quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

big hard sun

Senti-se livre da ponta dos pés até a ponta dos dedos das mãos! Mesmo com o frio, senti o sol bater no meu rosto hoje e, UAU, como é bom! Não dá pra descrever o quão maravilhoso foi meu dia! E mesmo com a prova de História que eu arruinei ontem e os ensaios longos e exaustivos de Hamlet, consegui ter um dia extraordinário, começando com um despertar às 7h15 que me mostrou a lua se pondo no horizonte, fugindo para detrás das montanhas! (escrevi o post inteiro e a internet maldita me fez perder tudo)


Depois do almoço, consegui arranjar um tempo pra passar em Abrasevic com Tamar, Uri e Jochem. Consegui começar a editar meu vídeo, meu mais novo projeto (surprise, surprise!). Consegui, ainda por cima, passar um tempo ao lado de Tamar traduzindo nossas falas de Hamlet, com a ajuda de um livro mágico de capa amarela que nos mostra a versão originial e a versão moderna lado a lado. Simplesmente demos boas gargalhadas quando percebemos o que realmente estávamos dizendo quando liamos aquelas palavras nos ensaios anterior. Shakespeare realmente deveria aprender inglês antes de escrever todo aquele texto; deveria nos poupar de ouvir Snezjana gritando conosco por não entendermos nosso texto: "sério pessoas, o texto é tão simples! vocês não se dão nem ao trabalho de passar dois minutos trabalhando no personagem de vocês". Tudo isso num inglês ridiculamente pobre e incorreto. Ela simplesmente dirige a nossa peça com o roteiro em esloveno (que ela insiste em chamar de "eslovenish language") em mãos Queria só ver ela com o inglês tão belo que ela tem... Por exemplo, quando ela nos fala para entrar "por aquele 'tamanho'" (size) do palco em vez de dizer "por aquele 'lado'" (side). Ou quando ela diz que nosso ensaio é "vacas" (cows) em vez de "caos" (chaos). É, Snezjana não só é louca de pedra como também é um dos principais motivos pra eu sair do Teatro depois que apresentarmos Hamlet (o que pode ser em Fevereiro, em Março ou nunca, who knows). Foi uma decisão que eu tomei essa semana e que me dá um alívio, sabendo que vou ter tempo pra dedicar às atividades que eu gostaria e nas quais não consegui estar ainda 100% engajada por conta das aulas de Teatro, como MUN e trabalhos comunitários. Essa desistência vai me render Susac como minha mais provável residência no ano que vem, mas também vai me render muita liberdade e vai me render satisfação comigo mesma, com as coisas que eu vou fazer (o que não acontece nos ensaios de teatro). Depois de quatro horas de ensaio, hoje acabamos a nossa maratona e vamos ter que trabalhar o que temos até agora (quatro atos da peça) sozinhos até ela voltar daqui a um mês. Viva!
Depois do ensaio, tirei proveito da internet rápida de Abrasevic: skype por uma hora com minha querida irmã com dentes recém arrancados (coitadinha! tem que tomar sorvete no frio de 22ºC!). Depois corri pra Musala pra buscar um querido afegão (que demorou algum tempo pra ser convencido a sair) e fomos ao Blues Bar, onde há música ao vivo toda terça-feira! Acompanhados por Dilys, Sarah, Aurelia, André, Bengisu, Tamar, Uri, Bo, Naeem, Markéta e os visitantes (amigos tchecos da Markéta), dançamos e tiramos sarro da vida enquanto nos lembrávamos de provas, trabalhos e lições. Voltamos pra Musala dando muita risada e finalizei a noite com Bengisu, Bo e Markéta, sentadas todas juntas debaixo de cobertores no frio gélido de 2ºC, admirando as estrelas e a cruz brilhante lá em cima da montanha, ouvindo música e rindo da felicidade de uma terça-feira ensolarada e quente, pensando que o inverno é nada porém felicidade.
Acabo o dia deitada em minha cama, com minhas colegas de quarto em puro silêncio, absortas em seus sonhos. Provavelmente estão tendo pesadelos sobre a prova de inglês que terão amanhã e que representa o início dos "trial exams".

