quinta-feira, 26 de setembro de 2013

o primeiro e o terceiro mundo sob ataque

Quando Aurelia veio me perguntar o que eu achava de ter uma Global Awareness sobre terrorismo e o 11 de setembro, eu dei risada. Uma risada sádica que veio do fundo da garganta. E como o Global Awareness acabou não sendo no dia 11 de setembro, o assunto meio morreu e eu deixei quieto, ser dar minha opinião. Algumas semanas mais tarde, fiquei sabendo que teríamos o tal Global Awareness e o tema seria "terrorismo". Levantei a sobrancelha e fiquei com uma pulga atrás da orelha. Nessa quarta-feira, depois da aula, todos nós sentamos no Spanish Room, que estava organizado de uma forma engraçada.
Eu não tinha a menor ideia do que ia acontecer naquela inocente sessão. Tudo começou com Anette, a primeiro ano norueguesa, falando sobre o Massacre de Utøya. Mais do que nunca, me fez perceber que as pessoas aqui têm passados que nós não fazemos nem ideia... Anette era ativa no Partido Trabalhista (Labour Party) da Noruega e estava nesse acampamento, numa ilha na Noruega, em 2011, quando o tiroteio aconteceu e 69 pessoas foram mortas. Foi muito emocionante quando Anette começou a chorar e ficou sem palavras por conta da emoção e, então, Anita (minha co-ano norueguesa) se levantou e se pôs a falar sobre todos os ataques em 2011, sobre a reação da Noruega e sobre o tal do massacre. Me deixou de queixo caído. Lembro de estar no México quando isso aconteceu e fiquei meio irritada com o exagero que as pessoas e a mídia internacional estavam fazendo. Claro que tinha sido trágico, que tinha sido um ato de terrorismo, mas me irritava que, só porque tinha acontecido em um país rico como a Noruega, a mídia estivesse dando tanta bola para aquilo. Mas, com a explicação de Anette e Anita, eu entendi melhor que aquilo havia sido absurdamente traumático para um povo tão acostumado com segurança, com bom estado de vida.
Mas o que deixou a sala em silêncio mesmo foi o depoimento de Ibrahim. Geralmente, Ibro (Iraque) não gosta de falar sobre assuntos sérios. Ele é muito divertido e brincalhão de uma forma tímida. Mas ele foi na frente de todo mundo, acompanhado de Yuval (Israel). Yuval entrevistou-o sobre toda a situação no Iraque, sobre a invasão dos EUA e sobre os ataques terroristas. Ele contou, com lágrimas no olhos, sobre como havia visto um amigo falecer em sua frente; sobre como quase foi atacado e teve que se jogar no chão no caminho para a padaria. Ele cresceu naquela sociedade em que as pessoas tiveram que se acostumar à situação do perigo constante. Eu vi os queixos caindo lentamente. As pessoas à ponto de chorar e o silêncio cobrindo a sala de uma maneira pesada, nada sútil. Eu sabia que Ibrahim já estava desconfortável, que já não queria mais falar. Mas as perguntas continuavam e as respostas se tornavam mais curtas, mais cansadas. Já havia conversado com Ibro sobre isso, enquanto ele me mostrava Bagdá no GoogleMaps; me mostrava onde ele havia 'ganhado' aquela cicatriz no braço por conta do estilhaço de uma bomba, onde o amigo havia morrido... Quando acabou, ficamos aplaudindo por um bom tempo e eu fui a primeira pessoa a ir abraçá-lo, dar um beijo muito grande nele e dizer o quão corajoso ele foi.
Dividimo-nos em grupos e acabei no grupo de discussão com apenas primeiros anos e com Yuval como facilitador da discussão. Fiquei impressionada - mas na verdade não esperaria nada diferente - com o choque dos europeus, com o quão insignificantes eles estavam se sentindo. Vários deles falavam sobre suas próprias experiências com terrorismo: o sérvio de Belgrado contava sobre o bombardeamento dos EUA, a belga contava sobre o ataque terrorista em Bruxelas alguns anos atrás... Mas todos admitiram que aquilo tudo era nada perto do relato de Ibrahim. Como era chocante ouvir o relato de uma vida como aquela...! E conversamos sobre a violência, sobre a validez de uma violência utilizada pra atingir paz e coisas do tipo. Mas eu sentia uma pesar na voz de todas as pessoas e, ao mesmo tempo, uma felicidade por poder ter esse tipo de experiência que só o UWC pode promover.

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