de estar limpando Abrasevic na manhã seguinte e ter essa sensação tão boa com Bengisu, de dever comprido. Esse ano, não poderia ter pedido por uma melhor equipe pra organização. Não só porque acabamos tendo uma Winter Gala maravilhosa e cheia de amor, mas também porque me diverti muito colocando papeis nas mesas, enfeitando as paredes e preparando tudo para a chegada de todo o resto da escola. Muito agradecida por estar nesse lugar. E foi por isso que me desafiei a ir ao palco durante as reflexões, para dizer o quão feliz estou, o quão maravilhoso esse lugar é e o quão agradecida eu sou por estar cercada por essas pessoas incríveis. Citando a mim mesma (não com as exatas palavras): “Ano passado, vários dos meus segundos anos vieram ao palco e falaram sobre o quão triste era que a vida UWC deles estavam acabando; o quanto eles tinham inveja de nós por termos mais um ano e meio nesse lugar incrível. Mas a verdade é que ¼ ainda é muito tempo. ¼ da nossa vida UWC significa muitas outras aventuras e descobertas. Mas afinal de contas, por que chorar por causa desses ¾ que já se foram? Vocês se arrependem deles? (Christina gritou “fuck no” da plateia) Porque eu não me arrependo e sou muito feliz por tudo que aconteceu durante esse um ano e meio.”. Foram palavras que não significaram nada. Que não expressaram nada do que eu realmente queria transmitir, mas foi um pedacinho do que eu penso sobre isso tudo.
O Winter Gala também representou, pra mim, algo tão pequeno e tão simbólico. Um pequenito ritual de passagem. Um microfone e tudo o mais. Continuidade, porque tudo vai e tudo passa, segue em frente. Já preparamos o chão pra quando nos formos, tanto eu quanto Si-Jull.
Mas bom, Winter Gala já foi. E agora é hora de continuar com o maravilhoso WAF (Winter Arts Festival). Segunda-feira, tivemos uma sessão de poesia e uma jam session em Next que rendeu bons momentos e um particularmente emocionante. Hoje, há uma performance da turma de teatro (é doido pensar que era pra eu estar lá com eles), que inclui minhas queridas Tamar e Paula. A Casa de Bernarda Alba, por García Lorca. Incrível.
Amanhã, há o show. A melhor parte. A parte que me causou arrepios profundos ano passado. E dessa vez, estarei eu no palco: uma vez ao lado de Marta e outra ao lado de Markéta. Isto é... se eu conseguir finalmente ensaiar com elas. É uma vergonha que estejamos apresentando amanhã e eu ainda não tenha ensaiado com elas. Mas, outra vez, prova minha falta de tempo.

Amadas queridas amigas que me pegaram de surpresa pra uma 
foto espontânea ao final da Winter Gala. Um quinteto único.

Convite eletrônico da Winter Gala feito pela querida Malak

Poster do WAF!