domingo, 27 de janeiro de 2013

desilusión

Talvez a semana mais difícil que eu tenha passado em Mostar...
Talvez por conta de uma amiga holandesa muito magoada chorando e tendo medo de chorar, acolhida em abraços brasileiro e tcheco. Talvez por conta de uma briga com a diretora de Hamlet, com a "invontade" e o sofrimento de estar no porão da residência ensaiando para uma peça que não parece se concretizar (mas que terá que se concretizar até o final de Fevereiro). Talvez pela chuva, pela dor nos meus pés pela falta de um sapato apropriado. Talvez pela estranha sensação de que tem algo muito errado entre os andares de Musala. Talvez por conversas que foram evitadas por meses e que finalmente aconteceram. Talvez por motivos infinitos e chuvas intermináveis e sóis surgindo no horizonte pra trazer uma paz momentânea.

A Semana Cultural da Europa Ocidental envolveu Países Baixos, Reino Unido, Bélgica, Espanha, Itália, Grécia e França. Foi uma semana bem agitada com todos os eventos acontecendo, mas os pontos altos dessa Cultural Week com certeza foram a aula de salsa e flamenco, a ceia com muuuuta comida, a festa mais sem noção de todas e, principalmente, o maravilhoso filme holandês chamado Turks Fruits, que é uma obra de arte.

Estou me preparando para uma semana mais difícil ainda: mais ensaios pra Hamlet, segundos anos absurdamente noiados e preocupados com as provas (essa semana acontecem os "simulados" das provas finais pra eles), minhas colegas de quarto me trancando pra fora do quarto, chuva e chuva, provas cansativas, mas talvez uma luz de esperança: começo dos meus ensaios pra formatura. Embora tenha desistido de ser mestre de cerimônia, essa semana vou pendurar meu tecido acrobático e começar a preparar minha performance. Se tudo der certo, sexta-feira estarei com os pés fora do chão, tentando relembrar tudo que aprendi e senti por vários anos.
Uma boa notícia veio aos meus ouvidos hoje: o Carnaval, que sempre significou calor e festa para mim, esse ano vai ser uma viagem de ski numa montanha chamado Jahorina, a 2h30 de Mostar! Mal posso esperar! Dizem que esse final de semana é uma delícia, que a atmosfera é muito boa, que todo mundo descansa das provas e da vida em Mostar, num hotel aconchegante.
A má notícia de hoje é que o aquecedor do meu quarto quebrou e nós três estamos congelando lá dentro. Não conseguimos ficar lá... Sorte minha que a minha cama é a única que não fica do lado da janela e o meu canto é o mais quentinho.
Hoke, pela primeira vez desde que voltei do Brasil, consegui arranjar tempo pra lavar minhas roupas, estendê-las, organizar meu armário e não ter nenhuma roupa usada em cima da minha cama. Consegui também skypar com meus pais, minha irmã e com minha querida co-ano, Isadora, no UWCM.
É, a vida anda um tanto quanto corrida. Eu diria que mais do que o normal. Mas também é minha culpa, porque não passei nenhuma noite aqui, desde que voltei, sem sair depois do jantar e voltar só pro check-in... É, a vida aqui não é fácil, mas é muito boa.

PS: queria deixar registrada aqui a maravilhosa manhã de sexta-feira que tive! Acordei às 5h30 da manhã pra pegar um taxi (que só encontramos na metade da caminhada) pra Susac! Tudo pelo aniversário do querido Uri (Israel). Os amigos mais próximos dele fizeram um café da manhã delicioso pra ele, pra sermos bem originais, já que sempre são jantares de aniversário. O problema é que os amigos mais próximos dele são todos "Mediterraneans" o que significa que, na nossa tentativa de não fazer muito barulho, acabamos acordando praticamente a residência inteira... Eu, Bengisu (Turquia), Lushik (Egito), Carme (Espanha), Mário (Espanha), Yuval (Israel), Tamar (Georgia/Israel), Maud (Itália/França), Sarah (França/Alemanha) e Chloe (Reino Unido - a única exceção). Foi um café da manhã muito gostoso e com muitas risadas, embora Uri estivesse muito sonolento pra expressar sua felicidade...

