terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

vulcão da liberdade

Depois de ter tirado uma segunda-feira off, dormido mais de 16h (algo que talvez eu nunca tenha feito na minha vida), eu, Bo e Markéta decidimos sair pra uma pequena diversão antes do check-in. Um acidente aconteceu e rendeu à Markéta uma ida ao hospital e um ponto no cucuruco. Mas ela está bem, não foi nada demais...
Voltei pro meu quarto, onde encontrei uma Aiša muito carinhosa, uma colega de quarto incrível! Resolvi dormir um pouco, acordar e estudar a noite inteira, já que eu tinha uma maldita redação de história pra começar. Obviamente que eu deixei pra escrever a redação pertíssimo do prazo final, porque é só assim que eu funciono. Peguei-me enlouquecida quando comecei a escrever às 4h da manhã, com milhões de abas abertas na internet, com todos os sites possíveis que consegui achar sobre o Japão durante os 1930's. Óbvio que o Facebook me distraiu um pouco, mas no final da madrugada, consegui ter mais de 800 palavras e ter feito reference de tudo escrito. Ainda precisava de pelo menos 200 palavras, mas ainda tinha tempo.
Thanks God It's Monday! - Graças a Deus é Segunda!
Quando deu 7h, o despertador de Aiša tocou e eu levantei pra puxar o carro, como diria meu pai. Entrei na escola de manhã e me deparei com os alunos do currículo croata fantasiados! Fez-me sorrir e lembrar que, apesar da chuva e do frio, ainda é Carnaval! A minha manhã foi absurdamente exaustiva, com nenhuma aula interessante. O clima na escola foi complicado graças à uma discussão gerada na House Meeting de Susac na noite anterior sobre a iniciativa que o Ecology CAS teve de implantar Meatless Mondays (Segundas-feiras sem Carne) aqui. Basicamente, a House Meeting deles transformou-se em uma baixaria, em uma gritaria entre locais (e Victor) e internacionais, que incluiu ofensas, chamando pessoas de gordas e pessoas gritando pelos seus direitos de escolher o que comer. Acho que às vezes é importante me dar conta de que essa não é uma sociedade perfeita, de que há pessoas com cabeça fechada. E aí vem aqueles argumentados falando "então vamos ter um Dia de Carne no qual os vegetarianos vão ter que comer carne!" e, bom, até ficamos conversando por um bom tempo sobre isso na aula de Español. Como sempre, a conversa acabou sendo direcionada para o fator de termos tantas bolsas pra locais (imagine que no Brasil mais de 200 pessoas se increvem pro processo seletivo da UWC e somente 9 pessoas são selecionadas, enquanto na Bósnia há o mesmo número de inscritos e mais de 40 bolsas; é óbvio que o comitê daqui escolhe os candidatos "menos piores"), o fato de que o número de bolsas pra locais vai ser aumentado no ano que vem e o fato de que os locais não se permitem viver toda a experiência do UWC, indo pra casa durante os finais de semana e etc.
Depois da aula, tivemos uma sessão de MUN sobre o Arms Trade Treatry (Tratado de Venda de Armas) no qual tive que representar o Irã. Pra compensar minha performance super ativa na sessão passada, eu entrei nessa sessão sem saber nada de nada (por ter passado todo meu tempo livre em História). Demorei um bom tempo pra conseguir achar na internet a posição do Irã e a sessão levou um caminho muito estranho quando eu e o Mário (Espanha), que representava os EUA, votamos contra uma emenda escrita por Colleen (EUA), que representava a Alemanha, na resolução escrita por Ali (Paquistão), que representava o Mali. Fiquei desapontada comigo mesma... Não tive uma boa performance nessa sessão e realmente espero melhorar isso na próxima.
