segunda-feira, 10 de junho de 2013

a cidade das luzes e anedotas

Me agarrou enquanto caminhávamos. Uma delas não quis atravessar a rua e causou nosso encontro com uma roda ao redor de casais dançantes que abafavam meu encantamento ao ver aquele prédio com pilares vermelhos outra vez em minha vida. Parei por minutos para olhar os pés - eu adoro encarar os pés de dançarinos. Depois encarei a luz que vinha da rua e que pouca luminosidade dava para os olhos de tais homens e mulheres, cercados por passantes, amigos, desconhecidos. "Vamos atravessar?", saí do meu transe e finalmente pude encarar aquele vão. Deixei minhas costas olharem aquela feirinha recém desmontada, ainda com estandes e lonas amarelas, enquanto meus olhos se voltaram para aquele prédio que é e sempre vai ser um símbolo da cidade luminosa. Meus olhos pousaram sobre o contorno vermelho de uma pessoa, enquanto a ansiedade, a nostalgia e a angústia cresciam na minha pele, nos meus olhos, nos meus ouvidos. Os carros passaram diante dos meus olhos como milhões de formigas andando para o formigueiro. Tudo que eu via dos automóveis era aquelas imagens tiradas em milésimos de segundos colocadas umas sobre as outras, mostrando os rastros dos carros que por ali haviam passado. A pessoa mudou de posição; seu contorno se tornou verde. Fui tirada da minha fascinação com um comentário risonho - do mesmo tipo daqueles dos quais eu tanto sentira falta. Pisamos na faixa de pedestres, nos lançando na rua e tropeçando no cinza e no branco, caminhando para um lugar distante. Quando eu pisei daquele outro lado, era como se tivesse atravessado todo um rio de símbolos que disparavam pela minha cabeça e eu senti a escuridão e a luminosidade da cidade num só piscar de olhos. "Eu sinto que agora tudo é muito grande e barulhento pra você". E, de repente, era aquele buraco, aquele vão, aquele concreto em cima de mim e aqueles ferros no chão como corpos abandonados e esquecidos em minha frente. Quis caminhar até a beira, até os degraus, até onde eu poderia ver aquele velho retorno abaixo e aqueles arranha-céus brilhantes e gigantescos diante da minha pessoa minúscula. Quando alcancei aquele lugar vazio que parecia reservado pra mim, enquanto outros espaços estavam ocupados por homens e mulheres e um violonista, por um segundo, foi como se todos estivessem me encarando, tentando entender porque eu respirava, ouvia e via tudo com tanta atenção, com tanto alumbramento e desprezo. E eu enxerguei toda a minha saudade dali de cima: tudo aquilo que não havia sentido por tantos meses e tudo aquilo que tinha ignorado pela última semana. Foram saudades tão contrastantes e tão bonitas que eu enchi o peito com aquela fumaça que nos persegue e soltei aquele ar, pisando sobre aqueles paralelepípedos que escondem pequenos brotos de plantinhas desesperadas a encontrar um espaço em meio a tanto. Fugi daquela sensação e outra vez meu devaneio foi interrompido por um chamado e, assim, nos fomos, deixando pra trás aquele prédio e aquelas mil sensações que se derramaram sobre minha cabeça naqueles poucos minutos na Avenida Paulista. Seguimos até a Augusta.
Na volta, andamos da Augusta até a estação Brigadeiro. E eu ainda num transe pequeno, escondido em algum lugar da minha alma que desejava pegar um papel e uma caneta e jogar tinta sobre meus pensamentos.

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