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

"um dia com Bo"

Minhas queridas amigas Markéta (República Tcheca) e Bo (Países Baixos) pegaram minha câmera emprestada na última sexta-feira (um dos únicos dias em que não choveu) e fizeram uma galeria de fotos da sua aventura de exploração pela cidade (basicamente as redondezas do colégio e a Old Town).
link para a galeria online criada pro Markéta. Estou tentando convencê-las a fazer uma exibição em Abrasevic. As fotos mostram muito da beleza, da nostalgia e das cicatrizes da cidade.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

esse lance de tempo nunca funcionou

Chegando da escola, encontrei minha colega de quarto adormecida, um quarto quentinho e meu canto arrumada (pra variar um pouco, já que na última semana eu só entrei no quarto pra jogar as coisas pra dentro e depois saí pra algum lugar). Depois de ter tido uma verdadeira palacinka (panqueca bósnia) com amigos um tanto quantos loucos, senti algo estranho. Deitei na cama e abri meu computador com uma ideia determinada na cabeça. Liguei o filme que me serviu de inspiração em tantos momentos da minha vida e simplesmente tive que me segurar pra não continuar o assistindo. Na Natureza Selvagem é um filme pesado, um filme que sempre me traz um aperto e que ao mesmo tempo me traz essa calma e essa vontade louca e irresistível de me aventurar, de viver, de ser feliz.
Depois de 25 minutos de filme, fechei meu computador e resolvi escutar 5 a Seco, como tenho feito nos últimos dias quando não estou escutando nem Gotan Project nem Le Luci Della Centrale Elettrica. De repente, dei-me conta de algo que já fazia faz tempo: tive um clique e me dei conta de que sou um paradoxo. Quero tudo aquilo que não sou, tudo aquilo do qual pareço estar me afastando a cada dia. Quero sair pelo mundo, quero ser completamente independente e livre. Mas enquanto meu coração vai se enroscando em amores, amigos e pessoas incrivelmente maravilhosas pelos lugares que passo, parece que fujo do meu desejo. Parece que Alex Supertramp esteve tão certo em seus últimos minutos de vida, que, sei lá, tudo na vida é tão incerto e incompleto; o tempo tão limitado e pegajoso...


"Os únicos presentes do mar são golpes duros e, às vezes, a chance de sentir-se forte. Eu não compreendo muito o mar, mas sei que as coisas são assim por aqui. E também sei como é importante na vida não necessariamente ser forte, mas sentir-se forte, confrontar-se ao menos uma vez, achar-se ao menos uma vez na mais antiga condição humana, enfrentar a pedra surda e cega a sós sem outra ajuda além das próprias mãos e da cabeça."

domingo, 20 de janeiro de 2013

oceano

Eu tenho uma lista imensa de canções que na minha cabeça me trazem paz. Talvez, nessa manhã nublada e chuvosa, eu encontre algo. Talvez eu olhe pro ontem e dê um sorriso enquanto escrevo.

Ontem, Bo contou-me que me ouviu falar duas coisas que eu nunca havia falado em todo o meu tempo no UWC. Enquanto cozinhávamos para a festa surpresa que organizamos no porão de Musala para Chloe (Reino Unido), na frente do fogão da cozinha de Musala, eu contei pra ela que estava um pouco homesick e ela ficou um tanto quanto surpresa.
Depois da festa, de termos saído pra um lado desconhecido de Mostar (eu, Bo, Aurelia e Markéta), de termos enfrentado uma falsa festa latina em Old Man's e de termos tido um dos momentos pós-festa mais divertido de todo o meu tempo em Mostar (com direito até a sermos trancadas na cozinha pelo nosso querido amigo Quinten até que resolvemos ajudá-lo a limpá-la), nos pegamos sentadas no corredor do segundo andar, em algum lugar entre os nossos quartos. Depois de um tempo de conversa, virei pra ela e disse que precisava ir dormir. Ela começou a rir e então me contou sobre as tais duas coisas.
Talvez o UWC mude as pessoas. Mas só talvez, eu diria.

