sábado, 7 de dezembro de 2013

devaneios das once y diez

Termino a prova vinte e cinco minutos antes de seu término oficial. Não consigo dormir, embora tente de diversas formas: costas eretas, costas curvadas, mãos pendendo da mesa, mãos como travesseiro, a apostila da prova como travesseiro. Não sei por quê. Percebo o tic-tac do meu relógio de pulso e tento calá-lo. Não consigo. O tic-tac continua ecoando em mim mesmo que eu não consiga ouvi-lo de meu pulso. Então olho pra cima e percebo outra fonte intermitente de minha perturbação. O relógio na parede. Começo a narrar a situação, tentando fazer o tempo passar mais rápido – o que não me parece necessário. Começo descrevendo o incessante ponteiro e me pego perturbada com a minha metáfora de ponteiro em forma de cobra. Tento começar de outro ponto. O futuro. Vejo o futuro tão claramente. O futuro próximo segundo de minha vida... Passou! E outro! Meu futuro assim tão depressa! E que diabos é o meu futuro se não os centímetros que se descoloca o ponteiro? E aí penso no porque de estar sentada ali, naquela prova. Rio por dentro. Nem eu sei a resposta. E penso na definição de futuro, que pra mim parece tão diferente. Quando se pensa em futuro, se pensa em faculdade, trabalho, sucesso ou em casamento, filhos, família. Quanto ao meu futuro, prefiro pensar no meu estado mental, físico, emocional. Por que nunca me perguntam sobre esses meus desejos para o futuro? Porque é tão óbvio que eu quero ser saudável e feliz? Engraçado, às vezes tomamos certas coisas como premissas. Que coisa estúpida. Nunca é como estou, como estarei, como estava; é sempre o que faço, o que farei e o que fazia. Mas que desgraça de conjugações! Não sei conjugar em Espanhol (gusta o gustas?). Repenso uma das questões do teste. E eu perco tempo, às 11h10, pensando nisso tudo. O que é perder tempo? Porque sinto que perco tempo fazendo essa prova e perco tempo pensando no meu futuro acadêmico. Por que a sociedade quer tanto essa educação de alto nível, standardized? A educação vai muito além de salas de aulas, monografias e trabalhos acadêmicos. Por que passa pela cabeça que essas horas de estudo e esforço não me servem de nada além de tentar aproximar esse “futuro” de que tanto me falam? E se eu preferir gastar tempo com a arte? Não há futuro? É o que dizem. E queria que esses métodos tradicionais de educação tivessem menos significado. Porque nunca vai ser sobre como estou; vai ser sempre sobre o que faço. Eu faço ir à escola, faço estudar, faço aplicar, faço trabalhar. Mas eu não posso fazer felicidade, tristeza, saúde, amor. To do, to make. E queria mais tempo nesses segundos incansáveis regulados pelo ponteiro de segundos da sala G2. Olho pela janela e me deparo com o céu azul pleno, as montanhas marrons e verdes, mas, acima de tudo, me deparo e me encanto com as aves. Nunca me perguntei que aves negras são essas que sempre avisto pela janela. E agora as assisto dançando pelos ares, se juntando e se dispersando de acordo com o balanço do vento. Elas não pensam no futuro, na direção que o vento vai leva-las. Só dançam com a natureza. Sem fim. E eu, aqui, no meu mundo individualista e egocêntrico, pensando num futuro que não passa de uma cobra dançando em volta do centro do relógio. Traiçoeira, arrasta-me ao futuro e tento voar pra fora. Misericórdia.

PS: esse texto foi escrito após meus SATs, no verso do meu admission ticket por falta de outro papel no qual escrever

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