domingo, 23 de dezembro de 2012

porteira



Sentada numa varanda, ouvindo Chico Buarque e Nara Leão, folheando um livro de Sebastião Salgado e refletindo sobre "Terra" na língua em que fui educada. A beleza de estar no Brasil, de perceber que isso é, apesar de tudo, tudo aquilo que conheci algum dia. Fui lembrada de tanta coisa que aprendi: Kant, Castañeda, Filósofos de Frankfurt... Coisas tão próximas que parecem tão distantes, que foram esquecidas. Acho que a importância de vir pra casa é poder juntar dois grandes pedaços da minha vida. Mentalmente e geograficamente, eu separei a minha vida no Brasil (e até mesmo a minha vida no CISV) da minha vida em Mostar. Mas estou vendo que, apesar de não ser tão fácil, é possível juntá-las.
Conversa vai e vem. Mas, na verdade, nunca precisamos falar muito quando MPB preenche o silêncio de tantos pensamentos em nossas mentes e tanta paz. Pergunto a ele o que ele acha que vai ter acontecido quando eu voltar pro Brasil da próxima vez. O que será que vai ter mudado por esses lados? E isso me faz rir, porque a vida é um mistério tão belo quanto atravessar uma porteira desejando encontrar um lar, desejando encontrar, por fim, um pedaço de terra que se possa nomear de seu - e no fundo nem acho que queira isso. Talvez seja só mais uma coisa que a sociedade transforma em norma, em sentimentos que pensamos sentir... Sentimentos que pensamos entender. Sentimentos que insistimos em nomear. Sentimentos que não se prescreve, não se prevê, não se esquece.

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