domingo, 8 de dezembro de 2013

dois em um e um em dois

Limbo. Não me lembro de ter me sentido assim em outro momento da minha vida. Sempre tento me focar no presente, no agora e aqui. Mas agora me parece tão difícil, porque o agora não é só aqui. Acho que sou uma das únicas pessoas daqui - internacionais - que mantém um laço tão forte com a vida back home - não que aqui não seja home. E devo dizer que é uma das decisões mais sábias que eu faço quando estou cheia de trabalho da escola e ainda abro um tempinho na minha vida corrida pra ouvir uma reclamação, pra saber um pouco da vida das pessoas. E é difícil. Mas ao mesmo tempo, eu sei que eu mantenho essa minha base; que assim que eu pisar no Brasil, eu vou estar em casa, que meus amigos não vão se tornar estranhos enquanto eu não quiser que eles se tornem. Que essas carinhas no Skype e essas palavras no chat do Facebook e nos emails que recebo são muito importantes na minha vida - e que sou importante na vida delas também. Eu não sei viver aqui por completo. Não me é possível, porque as pessoas com quem eu passei a maior parte da minha vida não estão aqui. E mesmo que me fosse mais fácil seguir em frente, deixar pra trás, por que eu faria isso? Que tipo de irmã, filha, amiga, confidente seria eu? Meus amigos aqui se impressionam com a importância que eu dou pra meus amigos no Brasil (e também meus amigos do CISV pelo mundo) e eu sorrio, porque sei que eles lamentam a falta de amigos back home, porque eles não reservam um tempo na vida agitada pra preservar as amizades. Você não pode esperar que seus amigos não te esqueçam enquanto você parece ter os esquecido.
Mas esse limbo não é fácil. Há problemas aqui e problemas lá. E quando a vida aqui está muito boa e cheia de sorrisos e energia positiva, tenho a tendência a pensar na minha vida no Brasil como um universo paralelo. Mas quando as coisas de lá parecem muito boas ou muito ruins, eu tenho a tendência a me prender num limbo de tempo em espaço em que não sei onde estou. Não sei o que quero e não sei no que quero investir meu tempo. Só sei que quero abraçar as pessoas de lá e quero abraçar as pessoas daqui e poder sentar na mesa do refeitório. E me é muito estranho quando, nesse mesmo refeitório, as minhas 'vidas' se misturam numa figura que me foi muito importante em Mostar e que conversa comigo num português gringo e impressionantemente bom. Limbo.
Não podia estar mais agradecida ao meus pais por terem investido tanto dinheiro e por terem insistido tanto em me ver, em me trazer ao Brasil mesmo que por poucos dias. Não podia estar mais feliz em estar indo pra cidade em que nasci e cresci, em ver meus amigos e minha família. Só mais 8 dias. Sinto que toda vez que abraçar Pedro, Mário, Isa, Helo, Lucas e outros eu vou querer chorar. Porque a saudade nunca foi tão forte e eu nem sei porque. Talvez por causa desse terceiro semestre - que é supposed to be o mais difícil de todos.
Mas nesse exato momento, eu não sei. Porque por mais que eu queira ir pra casa, não quero pensar em ir embora de Mostar. Não consigo pensar em ficar um mês sem meus latinos queridos, sem as longas conversas depois do check-in, sem os conflitos no meu quarto e as caminhadas por Mostar. Limbo. E essa semana me parece um obstáculo gigantesco que só vai me levar mais e mais perto do outro continente e mais longe daqui. Estou cansada daqui, cansada desse período de vida em que se tem que pensar no próximo.

sábado, 7 de dezembro de 2013

devaneios das once y diez

Termino a prova vinte e cinco minutos antes de seu término oficial. Não consigo dormir, embora tente de diversas formas: costas eretas, costas curvadas, mãos pendendo da mesa, mãos como travesseiro, a apostila da prova como travesseiro. Não sei por quê. Percebo o tic-tac do meu relógio de pulso e tento calá-lo. Não consigo. O tic-tac continua ecoando em mim mesmo que eu não consiga ouvi-lo de meu pulso. Então olho pra cima e percebo outra fonte intermitente de minha perturbação. O relógio na parede. Começo a narrar a situação, tentando fazer o tempo passar mais rápido – o que não me parece necessário. Começo descrevendo o incessante ponteiro e me pego perturbada com a minha metáfora de ponteiro em forma de cobra. Tento começar de outro ponto. O futuro. Vejo o futuro tão claramente. O futuro próximo segundo de minha vida... Passou! E outro! Meu futuro assim tão depressa! E que diabos é o meu futuro se não os centímetros que se descoloca o ponteiro? E aí penso no porque de estar sentada ali, naquela prova. Rio por dentro. Nem eu sei a resposta. E penso na definição de futuro, que pra mim parece tão diferente. Quando se pensa em futuro, se pensa em faculdade, trabalho, sucesso ou em casamento, filhos, família. Quanto ao meu futuro, prefiro pensar no meu estado mental, físico, emocional. Por que nunca me perguntam sobre esses meus desejos para o futuro? Porque é tão óbvio que eu quero ser saudável e feliz? Engraçado, às vezes tomamos certas coisas como premissas. Que coisa estúpida. Nunca é como estou, como estarei, como estava; é sempre o que faço, o que farei e o que fazia. Mas que desgraça de conjugações! Não sei conjugar em Espanhol (gusta o gustas?). Repenso uma das questões do teste. E eu perco tempo, às 11h10, pensando nisso tudo. O que é perder tempo? Porque sinto que perco tempo fazendo essa prova e perco tempo pensando no meu futuro acadêmico. Por que a sociedade quer tanto essa educação de alto nível, standardized? A educação vai muito além de salas de aulas, monografias e trabalhos acadêmicos. Por que passa pela cabeça que essas horas de estudo e esforço não me servem de nada além de tentar aproximar esse “futuro” de que tanto me falam? E se eu preferir gastar tempo com a arte? Não há futuro? É o que dizem. E queria que esses métodos tradicionais de educação tivessem menos significado. Porque nunca vai ser sobre como estou; vai ser sempre sobre o que faço. Eu faço ir à escola, faço estudar, faço aplicar, faço trabalhar. Mas eu não posso fazer felicidade, tristeza, saúde, amor. To do, to make. E queria mais tempo nesses segundos incansáveis regulados pelo ponteiro de segundos da sala G2. Olho pela janela e me deparo com o céu azul pleno, as montanhas marrons e verdes, mas, acima de tudo, me deparo e me encanto com as aves. Nunca me perguntei que aves negras são essas que sempre avisto pela janela. E agora as assisto dançando pelos ares, se juntando e se dispersando de acordo com o balanço do vento. Elas não pensam no futuro, na direção que o vento vai leva-las. Só dançam com a natureza. Sem fim. E eu, aqui, no meu mundo individualista e egocêntrico, pensando num futuro que não passa de uma cobra dançando em volta do centro do relógio. Traiçoeira, arrasta-me ao futuro e tento voar pra fora. Misericórdia.

