sábado, 4 de janeiro de 2014

a casa caiu debaixo do telhado

Embora não faça nem dez dias desde que postei aqui da última vez, me parece que fazem anos. Me parece que deixei Mostar naquela van, ao lado de Chiara, há muito, muito tempo. A memória de estar deitada na cama de Marta, distraída com seus livros enquanto ela finalizava sua mala, me parece distante; quase como se não tivesse acontecido.
Desde a última vez que postei no blog, terminei minha monografia - Extended Essay. Embora tenha sido um alívio, de alguma forma me doeu saber que não haverá mais mergulhos em pesquisas sobre a música popular e sobre Tropicália. Na noite de Natal, enviei-a. Como uma nota de uma partitura, ela ficou pra trás enquanto outras vinham. E aí estava eu sentada dias mais tarde, no aeroporto de Amsterdam, depois de uma confusão quanto ao horário do voo, terminando minhas college applications. E me sinto outra pessoa depois de tê-las mandado. É ridículo, mas agora penso que está tudo na mão dessa coisa inexistente chamada destino e que não cabe mais a mim. Fiz o que fiz e agora foi. 
Desde a última vez que postei no blog, visitei três países diferentes, conheci pessoas diferentes, vi prédios arquitetônicos surrealmente belos. E passei um ano novo frio. O ano novo caótico de Berlim, em que as luzes e os sons dos fogos não estão distantes: estão ali, na sua cara, no seu pé. Você quer correr. Piadinhas sobre saudades das guerras. Não, basta tentar se esgueirar pela multidão na ponte. E como o tempo é bizarro! No ano anterior, pensava, estava em Ilhabela, na beira da praia com queridos amigos e aqui estou, em Berlim, em frente a trilhos de trem, com medo de fogos de artifício e com o gosto de Bailey's na boca. Essa idiota divisão de tempo que nunca me fez muito sentido; e nesse hemisfério oposto, me parece ter menos sentido ainda.
Mas aí pensei sobre o que passou. 2013 foi o ano mais intenso da minha vida. Mas não quero prolongar essa baboseira, porque pra mim basta pensar em Mostar, em relembrar meus segundos anos e lembrar meus primeiros. E claro, a esses co-years incríveis basta um sorriso, porque nada mais pode ser expressado. E não posso nem sequer expressar meu ano em fotografias, porque me parece que apareci em muitas poucas delas. Onde estive esse ano? Mas afinal, palavras e essas lembranças em minha mente me parecem muito mais válidas e encantadoramente duvidosas que esse retângulo colorido e preto-e-branco que produzo, mas não faço parte.
O cansaço não me permite pensar direito e reto. Penso meio torto, meio sem rumo, meio sem jeito. Assim como eu mesma nesse momento. Presa em um limbo diferente; um limbo de viajante, de alguém que carrega a mochila nas costas e tem sede de história, de conhecimento. E que esse cansaço dure muito esse ano, porque ele parece me trazer uma satisfação incontestável.
E que esses encontros fora de Mostar com pessoas de dentro de Mostar sejam eternos, suaves, tranquilos e prazerosos. Essa prévia me trouxe alegria, mas me trouxe uma aflição unicamente desesperadora. E aquela promessa de ano novo - embora eu as odeie - se esconde debaixo do meu travesseiro quando me ponho pra dormir.

"Hay personas que piensan diferente. Mi amigo, por ejemplo. Tu eres una de estas personas. Me encantó conocerte."

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