segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Milici & Sarajevo

Depois de ter encontrado com meus três israelenses favoritos no ônibus a caminho de Sarajevo, meu Sábado estava fadado a ser incrível. Chegamos à Sarajevo por volta das 13h e sentamos num café chamado Coffee Time na estação de ônibus, conversando e tomando expressos com Uri, Yuval, Tamar e Katarina. Era estranho deixar Mostar, mas estava feliz por ainda estar com esses queridos. Esperamos por uma hora: enquanto eu e Kaca (leia-se Katia) ainda tinhamos mais de três horas de ônibus até Milici - cidade natal de uma das minhas locais favoritas -, os israelenses passariam o dia em Sarajevo e partiriam para seu país na manhã seguinte.
A viagem foi rápida. Considerando que passei o tempo inteiro com os olhos vidrados na paisagem, na neve espalhada pelas árvores e pelas montanhas, cobrindo com uma camada fina o telhado das casas. E eu entendi porque, na aula de espanhol, minha professora, Clara, havia falado que branco era uma cor fria. Na minha cabeça, branco sempre havia sido uma cor clara e eu entendi que, na Europa, o branco representa a neve, o inverno, o Natal e o começo de um novo ano.
Chegando em Milici, fomos buscadas pelos pais de Kaca. Não falavam inglês, mas foram uns amores e Kaca traduziu absolutamente tudo para mim. Infelizmente, a neve na cidade já estava derretendo e estava um tanto quando enlameada. Estávamos torcendo para que nevasse nos próximos dias e não deixei de fazer a piada de que meu calor brasileiro simplesmente impedia a neve de cair. É a piada eterna que eu e o Bebo (Egito) fazemos.
Andamos pela cidade no sábado à noite e tive a oportunidade de experienciar uma vida noturna numa cidade (vilarejo?) de 15 mil habitantes que não tem iluminação pública nas ruas. Há dois bares na cidade onde velhos, adolescentes e adultos vão. Não diria que foi a noite mais divertida, mas estava muito feliz em estar com Kaca. Soube que fiz a decisão certa ao ir pra casa dela antes de voltar para a minha própria: algo como um meio termo entre viver em Mostar numa residência, rodeada de pessoas da sua idade, sem pais e uma liberdade grande e a vida numa cidade gigantesca no Sudeste do Brasil, numa casa com outras quatro pessoas e uma liberdade limitada pelas condições da cidade e por pais.
O Domingo foi um tanto quanto calmo. Além da comida caseira maravilhosa e do amor imenso doado à mim pela família Lalovic, passeei pela cidade (inteira). Assisti uma série a muito tempo esquecida com Kaca e dei muitas risadas com o irmão dela. Lazar é um garoto de 11 anos com um futuro brilhante. Nessa idade, fala inglês e alemão fluentemente (sendo que eu fui a única pessoa com quem ele conversou em inglês fora da aula de inglês e ele tem um inglês incrível), entende muito de informática e é absurdamente inteligente. Fiquei tão feliz em conhecê-lo e realmente estou curiosa para saber qual vai ser o futuro desse garoto.

Inverno coberto por Outono e rodeado por Primavera



Kaca e eu no bar Absinto




























Hoje de manhã, acordei às 6h pra pegar o ônibus para Sarajevo. O frio do lado de fora me obrigou a vestir bons casacos, o que me fez rir, ao me dar conta de que em 21 horas estaria provavelmente arrancando as roupas de tanto calor. Dei um abraço delicioso de até logo em Kaca e entrei no ônibus com muito medo de encarar essa viagem sozinha. Aprendi a falar várias coisas úteis que me ajudariam a chegar ao aeroporto. A viagem durou três horas e pude cochilar um pouco, além de assistir à neve no caminho. Deu tudo certo, embora o taxista tenha me roubado uma boa quantia de dinheiro pra uma viagem de 200m até o aeroporto.
O aeroporto de Sarajevo é muito assustador, por ser tão pequeno e deserto. A neblina do lado de fora causou o cancelamento de vários voos durante o dia todo e estava torcendo para que o meu não fosse cancelado. Depois de fazer o check-in e quase ter um ataque do coração quando o funcionário do aeroporto falou que minha mala estava 9 kg mais pesada do que o limite permitia e eu ter tido que explicar pra ele que, como eu estava voando pro Brasil, o limite da companhia aérea era mais alto.
Paguei uma nota preta por um café expresso e por uma hora de internet, mas valeu a pena porque pude skypar com Lushik diretamente de Susac. Dei a sorte de encontrar com Kim (Holanda) que tinha seu voo algumas horas depois de mim. Ficamos juntas conversando até que eu resolvi passar pelo embarque e esperar meu voo, deixando Kim pra trás. E o susto que levei quando me deparei com Mario (Espanha), Colleen (EUA) e Celia (Espanha) no portão de embarque. O voo deles havia sido cancelado pela manhã e eles iam pegar o mesmo avião que eu. O avião não apareceu na pista até 10 minutos depois do horário programado pra embarque, mas deu tudo certo e chegamos aqui em Munique apesar da neblina.
Um tanto quanto ridículo o fato de que o meu voo para São Paulo e o voo dos três para Madrid é exatamente no mesmo horário e não podemos passar essas 7h conversando, porque a União Europeia nos separou: no aeroporto de Munique, os passageiros que vão para países da UE vão pra uma parte separada onde eles tem que apresentar passaportes e etc na conexão. E eu, pobre latina, estou enfiada nessa parte isolada do aeroporto, rodeada de corintianos vindo diretamente do Japão para São Paulo (sim, eu tô sabendo que o Corinthians ganhou, mas eu não dou a mínima).

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