Adeuses acontecem em estações de trem, em aeroportos, em
portões e em camas. Nunca se deve interromper um grupo
ou um casal de pessoas se despedindo. Não se interfere no momento em que há
coisas ficando pra trás e coisas indo. O movimento fixo e fluxo e sem-jeito que
há naqueles compassos de abraços é unicamente limitado em termos de tempo e
espaço. Seria como se jogar nos trilhos do trem. Também não se deve olhar muito; porque o olhar, invejoso ou não, transforma o campo energético em uma fumaça que se dissolve.
O jeito correto de dizer adeus é calculável. Primeiramente,
deve-se segurar as lágrimas o máximo possível e conter as palavras. Nesse
momento, a palavra não é necessária. O mais necessário é o uso dos braços para
se colocar os corpos juntos um ao outro. Às vezes, sentir o batimento cardíaco
do outro – que não é o você. Embora os dois batimentos às vezes se misturem e
sua percepção seja incapaz de distingui-los. O tempo do abraço, no entanto, não é calculável. E, também, um abraço mais longo não necessariamente significa mais amor, mas saudade. O tempo do abraço é sempre decidido e imposto pelos participantes desta.
Há pouco a se fazer depois dessa
intensa troca de calores, pois os corpos devem se separar e partir. Não se deve
chorar. Os batimentos cardíacos se dispersam. O próximo passo é a troca de olhares entre você e o outro. E aí você se
vai. Ou o outro se vai. Alguém se vai. Talvez pra logo voltar. Talvez, nunca mais.
Crônica inspirada em Júlio Cortázar
Dedicada à Laila Kontic.
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