Não sabia o que fazer. Se ia para o mar, mesmo que a chuva do lado de fora caísse, ou se admitia estar perdida. Perdida de fato e de direito. Porque ali estava, com uma barata, vagando pra baixo e pra cima, sem saber. Sem saber nada. E quando viu que não podia sair sem ser vista, esperou. Esperou pela deixa em que a porta do banheiro fecharia e ela poderia correr. Mas correr pra onde? Não sabia. Não fazia a menor ideia. Enfiou o livro e o caderno na pequena mochila como se estivesse fugindo por um longo tempo. E com medo de que a porta abrisse antes de que ela tivesse tempo de vestir o casaco e jogar a mochila nas costas, forjou em sua mente a conversa que aconteceria. Se apressou o máximo que pôde e deixou um bilhete mal escrito com um número de telefone que nunca usou. E partiu pela rua, como se estivesse com medo de ser perseguida pelos fantasmas de si mesma, sentindo a chuva cair e cobrir seu rosto de lágrimas que não saiam de seus olhos. Mas talvez ela quisesse que elas estivessem saindo de si, porque, pelo menos, poderia sentir.
"- Você tá bem?
- Não. Mas não tem problema.
- O que aconteceu?
- Nada. Não se preocupe. Está tudo bem, - sorriu - agora posso criar."
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