segunda-feira, 21 de abril de 2014

temporariamente ausente (ou pelo simples ato de escrever)

"(...)

Acontece que sou terrível. Que me deixo atingir por banais acontecimentos e não me deixo atingir por brutalidades da vida. Porque sou assim, de uma pedra resistente ao vento mas irresistente às leves ondas do mar. Sou euforia em bocados e desespero em outros.

(...)

E porque sofro, percebo que existo. Porque me encontro nessas madrugas depois de um dia de criança de estudo, sabendo que nada é certo. Que minhas amizades são parte da falsidade do tempo. Porque sento sobre as pedras à beira do mar e percebo que em dois anos esse momento será só uma memória. E a realidade é que nunca vou saber se é uma memória ou a memória de uma memória. E nunca vou saber se estou cega ou se sou cega por acreditar estar cega.

Tenho medo. Tanto medo que me curvo sobre a mesa, sentindo a dor dos nós nas minhas costas. Medo da incerteza que antes me parecia uma lombriga prazerosa – mas afinal de contas, coisas que achamos excelentes se provam malévolas mais cedo ou mais tarde. (...)

Porque me permito sofrer, sei que vivo. Sei que sou tão simples quanto os que me cercam e tão complexa quanto os que não compreendo. Sei que ninguém me conhece e nem eu mesma. (...) Que sou só um bocado de lembranças de tardes no metrô, de riqueza e felicidade. Sou brutamente um nada que existe e, mais, vive. Com medo."

E por conta desse medo sobre o qual persisto escrever (e como um velho amigo me dizia, tenho uma paixão insolúvel pelo medo),  mas não só por ele, esse blog se encontra, temporariamente, num segredo pessoal. Ausente pra todos, menos pra mim mesma.

Porque ando escrevendo pouco no meu journal, está na hora de pelo menos escrever aqui por ninguém. Só pelo ato de escrever. Escrever pra mim mesma e ninguém mais.

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