Tive um final de semana absurdamente intenso no âmbito social. Encontrei vários amigos: dei risada, me diverti, relembrei, esqueci, retomei, amei, senti saudade, me interessei, me surpreendi. Não parei em casa - nem sequer dormi em casa - e minhas horas de sono foram muito, muito limitadas e comecei a sentir um tipo de cansaço que eu não sentia há muito tempo. Mas a coisa mais importante do meu final de semana foi que eu não consegui evitar pensar nos protestos da semana anterior. Achei que depois de quinta-feira, ficaria acalmada e relembraria só hoje (amanhã?) no Quinto Grande Protesto. Errei. Não só minha sexta-feira quanto o meu final de semana me fizeram pensar o tempo inteiro naquilo. Talvez porque eu seja apaixonada por revoltas, revoluções, gritos e desabafos. Talvez porque uma parte de mim está traumatizada de inúmeras formas.
Meu final de semana incluiu momentos como quase esgoelar um PM quando Vitória (UWC Costa Rica 2013-2015) tentou entrevistá-lo e ele disse que "paz era com eles mesmo"; tomar um susto absurdo e pular pra o abraço de Roubicek quando o primeiro fogo de artifício foi lançado na Festa Junina da Escola Vera Cruz - me remeteu à primeira bomba de quinta-feira -; perceber que o barulho de helicóptero agora me deixa maluca, paranoica e assustada; e contar dezenas e dezenas de vezes tudo o que aconteceu comigo na quinta-feira, já que a maioria dos meus amigos não compareu ao ato. Pensei muito em tudo que aconteceu.
Li milhões de entrevistas, reportagens, notícias, todo tipo de artigo, além de ter assistido todos os tipos de relatos audio visuais sobre tudo o que tem acontecido. Deixei meus amigos espalhados pelo mundo informados sobre tudo o que está acontecendo e pensei com carinho nos meus amigos que estão na Turquia no seu Seed Project, mas que se depararam com spray de pimenta e gás lacrimogêneo no caminho pra casa. Pensei, especialmente, no que tudo isso significa. Não é uma revolução. Não é como se estivéssemos tentando derrubar um regime. Na verdade, as manifestações não deixaram de ser pelo aumento da tarifa de ônibus. O problema é que me assusta o fato de todos acharem que o objetivo das manifestações mudou - porque ele não mudou. Me assusta que agora o ódio pela PM tenha crescido em muitos de nós e que a violência pode vir para fora nesse próximo ato. Eu não sei o que é tudo isso - realmente não. Até conversar com meu querido ex-professor de História não me trouxe nenhuma clareza... Não sei no que isso vai dar. Não sei se vai dar em alguma coisa. Me assusta pensar que, no momento em que a tarifa do ônibus abaixar - idealizando que isso possa acontecer, embora pareça um tanto quanto irreal -, a multidão que grita nas ruas se acalmará e esquecerá que, sim, essa geração tem que, sim, lutar pela melhoria, pela mudança. Chega de assistir o PT e o PSDB em suas disputas políticas estúpidas: está mais do que na hora do povo ser ouvido. E não estou falando de acabar com a desigualdade social - infelizmente -, mas falando de que a democracia tem que chegar nesse país. Chega desse pensamento de que a única forma de intervir na política é votar a cada dois anos. É hora de sair da cadeira, de se mexer e se mobilizar. São Paulo não está sozinha! Mas agora preciso conter meu pensamento que voa longe e acalmar minha mente que tenta capturar algumas frações dessa loucura que é minha mente pra ir me deitar e dormir, porque amanhã vai ser outro dia.
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio,
paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.
Sento-me no chão da capital do país às cinco horasda tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.
Drummond de Andrade
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