Eu e Sjur (Noruega) saímos correndo da sessão pra ir até Palma, uma doceria entre Musala e a escola, para reunião de MOPS. MOPS é o CAS que é responsável por organizar eventos divertidos, como competições nas assembleias, sessões de massagem, girly nights, Valentine's day e coisas do tipo. A chuva de Mostar não tinha parado desde que eu tinha saido de Musala pela manhã e alcançou seu ápice exatamente nessa hora do dia, quando não havia mais nenhuma luz na rua.
Voltei pra Musala pro jantar e logo depois me enfiei no meu quarto pra terminar a redação de History. Depois de ter ultrapassado o limite de palavras, tive que cortar fora algumas coisas e finalmente enviei. Não me senti nada confiante quanto à redação. Ter escolhido o Japão como foco da minha redação foi uma péssima ideia e foi só mais uma das minhas estúpidas decisões pra me provar capaz.
Pelo fato de ser Carnaval, eu, Markéta e Bo havíamos decidido sair à noite e achar algum bar em que estivesse rolando uma festa. Hoje é o dia que os Bósnios-croatas chamam de Halloween: eles se vestem e vão a festas à noite. Enfim, o plano inicial era ir a Hemingway's, mas acabamos andando em direção ao Blues Bar (afinal, Tuesday Blues Day) e fomos atraídas por música alta e uma multidão de gente em La Cage. Nossa, que felicidade que nos dominou! Entramos no bar vestidas de camisas de futebol, caras pintadas com as cores dos nossos países e todos os acessórios possíveis. A música não era nada como música brasileira de Carnaval, era puro turbo folk (o estilo de música horrível dos Balcãs), mas divertidíssimo! Dançamos muito e muito e muito, mesmo com tanta gente nos encarando e provavelmente se perguntando que porra estaríamos fazendo ali.
Um dos pontos marcantes da noite foi quando saímos para tomar um ar e nos deparamos com um garoto Roma que devia ter cerca de 6 anos, debaixo de um guarda-chuva e com uma expressão facial que cortou algo dentro de mim. Bo insistiu que o levássemos até a padaria e comprássemos pão para ele, mas quando Markéta sugeriu isso a ele (em local, já que ela fala quase fluentemente), ele disse que não podia sair dali, que queria 20 km e que não podia sair dali. Bo e Markéta ficaram devastadas e esse tipo de coisa sempre me choca e me sinto absurdamente culpada. Por vir dessa realidade louca, de guerra interminável que o Brasil é, de luta pela sobrevivência nas ruas da minha cidade, garotos pedindo esmola não me chocam, nem se querer me tocam. Odeio isso, mas parece que é uma coisa tão comum, tão... normal. Me dá ódio pensar assim. E Bo e Markéta, que vem de realidades totalmente diferentes, ficam absurdamente chocadas e tristes e tocadas. Quando voltamos pra dentro de La Cage pra dançar, Bo e Markéta não conseguiram sorrir por pelo menos duas músicas e alguma coisa ficou martelando minha cabeça.
Voltamos pra Musala para o check-in, cantarolando na chuva após ter passado na nossa padaria favorita e termos ganhado cada uma um pão de graça! Estávamos absurdamente felizes, cantando Rolling in the Deep e logo em seguida "Paz Carnaval Futebol". Eu e Bo entramos no quarto de Bebo (Egito) cantando "Paz Carnaval Futebol, não mata, não engorda e não faz mal!", completamente ensopadas por conta da chuva mostariana. Alisa entrou no quarto e me mandou limpar a cozinha, já que é a semana em que meu quarto é resposável pelo Canteen Duty. Era tanta tanta tanta louça, mas me diverti absurdos enquanto diferentes homens entravam na cozinha e puxavam assunto comigo.
Carnaval é lindo. Carnaval não é só o Pão e Circo, mas é a energia e a felicidade de um dia especial, não importa em que lugar do mundo!

Um comentário:

Kelly Matias disse...

Acho engraçado que também acho que só funciono sob pressão, e isso me rendeu noites e semanas horrorosas.
Lindas fotos no último post, continue escreveeeeeeendo!
muito amor,

Kelly