PS: queria me desculpar pela falta de fotos. Por conta de chuva Mostariana incessante, tenho medo de sair com a minha câmera e acabar estragando-a.

sábado, 19 de janeiro de 2013

viver sem escolta

Chegar de uma noite um tanto quanto surpreendente e deitar na cama da sua colega de quarto que está usando seu computador. Limites, vida, lugares obscuros nos quais não conseguimos entrar. E uma das coisas que sempre me impressionou sobre Veronika é sua opinião tão forte e tão diferente de tudo que eu já havia ouvido. Simplesmente o jeito de encarar, de sorrir, de enfrentar e de impor limites a si mesma (o que, geralmente, na vida dela, significa não ter limites nenhum).
Conversamos sobre o presente e o futuro. Sobre o medo que eu tenho de não descobrir nunca o que eu quero, ao mesmo tempo que eu tenho tudo planejado. E o conselho que ela me deu foi: "descubra quais são seus limites, o que te faz ser o que você é. São seus pais? São seus desejos de viajar e conhecer o mundo?". E não tenho a menor sombra de dúvidas de que foi o melhor conselho que eu já ouvi sobre o meu futuro. O que eu mais gostei foi perceber que eu nunca parei pra pensar nisso. Embora eu tenha noites e noites, madrugadas e madrugadas de pensamentos que não me deixam dormir, eu nunca indaguei sobre isso. Não tão diretamente, pelo menos.
Nossa conversa foi interrompida por uma querida amiga entrando no meu quarto com um pote de Nutella pra dividir comigo e fui arrastada para uma conversa que rendeu muitas risadas, como sempre acontece quando estou com Marija. Depois que ela se foi, voltei pra cama de Veronika e pudemos conversar por mais um pouco antes de eu resolver jogar todas as coisas que estavam sobre minha cama no chão e dormir.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

indo pra todo lado

Um dos dias mais incríveis que já tive em Mostar. Depois de uma manhã exaustiva de aulas, com o aquecimento da escola não funcionando e todo mundo congelando dentro das salas de aula, resolvi dar uma fugida da minha residência e da depressão estudiosa de segundos anos. Caminhei pra Susac com Sarah, Bengisu e Mario, tudo pra visitar minha querida egípcia, Lushik, que pegou uma pneumonia durante as férias de inverno (que ela por acaso passou em Susac). O quarto dela virou praticamente uma sala comunal, com milhões de pessoas entrando e saindo pra ver como ela está. Tomamos chá israelense, comemos um doce turco (bom demais!) e demos risadas deliciosas. Passei um tempo no quarto de Mirza e Pasha, dois caras divertidíssimos, e ainda fui surpreendida por um amigo holandês voltando de férias com umas botas de neve do tamanho da cabeça dele. Ganhei panquecas egípcias e crepe francês antes de sair na chuva com Maxi e Jasmine. Andamos debaixo da chuva até o galpão de escalada e achei o lugar perfeito pra pendurar meu tecido acrobático (mal posso esperar!)! Chegando em Musala, ganhei um abraço maravilhoso e saudoso de uma loira de cabelos agora curtos que estava desfazendo sua mala. Reunimos quase todas as mulheres primeiros anos que moram em Musala e tivemos nossa primeira oficial "Tea Party"! Foi incrível, com direito a uma investigação pra achar a maldita chave da Sala de Música, que desapareceu antes das férias e não apareceu até agora (o que significa que eu não tenho onde tocar violão..). Com direito também a doces tchecos, waffles holandeses e mais doces turcos! Infelizmente, a noite não terminou bem, com notícias muito desagradáveis que me fizeram desistir de estudar e resolver ir dormir...
laku noć

