No meu primeiro dia na Bélgica, fui a um festival de música. Encantei-me com os prédios grudados de um vilarejo feito de tijolos, exatamente como eu os imaginava - Europa. Comi strogonoff belga, ouvi uma banda de seis irmãs, viajei numa mini van com uma família doidinha e muito divertida. Mas o que mais me impressionou nesse meu primeiro dia na Bélgica foi certa escolha: a escolha de língua cantada. Os belgas - que não falam belga - entre um flemish, um francês e um alemão optam por cantar em inglês. Não que bandas brasileiras não façam o mesmo, mas de todos os grupos que eu ouvi hoje, todos cantaram em inglês. Não porque é a única língua que eles têm em comum - nas escolas, teoricamente, todos têm que aprender ambos flemish e francês -, mas porque o inglês lhes soa muito melhor. Soa melhor pra compor, pra cantar, pra encaixar na melodia da música. Deu saudade do português. Percebi mais outra vez a beleza que é a língua portuguesa. Letras em inglês me soam tão banais e sem graça... Agora, letras em português - não todas, que fique claro - me parecem ter aquela magia, aquele chega de saudade, aquele encanto único e que parece tão supremo - embora não goste do uso dessa palavra. Caetano já dizia que saudade é essa palavra que é um lugar-comum na lírica luso-brasileira e um emblema da língua portuguesa, pois, além de ser um acidente etimológico inexplicado, cobre um campo semântico revelador de algo peculiar em nosso modo de ser.
Deixo-lhes uma Memória que talvez hoje me ajude a embalar no sono:
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão
Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão
Carlos Drummond de Andrade
¹Dom = 'Casa ' em bósnio/sérvio/croata
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