segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

#200

Quando criei esse blog, ele era um projeto. Um projeto pra manter minha família informada. Um projeto pra me manter sã, acesa, lucida.

Não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse sempre a novidade que é escrever, eu morreria simbolicamente todos os dias.

Enquanto preparo os pôsters pro Dia International da Língua Materna, me deparo com o pensamento de que o Português me mantêm sã. E, por consequência, esse blog, que por um tempo foi minha única forma de utilizar minha língua materna, me mantêm sã.

Apaixonei-me subitamente por fatos sem literatura - fatos são pedras duras e agir está me interessando mais do que pensar, de fatos não há como fugir.

Mais sã do que Moema de Nelson Rodrigues. Mais viva que Macabéa de Clarice Lispector. Mais racional e infantil que Dalinho de Ondjaki.

Para esquecer aquelas palavras, talvez fosse necessário esquecer a própria língua em que foram ditas, como nos mudamos da casa que nos lembra dum morto.

Porque sempre encontrei nas palavras uma forma de realização. Uma forma que não encontro nem mesmo no carinho dos que me cercam, nem na conquista de viver, nem na mobilidade inusitada dos meus anos.

A maior aventura de um ser humano é viajar,
E a maior viagem que alguém pode empreender
É para dentro de si mesmo.
E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro,
Pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros.

Desato meus pés e mãos. Me ponho a escrever. A pensar. Organizar-me e acostumar-me com ideias que envolvo e desenvolvo em seres perdidos entre páginas de cadernos.


E quero aceitar minha liberdade sem pensar o que muito acham: que existir é coisa de doido, caso de loucura. Porque parece. Existir não é lógico.

Escrever também não. É uma fotografia muda. Um silêncio; uma pergunta.
E deixo aqui, na postagem de número duzentos de um campo aberto, daquela camaleoa de anos atrás e anos futuros, numa escala remota, esse gosto pela literatura, pela minha língua materna, pelo simples ato de escrever. E, finalmente, (re)encontro em mim a criança apaixonada que fui. Encontro em mim o velho Bode Orellana de Henfil.

Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com seu amante.

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