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

matador

Queria poder contar aqui, escrever e rescrever o quão belo foi meu mês no Brasil e o quão belo foi assistir a cidade de Mostar se aproximando de mim enquanto o ônibus passava pelo posto de gasolina e virava na estação.... Mas eu não vou me render à essa necessidade e essa obrigação louca que eu crio pra mim mesma, de forma alguma.
O que quero escrever aqui e expressar de todo o coração é que, uau, é tão bom estar de volta. É engraçado voltar, estando tão acostumada com o lugar, com as pessoas.
Hoje, antes do começo da Assembleia, uma Sofia pingando por causa da chuva absurda abraçou amigos muito queridos dos quais sentia muitas saudades.
E essa Sofia também se viu presa dentro de casa, por causa de chuva, depois das aulas.
Essa Sofia também se pegou odiando esse lugar durante umas duas horinhas, por causa da sensação de morte dentro de Musala, com todos dormindo e estudando.
Essa Sofia, além de tudo isso, parou e se deu conta de que, ué, não dá pra julgar como esse inverno vai ser por esse dia miserável. A chuva, a neblina, a falta de qualquer luz solar me deixou pra baixo, sem dúvida.
Fui questionada por um amigo "por que no sonríes?" e eu percebi que tinha uma cara enfezada, de saudade de um Brasil que me fazia odiar o calor com todas as minhas forças, querendo arrancar todas as minhas roupas. E no meio de toda essa confusão de temperatura aqui, de sair pro quiosque, pro mercado ou pro muro de Musala uma hora de camiseta, outra de malha, outra de jaquetona... Essa mudança de temperatura, de luz, de clima, de ambiente está sendo louca pra mim. Dizem que o seu primeiro inverno é sempre o pior...
Mas além de tudo, já sinto que segundos anos estão absurdamente pressionados por deadlines, tendo que entregar a EE deles até o final de semana, entre outras milhões de coisas. Principalmente applications pras universidade.
No final das contas, nada como estar sentada no quarto #4, segundo andar de Musala, vendo os minutos e as horas passando, esperando que os próximos dias sejam melhores. Ah, e claro, que receber um carta da minha co-ano, Clara, que estuda no Mahindra (colégio do UWC na Índia), falando que a carta era pra me alegrar em dias difíceis, não podia ter acontecido em better timing.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

de telhado em telhado

"Sinto que hoje novamente embarco
Para as grandes aventuras,
Passam no ar palavras obscuras
E o meu desejo canta --- por isso marco
Nos meus sentidos a imagem desta hora."
Sophia de Mello Breyner Andresen

Depois de uma semana completamente louca, acelerada, corrida e intensa, de pouquíssimas horas dormidas e de sensação de estar em um limbo entre uma casa e outra, é hora de fazer a mala. Hora de colocar de volta na mala todas aquelas roupas e todas aquelas coisas que eu trouxe de casa pra passar um curto período de tempo nessa minha outra casa. Os armários já estão vazios de novo e a maioria das minha roupas está em cima da cama. Da próxima vez que vier pro Brasil, vou pensar no tempo que eu vou ficar aqui e não trazer todas as roupas do meu armário...
Preparando-me psicologicamente (e também tentando não pensar na dor que estou sentido na raiz de meus cabelos) para minha viagem de 24h e pra minha chegada numa cidade lá naquele paisinho x.
Chega de limbo...
Chega de noites mal dormidas por conta de pernilongos e calor infernal, de horas no transporte público, de olhos arregalados com o custo das coisas. Chega também de sofá delicioso da sala, de pular na minha irmã enquanto ela dorme, de comida japonesa e de programas tão diferentes com amigos tão diversos. Tudo tem seus lados bons e ruins. Já é hora de pular pro telhado ao lado (que fica à 10 mil km, na verdade).

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

eu quero mais é te ver na pista da vida

Quando a gente percebe que não tem casa... Ah, mas eu sempre soube que eu não tinha os pés no chão e que eu ia me achar em muitos lugares que fosse... Por isso penso na camaleoa... Mas talvez eu nunca esperasse que fosse mergulhar tão de cabeça num novo estilo de vida, num grupo completamente novo de pessoas, num lugar completamente diferente e longe de tudo aquilo que já tive. Mesmo que nada que eu já tive fosse realmente meu...
Mas eu nem sinto que eu fui. Já falei isso várias vezes pra mim mesma, pras pessoas e aqui no blog. Mas de verdade mesma, só senti isso hoje, quando vi um amigo vestindo uma camiseta tão familiar. De repente, tudo veio à minha cabeça e eu me dei conta de que eu tenho uma vida só. De que o tempo e o espaço não separam línguas, pessoas, personalidades... 'I'm just a tree, my roots are with her, but my leaves are with thee'.
E agora tudo de novo: despedidas repetidas que parecem se tornar mais fáceis, mas que me fazem sentir diferente... Me fazem sentir esse novo preenchimento de ser e estar que não posso nem traduzir em palavras, mas de saber que não estou partindo e que só estou pulando de canto em canto desse mundo, mas sempre retornando pra essa terra natal, pra esse sangue e amor latino, pra esse calor infernal que me obriga a ligar o ventilador do quarto, pra um bacalhau quente e delicioso na mesa da sala... One day baby, we'll be old and think of all the stories that we could have told.
Já nessa sexta-feira deixo São Paulo mais uma vez pra voltar pra um cantinho novo da minha vida, uma casa no final de uma rua, um prédio laranja gigantesco numa linha de frente, um parque verde, amarelo, vermelho, branco (dependendo da estação), uma cidade inteira a se explorar. Sei que vai ser um semestre tão novo e tão doido. Será um semestre de sentir muita falta de tudo isso que eu percebi amar e amar e amar aqui. Porque o primeiro semestre foi um mergulho tão profundo que só me dei conta de que já havia vivido tanto algumas poucas vezes. O segundo semestre será lindo lindo lindo, como diz minha segundo ano no UWCCR, Raísa; será repleto de amor, de pessoas que já sinto um carinho tão forte. Vai ser um semestre de muita correria, muito cansaço, muita diversão e muita paciência com o estresse dos segundos anos que moram em Musala. Um semestre de... ah! tanta coisa que fico tentando descrever e pra quê? Deixe que venha e que viva e que vire e desvire...! Sentir com todos os nervos do meu corpo, com todos meus desejos pelando, com toda a curiosidade que eu tenho de respirar e pular e dançar e cantar...!

