Ontem, começou o CAS chamado Debate. Não tem nenhum segredo, o nome é autoexplicativo: é um espaço em que a gente discute formalmente determinados tópicos, no modelo do Parlamento Britânico, e tem a oportunidade de treinar a fala em público, entre muitas outras coisas. A melhor parte é que os três líderes do CAS são muitos legais: Ali (Paquistão; namorado da Bo), Jacob (Alemanha) e Anna (Holanda).
A primeira sessão foi muito boa! Foi hilária, na verdade. Primeiro porque o tópico era "Pirates are cooler than Ninjas!". Eu e Yuval (Israel) éramos o time da oposição e Lukas (Alemanha) e Anita (Noruega) eram o time da proposição. A melhor coisa foi que a brasileira e o israelita CONSEGUIRAM ser menos escandalosos e exagerados que um alemão e uma norueguesa!! No final, eles ganharam, porque, afinal de contas, piratas são mesmo muito mais legais do que ninjas... Mas o melhor argumento de todos era o nosso, de que os filmes sobre piratas são tão ruins (?) que eles precisam contratar só atores bonitos (cof cof Johnny Depp). Enfim, acho que participar do Debate Club vai ser muito interessante. E é bom não o ter como core CAS, porque eu vou aparecer só quando estiver entusiasmada e com vontade de me expressar.
Hoje finalmente tive a oportunidade de vivenciar uma das coisas que eu mais quero vivenciar aqui: o Marko (2nd year local), o Jacob e o Ali (sim, sempre eles) organizaram uma discussão sobre o conflito e a divisão étnica da Bósnia-Herzegovina. Foi simplesmente sensacional. E na verdade acho que não foi tão boa quanto poderia ter sido, mas eu gostei muito. Não aprendi tanta coisa nova, na verdade, mas é completamente diferente ouvir opiniões pessoais e realmente ouvir tudo aquilo que eu li sair da boca de pessoas que eu conheço. Me senti tão confortável ouvindo tudo aquilo...
Preciso contar um pouco sobre a discussão, porque ela foi interessante demais... As pessoas que mais falaram foram o próprio Marko, Damir, Dino, Ajsa, Amina e Sejla. Com a exceção do Marko, que é sérvio, os outros são bosniaks. Mas essa foi uma coisa muito discutida: até onde a etnia interfere na nacionalidade? Porque uma das coisas mais curiosas daqui é que, de um lado do rio, as lojas tem a bandeira da BiH, e do outro lado, a bandeira da Croácia. Quer dizer, qual é o sentido? Além do mais, por que aqui todo mundo automaticamente relaciona a etnica das pessoas com a religião? Sérvios são ortodoxos, Bosniaks são muçulmanos e Croatas são católicos. Não. Por que um croata não pode ser budista ou espirita ou qualquer coisa que ele quiser? E antes que você discorde de mim, não é como se eles não pudessem, porque eles podem. A questão é como as pessoas automaticamente assumem que um bosniak é muçulmano. Mas a Sejla, o Damir e o Dino falaram coisas sensacionais: eles não se dizem bosniaks, se dizer bósnios-herzegovinos; afinal, é o país onde eles nasceram. E eles direcionaram uma pergunta pros internacionais: "quando vocês ouvem alguém dizer que é croata ou sérvio, onde vocês acham que eles nasceram?" e todos nós, internacionais (éramos vários), respondemos que achamos que eles nasceram na Croácia e na Sérvia, respectivamente. Uma coisa curiosa é que, o Marko, por exemplo, não soube explicar o por que de ele ser sérvio. Durante a educação dele, os pais disseram pra ele que o bisavô dele era sérvio (sendo que o cara era, em termos de nacionalidade, macedônio) e que, por tanto, ele também era sérvio. E assim ficou.
Mas o Marko levantou um ponto muito forte. Que a questão não é simplesmente esquecer as etnias. As diferenças tem que ser aplaudidas, porque as etnias são, sim, diferentes (pra ser honesta, eu não vejo muito isso, mas eles dizem, então...). Que a questão é acabar com o preconceito e com a rivalidade histórica. E ele questionou todos nós sobre quanto tempo isso vai levar. Na minha humilde opinião, vai levar muito tempo.
A Sejla contou uma história muito interessante. Mostar tem duas rodoviárias, uma de cada lado do Neretva. Quando o ônibus vem da cidade dela pra Mostar, ele para primeiro na rodoviária do lado bosniak e o motorista do ônibus fala "quem vai para o outro lado, fique no ônibus". A Sejla falou que tem vontade de matar o cara, porque, segundo ela, não existe tal coisa como "outro lado", só "outra estação".
Na opinião de Damir (ele fala espanhol, caramba, adoro ele!
Bom, hoje era aniversário da Cristina (Austria). Óbvio que eu e Toam fizemos uma super comemoração com ela à meia noite e também mimamos muito ela (eu até paguei um sorvete!), mas eu queria fazer uma coisa brasileira pra ela. Eu já estava querendo fazer brigadeiro a algum tempo, e apareceu a oportunidade! Só que, pra minha decepção e tristeza, não tem leite condensado à venda em nenhum mercado de Mostar (acredita, eu procurei muito). Então eu tinha que fazer um leite condensado caseiro. Saí às 21h com Marija pra comprar leite em pó e os outros ingredientes num mercado na Old Town, com um vento insuportável e uma chuvinha típica do verão paulista. Quando voltei, bati na porta da Alisa (house mum) pra pedir o liquidificador dela. Mas ela não tinha. Porque meus queridos terceiros anos (que eu nem conheço) foram fofíssimos e fizeram o favor de quebrar o liquidificador dela no ano passado. Daí eu já estava desistindo, mas a Markéta e o Filip insistiram muito... Eu resolvi bater na mão mesmo, só que o leite condensado ficou... líquido. Demais. Consistência nem um pouco certa... Mas eu não desisti e levei ao fogo com manteiga e chocolate. Fiquei horas mexendo o maldito "brigadeiro" e no final continuou líquido e sem gosto de brigadeiro. Mas as pessoas gostaram bastante (na verdade a Cristina não pareceu gostar muito, mas beleza...). Imagina o quanto elas vão gostar do verdadeiro: meus pais vão trazer leite condensado e chocolate do padre pra mim!
PS: A Arela (Albânia) me contou que Caminho das Índias, a novela da Globo, passa num canal de TV aberta no país dela...
PS2: Essa chuva é igualzinha à chuva de verão paulista e isso me dá saudade da minha terrinha... Assim como o cheiro do leite condensado...
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