Um mês atrás, quando eu finalmente começava a pensar nas minhas college applications, uma frase pulou na minha cabeça e ela não desgrudava. Eu dormia e ela ainda estava ali quando eu acordava. Tão catchy. E ela não me parecia certa, nem apropriada. Me parecia brega demais pra definir quem sou. What defines me as an artist is what defines me as a traveller; eu dormia, pensava, comia, olhava pela janela. Naquela longa viagem que sempre me dura poucas horas de sono e muitas horas de Caetano, Lenine, Maria Rita, Calle 13.
Por mais que a frase me pareça quase que insuficiente (como colocar esses dois assuntos juntos de tão forma tão concisa e simplificada?), há algo de tão verdadeiro nela. E é essa sede que eu tenho quando olho pela janela; essa vontade de tocar e ver tudo, de não querer pregar os olhos pra não perder nada da vista. Se sou artista? Bom, o que diabos é ser isso. Carregamos - todos - essa alma de poeta perdido no mundo (como era mesmo aquela frase estampada nos muros de Viena?), buscando algo impreciso, perdido nas palavras da nossa própria loucura. E vagamos. Vagamos por vagões acesos e bancos apertados, sem saber o que buscar. Mas, na verdade, sem saber o que achar.
Quando viajamos, vivemos as três necessidades básicas na pele, enquanto temos que buscar atendê-las, respeitar nosso próprio corpo. Como Zórbas diria, nosso corpo é nosso burrinho; se não o alimentamos, ele vai nos deixar no meio caminho. Comer, dormir e beber. Mas se fosse só isso, por que viajaríamos? E há aí uma pergunta que eu não sei responder, não sei generalizar. Só sei por que eu viajo. E sei por que sou essa poeta vagante e inusitada. Porque quero ver, tocar, sentir. Aquele vento que sopra diferente em cada lugar. Aquela energia que prédios emanam, que bares emanam, que pedestres emanam, que bondes emanam. As cores que estão nas calles, nos telhados das casas, na faixada dos prédios, nos rios, nos castelos e na fumaça da nossa imaginação. Porque somos esse pedacinho tão pequeno de nada, no meio do nada, sem nada. Somos viajantes eternos. Não importa se entre países, entre estações de metrô, entre bares, entre salas de aula. Somos seres andantes, andando em direção ao desconhecido ou ao conhecido, dependendo da nossa coragem, do nosso poder de fazê-lo. Mas estamos sempre muito longe de achar o que procuramos nessas viagens. E que, talvez, não seja nada mesmo. Nada, porém o nada. O Nada dentro de nós que botamos pra fora e pra dentro de novo. Ar.
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