sábado, 5 de janeiro de 2013

renovação e intimidade

Depois de uma semana completamente maravilhosa na praia, sem internet e qualquer acesso à Mostar e aos seus habitantes internacionais e locais, percebi que sou apaixonada por esse país. Sou apaixonada, acima de tudo, pelas pessoas que me cercam, pela natureza brasileira e por essa cultura que não é perfeita.
Passar a virada do ano na praia é sempre uma delícia, apesar da lotação e do trânsito. Além de estar à beira do mar, ainda pude passar com uma das famílias mais queridas que eu conheço (e que nem é a minha). Passei a semana toda com meus dois irmãos Pedro e Mário, que não são irmãos de sangue, mas que fazem isso ser só um detalhe. Estar com eles é uma das coisas mais fáceis que eu faço na minha vida, porque é tudo tão exposto, natural e completamente louco. São momentos em que não há máscaras nem vergonhas, vem tudo de verdade verdadeira. Todos os caldos, os abraços e os mortais dados dentro da água do mar, fora toda a chuva, as horas e horas esperando e pegando o ônibus, as piadas mais idiotas do mundo e os papos cabeça mais estressantes... tudo tão verdade!
Os papos cabeça são a parte mais complicada de estar com o Mário e o Pedro. Porque eles me conhecem tão bem (mesmo achando que não conhecem) que não é possível esconder nada deles e absolutamente tudo que eu falo é usado contra mim de um jeito que ninguém mais consegue para me fazer refletir. A intimidade tem perigos, como diria a minha mãe, e a nossa irmandade e parceria absurdas só me mostram cada dia mais que os perigos não são nada comparados às vantagens: não há simplesmente nada que incomode e não possa ser dito, nada pensado que não possa ser falado e, na maior parte das vezes, transformado em brincadeira... É o cantar Djavan, Legião, Cássia, Cazuza, Tribalistas, Palavra Cantada, Nando Reis, Titãs, Tim Maia, e tantos outros em voz muito alta e completamente desafinada sem ligar. Como o próprio Mário disse: passar uma semana sem pensar nos problemas da vida, do mundo e desse novo ano que está por vir! Pode vir 2013, porque você começou tão, tão bem que eu não me importo com os problemas e os adeuses e os cansaços que você vai me trazer! Pode vir quente que eu tô fervendo!



Em apenas 6 dias estarei pegando um avião de volta para aquele país louco (que ouvi essa semana ser onde está toda a escória da humanidade) e incrível. Com a minha renovada paixão pelo Brasil Brasileiro, simplesmente vivo nesse meio aqui meio lá. Não tenho tempo pra quase mais nada aqui e ao mesmo tempo tenho tempo pra tanto!

"A amizade é uma forma de amor. E acho que se exerce na base da honestidade, porque a outra amizade, a amizade do 'eu amo você' e 'que lindo que você é' não é a verdadeira amizade. Os amigos, quando são amigos de verdade, dizem o que se deve dizer e isso diz respeito às pessoas e aos processos coletivos também. Então a amizade é às vezes difícil sobre essa base, porque atravessa períodos complicados. Mas quando a gente ama de verdade, no amor, na amizade, ama as luzes e as sombras de cada pessoa e de cada lugar." Eduardo Galeano