PS: esse texto foi escrito após meus SATs, no verso do meu admission ticket por falta de outro papel no qual escrever

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

cóndor de areia

Não foi a semana cultural mais successful. Não foi nem perto do que eu, Anita e Erika gostaríamos que tivesse sido, mas foi nossa culpa, culpa do tempo, da série de desafortunados eventos que tornaram mais e mais difícil a organização dos eventos. Mas não deixou de me trazer bons momentos. Desde passar a cuia na roda e assistir pessoas se desapontando com o gosto. Elissavet quando criança assistia a novelas argentinas e experimentar chimarrão foi a realização de um sonho de infância. Mais e mais gente adentrava a sala comunal e se juntava ao nosso momento cozy com um pouco de música folclórica (para a alegria de Simon) e mais Calle 13. Fiquei impressionada com "No" de Pablo Larraín, um filme impressionantemente bom; um retrato muito bom de campanhas políticas, de marketing e, é claro, da ditadura militar no Chile no seu lado mais desesperançoso - a esquerda.
Passei a semana andando de cima pra baixo com um tripé debaixo do braço e a câmera no outro, tentando gravar o vídeo que apresentaríamos na Ceia de Dia de Ação de Graças de quinta-feira. Um trabalho desgraçado e desgastante, mas que me trouxe alegria enquanto me sentava na nossa própria "sala de edição" cantando Spice Girls sem motivo nenhum. E aquela tarde passou voando e até perdi a conta de quantas vezes Marta adentrou o quarto, desesperada por algo acontecendo na cozinha - roubou a carne dos noruegueses! A Ceia foi divina. A comida muito boa - os americanos sempre conseguem produzir uma quantidade inimaginável de comida -, o Spanish Room organizado de uma forma muito agradável, com velas, guardanapos e fotos das nossas hometowns no projetor. A Ceia foi longa, com diferentes pratos de comida (chilli con carne!) e diferentes apresentações. Fomos deixados para o final (como gran final ou como o menos importante?). Quando chegou a nossa vez, metade do Spanish Room já estava vazio. Uma pena que todos tenham ido embora; muito rude da parte de todos que foram embora (Mas nós estamos aqui!). Foi rápido. Passou assim como uma mosca na minha frente e quando me dei conta já estava cantando os últimos versos da canção que estava projetava na parede (estava eu lendo?). LatinoaméricaAlma pelada, como disse Eli. E foi só assim mesmo que acabamos com duas ondas de ovações e eu não podia estar mais feliz de ter feito aquilo do lado daqueles quatro - uma família. Recebi tantos abraços maravilhosos e emotivos, cheios de amor. Um agradecimento - por que? O lugar certo pra se estar.
Ontem, me bateu tão violentamente quanto o vento do lado de fora. De repente me toquei que um termo inteiro havia se ido, havia escorrido das minhas mãos por entre meus dedos como areia. A nostalgia me pegou quando estava atrás da mesa de dj, na última Festa Latina que organizo. E como gosto daquilo! E como gostei de abraçar André, um segundo ano que está de visita. O semestre se foi e pouco resto antes de estar em São Paulo outra vez. Embora pareça muito longe: treze dias. Me enchi de perguntas. Será que fiz tudo que gostaria? Me dei tempo pra conhecer essas novas pessoinhas que são os primeiros anos? Será que consegui dar tempo pra mim mesma e também para os outros? Não há respostas; só abraços.