domingo, 6 de abril de 2014

sobre abismos e céus

Acordo desesperada. Nem consigo abrir os olhos. Mas porque sinto tão arduamente o meu coração batendo, sei que já não estou naquele sonho. Sinto um pesar sobre o peito e um grito interno ecoa dentro de mim. Faço esforço para abrir os olhos e descubro que a minha bolsa está ao meu lado; que aquele inútil pesadelo era só uma bobagem.

Mas não era só bobagem. Era a manifestação do nível de frustração e desespero que atingi. Não só porque tenho que me manter sempre pra cima enquanto parece que todos estão rapidamente caindo num abismo de cansaço. Também porque meu computador não funciona mais e a dependência de um computador funcional nesse momento crucial do meu IB e da minha vida UWC fazem com que a situação seja, sem sombra de dúvidas, desesperadora. Tento me manter calma. Respiro debaixo da coberta e abro os olhos outra vez pra descobrir que meu despertador tocará dentro de cinco minutos.

Me pego pensando que talvez eles estejam certos. Eles todos que tiram sarro de mim por passar tanto tempo com primeiros anos. Ou eles todos que dizem brincando você vai passar o resto da vida no UWC, não? Me apavora. E suspiro, ainda ouvindo meu coração esbravejando e deixando minha respiração pesada. Por que arde tanto? Penso que talvez eu não devesse estar acordando num domingo de manhã para fazer uma viagem com primeiros anos, mas, em vez disso, eu deveria estar fazendo o mesmo que a minha colega de quarto. Acordando num domingo de manhã para estudar para os exames finais. Em menos de um mês.

Pavor. Pavor porque me assusta a ideia de pensar que não sei nada de nada. Me assusta a ideia de ficar pra trás enquanto sei que a maioria dos meus co-anos já iniciou o plano de estudos. E eu nem ao menos tenho um. Também sei que a maioria dos meus co-anos já sabe onde estará no próximo semestre. E eu nem mesmo tenho a confirmação disso.

Penso naquele momento de silêncio debaixo do céu marrom (azul? cinza? vermelho? roxo?), enquanto tentava esconder meu rosto. Porque queria esconder minhas lágrimas. Odeio chorar. E, acima de tudo, odeio chorar na frente dos outros. E sei que quando isso se torna inevitável, quando saí do meu controle, é porque o nível está alto. Mas não significa que eu esteja no abismo. E pretendo que isso esteja claro, sobretudo para mim mesma.

Meu despertador toca com a mesma música de sempre. Seixas. Levanto para me preparar, sabendo que nenhum dos três homens estará acordado quando eu os for encontrar na frente de Susac em vinte e cinco minutos. Mesmo assim, prefiro depositar um pouco de confiança. Porque já não me resta energias para não o fazê-lo.

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