terça-feira, 18 de setembro de 2012

improvisando a vida


A vida é feita de coisas complexas. A vida é feita por um homem sentado na sua poltrona, com sua boina, debaixo de um cobertor vermelho. A vida é feita por esse homem, que tem um cesto com pelo menos 50 pijamas e um armário com pelo menos 20 calculadoras diferentes. Esse homem que não ouve e, quando fala, fala sempre a mesma coisa. Será que ele vive? Será que ele ainda quer estar aqui?
A televisão permanece ligada durante todo dia, mas o senhor encosta-se à poltrona e dorme. Dorme como se o dia  de amanhã não existisse. Afinal, o que são dias? O que são noites, meses, anos? Será que ele tem 70, 80 ou 92 anos? Nem ele sabe. E a impressão que as pessoas ao redor dele têm é que nem a Morte sabe.
Improvisando uma cena num porão que cheira a suor e cansaço. Uma cena de uma casa de idosos. Um personagem tem que morrer. Mas não dá tempo, porque o próprio tempo se acabou. E nem o tempo sabe. Nem o senhor sabe. E a Morte não sabe... mas a Primavera chegou.

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