quinta-feira, 25 de outubro de 2012

um dia em Zavidovici

Um dia comprido. Fui acordada às 11h por um toque suave e imediatamente levantei a cabeça. Tive a oportunidade de ver uma bela árvore pela janela, com o sol abraçando suas folhas de outono.
Saímos para comer cevapi. Surpresa: finalmente um cevapi decente. Sentamo-nos em um bar, na frente de uma feira na qual Roma people vendem frutas e vegetais. Lembrou-me da feira de quinta (Terça? Já não me recordo) do lado da casa da Sofia.
Aguardei sentada no sofá, na sala de espera do dentista. Fechei os olhos e pensei em Mostar. Nas pessoas incríveis das quais já sentia saudade.

Atravessamos a ponte que passa por cima de Bosna, o rio que dá nome ao país - e que supostamente é poluído, embora tenha peixes. Caminhamos até a antiga escola de Adis. O cara é absurdamente popular. Entramos na sala de química, na de biologia e na de história. Senti-me estupidamente envergonhada na frente de tanta gente fascinada pelo fato de eu ser brasileira. Pessoas pedindo que eu dançasse samba ou perguntando sobre jogadores de futebol e basquetebol famosos. O professor de biologia fascinou-me contando que assistiu a um jogo do Santos (não sei contra quem) em Sarajevo trinta anos atrás: ele viu Pelé jogar ao vivo. Depois de um tempo conversando com o simpático senhor, ele admitiu entender porque Adis havia escolhido para estudar no UWC: ele via nos meus olhos o mesmo que via nos olhos de Adis. Isto é, uma vivacidade e um desejo poderoso de fazer. Adis sorria enquanto traduzia as palavras confusas do bósnio para o inglês.
Engraçado é que o povo daqui fica encantado pelo meu cabelo: preto, longo e encaracolado. Meus pais disseram que não viram ninguém de cabelos cacheados na BiH, mas não é verdade... Existem pessoas, mas são raras. E acho que ninguém tem o cabelo tão preto quanto o meu aqui...
Enfim, tomamos um café num bar chamado “Que Pasa”. Cidade pequena: encontramos Dino sentado com dois amigos. Em seguida, Adis me levou para ver um monumento da cidade com centenas de nomes de pessoas mortas durante a guerra e fui surpreendida com tantos sobrenomes conhecidos, pertencentes a colegas meus no colégio. E todos os sobrenomes – praticamente – terminam em “ic”.
Encontramos tanta gente na rua que é doido. Adis conhece todo mundo nessa cidade. O que é compreensível, considerando o tamanho. Conheci duas amigas super simpáticas chamadas Ines e Tamara: finalmente pessoas falando em inglês, tentando falar comigo diretamente ao invés de pedir que Adis fizesse o papel de tradutor. Tamara questionou-me sobre a minha escolha de estar na Bósnia-Herzegovina. Conversamos um pouco sobre a guerra e ela me explicou – como Adis já havia – que Zavidovici é uma cidade com pouca ou nenhuma divisão: ninguém se diferencia por conta da religião ou da “nacionalidade” e a igreja e a mesquita são literalmente vizinhas.
O sol já havia se posto quando chegamos em casa, pegamos nossos computadores e fomos para The Scene, um bar com wi-fi. Adis não tem wi-fi na casa dele e foi ótimo entrar em contato com minha família, com meus amigos lá no Brasil e com aqueles esperando em Mostar. Quando entramos, o bar estava vazio; quando saímos, deixamos os únicos lugares livres.
Tive um jantar caseiro: pimenta recheada (que nem em casa, mãe!) e purê de batata; para sobremesa: baclava (!!) e tiramissu (!!). Depois uma sessão de fotos para Adis, mostrando São Paulo, Paraty, Ubatuba, Iporanga... Deu uma saudadezinha da terrinha! Saudade de Paraty (para ti e para todos, parurulas), principalmente.






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