sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

última noite & um pouco de música que me recuerda de Mostar

Voltar pra casa...? Bom, quando eu deixei Mostar no sábado de manhã, eu sabia que estava deixando minha "home". Tranquei a porta do meu quarto, na correria de estar atrasada pra pegar o ônibus, deixando travesseiros e cobertores em cima da cama, uma mesa completamente limpa e vazia. Tinha passado o dia anterior inteiro limpando o quarto, aspirando a bagunça deixada pelas minhas colegas de quarto. Tinha passado momentos incríveis com Bo numa noite anterior e percebi o quão em casa ela me faz sentir, embora constantemente tenha a ouvido falar da sua outra casa. Não estava tão certa de que queria ir pra casa, nem que eu teria um tempo tão divertido de volta ao Brasil, mas Bo me fez perceber a beleza de voltar praquela vida que um dia vivemos e perceber que na vida nem tudo se perde: amizades continuam, nossas cidades natais continuam, nossa família continua.
A última noite em Mostar antes de ir embora foi especial. Tomei um chá com a minha querida Iida, uma finlandesa adorável de cabelos vermelhos que eu provavelmente nunca mais verei na vida, mas que tocou alguma coisa muito funda no meu coração com suas opiniões fortes e sua personalidade encantadora. O Winter Gala foi um momento muito emocionante pra todos nós, amigos de Iida, que tivemos que ouvir discursos tocantes sobre a partida da nossa querida amiga. Mas no meu coração algo me faz sorrir, porque eu sei que ela está fazendo uma escolha tão sábia. E eu sei que ela não está escolhendo o caminho mais fácil - porque se acomodar com a vida em Mostar seria mais fácil - e eu me orgulho do fato de ela ser capaz de reconhecer que pode fazer muito mais na Finlândia do que em Mostar, sofrendo com o IB e aproveitando cafés aleatórios no meio da tarde. Nosso chá particular transformou-se numa barulheira na cozinha de Susac com Anita (Noruega), Haimeng (China), Dilys (Hong Kong) e Anna (Holanda) juntando-se a nós. Quando Iida me deu tchau porque tinha outra despedida com outro amigo, nos abraçamos de pé em cadeiras e eu sorri com um alívio no coração. Não senti dor nem tristeza, e sim uma leveza que a permitia ir, que prometia a mim mesma que eu ainda a veria um dia e que seria exatamente igual e que talvez pudéssemos nos aproximar ainda mais. Porque uma menina de cabelos vermelhos que um dia eu conheci em Mostar, que gostava de fotografia e de nudez, que sorria com todos os dentes e com os olhos meio fechados, vai mudar o mundo. Talvez não o mundo, esse globo gigantesco, mas o mundo do coração de tantas pessoas. E eu sei que ela pode tanto e fará tanto, não importa se em Mostar ou na Finlândia. O silêncio ficou quando ela saiu da cozinha, mas eu dei uma risada de leve e deixei-a ir...
Depois do chá, passeei muito por Susac, me despedindo das pessoas que ainda não tinham partido. Passei mais de uma hora hablando español com a minha querida catalã e apressando-a. Caminhamos até Old Mans em um dos grupos que eu mais gosto da vida em Mostar: Mario (Espanha), Carme (Catalunia), Yuval (Israel), Tamar (Israel/Georgia), Lushik (Egito) e Sarah (França/Alemanha). Rimos o caminho inteiro até chegarmos pra festa de aniversário de Pasha em Old Mans, que foi simplesmente fantástica.
O cansaço me arrastou de volta pra Musala com Si-Jull (Coreia do Sul/Alemanha) e passei a hora antes do check-in no andar térreo, passeando pelos quartos masculinos, rindo muito e dizendo "até logo" para espanhois, francês, bósnios-herzegovinos, afegãos, alemães, paquistanês, egípcio, austríaco, americano... Mil nacionalidades que não mais me importam: são pessoas que amo independentemente de suas experiências passadas, de suas culturas, de suas línguas. 
Subi pro segundo andar e adormeci com um sorriso no rosto, sozinha no quarto #4. Fui acordada por Katarina e Marija e conversamos por um tempo, enquanto elas riam e me chamavam de teddy bear por causa da minha posição debaixo das cobertas. Minha mala ocupava metade do quarto, com quase tudo que havia no meu armário algumas horas atrás.
Fui dormir (pela segunda vez) lembrando de um bar de esportes, de um isqueiro verde, de uma caminhada debaixo da chuva, de uma toalha no ombro, de uma canção de Bob Marley no corredor, um abraço na cozinha, um presente caindo de um prédio em nossas cabeças, um pulo que me fez bater a cabeça, uma porta trancada e um aviso... Tantas memórias da última noite.


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