segunda-feira, 14 de julho de 2014

janelas de transição

Meus dois anos de UWC acabam do mesmo modo que começaram: comigo sentada no aeroporto de Munique. Por alguma razão, sempre acabo na Alemanha e me parece que sempre será um lugar de escala: um lugar de escala entre uma casa e outra, entre uma fase da educação e outra.

Em agosto de 2012, eu me sentava em bancos idênticos a estes e escrevia naquele caderno com a capa cor de vinho que ainda não tinha tantas cicatrizes do tempo e do caminho. Eu me sentava e escrevia esperando aquele voo pra Sarajevo e podia sentir o olhar de uma garota que estava sentada em minha frente. Levantei os olhos para encará-la e ela virou o rosto. Só quando chegamos na capital da Bósnia&Herzegovina foi que eu descobri que aquela era Liza. Era a mesma Liza que sempre sorriu pra mim nos corredores de Musala e da escola e com quem eu me encolhi debaixo do cobertor pra assistir The Beasts of the Southern Wild. Uma Liza que não vejo há um ano e de quem me lembro com saudade.

Em janeiro de 2013, encontrei Erika, Maud e Carme nesse mesmo aeroporto. Lembro-me perfeitamente de estar caminhando em direção ao portão de embarque e me deparar com uma Maud encarando as telas com horários de embarque. Ela tinha lágrimas nos olhos por ter deixado Florença - e mal sabíamos como as coisas mudariam pra ela nos próximos meses - e tudo que fiz foi dar-lhe um abraço. Enquanto esperávamos, Carme encarava meus recém feitos dreadlocks, incerta sobre sua opinião em relação a eles. Foi exatamente por essas janelas do aeroporto de Munich que eu vi neve caindo pela primeira vez, com uma excitação absurda enquanto Erika, que é de Minnesota, tirava sarro dos meus comentários repetitivos e de como meus olhos brilhavam.

São essas janelas gigantescas do aeroporto de Munich, por onde vi o branco da neve se espalhar sobre os carros que transportam bagagens, que me fazem sentir em transição. Finalmente, volto pra casa; aquela minha casa no Brasil. E é um tanto quanto surreal me dar conta de que aqueles dois anos passaram tão rapidinho e que foi há dois anos que vi Liza me encarando; que justo ontem comíamos empanadas e nos balançávamos atrás da casa de Marta.

Pois bem. São só transições.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

breve e pronto

Embora deteste finais, creio que sempre necessito afirmá-los, duvidá-los, explicá-los. Assim como o fizeram Jose e Jaime em frente ao corpo frio e morto de Marcos. Pensei que esse último e cru post, que chamei de haicai devido ao nome de uma música que me atormentou pela infância inteira, seria o último e, ao mesmo tempo, sabia que estava enganada, que não poderia acabar um blog sem explicá-lo, explicar seu nome brega e bobinho; sem refletir de forma amedrontamente nostálgica a importância de escrever durante os últimos dois anos.

Então o farei. Pronto; em breve; Virão alguns posts sonhadores, explicativos, que não dirão absolutamente nada com nada para você e, talvez, dirão tudo para mim. Mas com certeza não me darei ao trabalho de explicar o último mês em que estive viajando na Europa de pico em pico, de acordo com grandes amizades, na beira do Mediterrâneo.