É a primeira vez desde que deixei Mostar que parei pra pensar de verdade nos meus segundos anos. Embora tenha respondido inúmeras perguntas sobre as fotos minhas que foram parar no Facebook abraçada a Nikola, sobre a formatura, sobre a rotação de alunos e a chegada dos primeiros anos; não tinha parado comigo mesma pra revê-los em minha mente, amá-los e os extrañar. Uma notificação no facebook me levou a uma foto tirada somente duas semanas atrás - embora agora me valha uns bons meses - que trouxe a imagem de Celia (Espanha), Colleen (EUA), Liza (EUA) e Anna (Países Baixos) à minha mente. E ela está lá martelando desde então, como que me implorando que eu chore, que eu soluce de agonia por não ver Colleen e Liza nunca mais; como que me implorando que eu respire fundo e pense naquele bowl amarelo, naquele ursinho de pelúcia, naquele vestido roxo (que temo ter perdido) e naquela caixa inteira que me esperam em Mostar e que são heranças que por essas maravilhosas mulheres me foram deixadas. E eu me recuso a chorar, porque só consigo ser brega e cafona e rir, sorrir e estar de novo e de novo feliz pela continuidade da estrada de suas aventuras e pela perversidade do curto tempo que a vida nos proporcionou para aproveitarmos juntas. Só consigo vê-las em minha mente fazendo planos para o próximo final de semana, para que ilha da Croácia iriam, se iriam hitchhiking, de bicicleta ou de ônibus.
Acho que fico feliz de não ter tido uma segundo ano tão próxima como Saffron foi pra Rhea. Acho que fico feliz porque não tive um segundo ano brasileiro que virasse parte da minha família e sem o qual não conseguiria viver em Mostar. Acho que fico feliz porque me despedi com abraços silenciosos. Acho que, afinal, sou feliz até quando me flagro escrevendo coisas emocionais e bregas demais pro meu gosto - como isso daqui. Mas sou o que sou. E uma mulher sábia que eu tive o privilégio de conhecer essa semana sorria enquanto dizia que a gente é cult mas gosta mesmo é de uma novela das 8. Eu odeio novela. Mas eu adoro de paixão a vida.
Essa vida aqui que eu deixei pra trás é repleto de luxo e de privilégios da minha classe social. E eu criei meu próprio drama de novela: saí dessa bolha e fui viver no outro lado do mundo, onde eu pude pertencer sem uma agonia me corroendo pela culpa. A liberdade me trouxe noções e esperanças de mim mesma e da vida. Eu preciso atingir a vida dos outros com essa liberdade. Assim como Liza, Colleen, Celia e Anna atingiram uma parte de mim com a vontade e a liberdade de vida de cada gesto e cada movimento delas. Uma das coisas mais belas é pensar nessas pessoas incríveis que você teve a oportunidade de conhecer, e foi isso que Clara disse à Chloe quando esta chorava seus olhos pra fora.
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