Eu ainda estava nervosa quando Marta desceu do palco (após um grito "Marta linda!" de Lucas) e logo em seguida, Markéta subiu. Acho que me acalmei um pouco enquanto afinava o violão e ela anunciou pra plateia que estaríamos cantando aquela música em homenagem a Bo e Amber. Levantei a cabeça e vi as duas ali na frente, abraçadas, felizes, amadas. We care too much. E foi outra química natural que se desprendeu de nós pelo ar em forma de notas musicais, de palavras que por nós foram ouvidas tantas vezes naquela varanda que um dia pertenceu a Bo e agora pertence a Amber. Nossos tempos em Musala. E sempre me dá aquele aperto no coração e uma vontadezinha de chorar. Uma saudade muito forte; é o que sinto em relação a Bo, Markéta e Bengisu, de quem me afastei fisica e geograficamente, mas que ainda significam mais pra mim do que eu poderia imaginar. Sempre me surpreendo. Infinity.
A semana passou mais rápido do que eu poderia ter imaginado. E foi assim de um dia pro outro que as pessoas começaram a ir embora com suas grandes malas, com sorrisos no rosto em estar indo pra casa, mas com um brilho curioso nos olhos, evitando chorar. Sarah me disse que eu não estava sonhando, que, de fato, parecia que essas despedidas estavam sendo muito mais difícil pra todos nós esse ano do que ano passado, porque estamos tão mais próximos como uma comunidade. Unidade. E foi assim que me encontrei sentada em diversas camas, assistindo amigos empacotarem suas coisas e deixando seus quartos, deixando Musala e deixando Mostar pra trás pra um inverno tenebroso (o mais frio?).
Mas tudo isso foi apagado por um tempinho quando Marta e eu corríamos rua acima, nos sentindo culpadas por estar meia hora atrasadas pro nosso Latino Dinner, tentando criar as melhores desculpas pros meninos. Bullshit. Estávamos todos atrasados. E, na verdade, Simon chegou somente um minuto antes de nós e Noam e Lucas apareceram muito depois. Mas comemos nossos nachos e tivemos nossa divertida reunião parental. Acabamos o jantar com nosso Amigo Culto (estilo Brasília), que foi uma delícia e rendeu um relógio de bolso pra Noam, uma malha para Simon, luvas para Lucas (dadas por mim), um jogo de dardos para Marta e uma carta (que foi a prévia de um lindo presente que foi deixado no meu quarto durante a noite enquanto dormia) com um desenho da nossa caminhada montanha acima que aconteceu pela manhã (ir à escola no último dia de aula? Pra quê?). Família, é claro. E acabamos debaixo da Old Bridge, com Simon declarando que havia sido ali onde passara a primeira e a última noite do term. Os quatro deitaram no meu colo e dávamos risadas em frente àquele rio, no ar congelante de Mostar. Feliz, feliz, feliz! Un dia nos encontraremos en otro carnaval.
Nos movemos pra Black Dog, um bar em plena Old Town, onde nos encontramos com os 'restantes'. Mas queríamos uma palacinka e caminhamos em direção ao Palacinka Bar. Me deparei com Matea no meio do caminho. Foi um choque gigantesco encontrar uma segundo ano, ainda mais Matea, que passava tanto tempo no meu quarto. Choque. Eu e Elissavet continuamos caminhando, num silêncio processante da matéria daquele encontro em frente ao colégio.
Segundos anos às vezes são como esses fantasmas que nos perseguem sempre. Nos perseguem quando sentimos falta deles e eles parecem não se ausentar de nossas mentes e nos perseguem quando aparecem aqui e trazem com eles tantas memórias esquecidas. Encontrei uma carta na caixa do correio com um colar dentro dele, enviado de outro continente. Agora carrego os fantasmas no pescoço e os ombros pesam nesse alívio de sonhar com água de coco e com caminhadas na Paulista. Mas há muita, muita coisa que me assombra nesses dias.
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