sábado, 7 de setembro de 2013

cabem três vidas inteiras

Coração não é tão simples quanto pensa
Nele cabe o que não cabe na dispensa
Cabe até o meu amor

Enquanto nos sentávamos na Wall de Musala, no nosso habitual espaço - especialmente meu, como uma moradora repetitiva de Musala -, esperando pelo nosso check-in, davamos risada sobre sermos 'melhores' que nossos segundos anos, sobre sermos criativos e fazermos coisas que eles nunca fariam; num tom de zombaria, mas também de verdade. Ogi (Macedonia) me abraçou: estranhei. Não estou tão acostumada a abraços em Mostar - os europeus são bem mais frios -, muito menos aqueles vindos de Ogi e Uri (Israel). Ogi me revelou que ele tinha abraçado muita gente naquele dia, que tinha sido um dia estranho. Dei risada; tinha tido a mesma conversa com Markéta, sobre como aquele dia tinha sido bizarro, sobre todos agindo de uma forma meio estranha sem motivo algum. Foi um dia de descobertas, na verdade. De uma montanha russa de emoções tão comum no dia-a-dia do UWC - mas à qual não estava mais acostumada. Tinha passado a tarde toda meio sozinha, na minha, enfeitando a minha parede branca: preenchendo-a com mapas da minha viagem pela Europa, com fotos de meus amigos do Brasil, do CISV, do UWC, com posters e todo o tipo de coisa (desde um leque espanhol até um poster antigo de Across the Universe); quando saí de Musala pra encontrar Markéta na ponte para irmos ao Climbing Hall, sentia uma irresistível vontade de fugir, de correr e me enfiar em algum lugar em que aquela angústia esquisita e inexplicável iria sumir. Mas fiquei ali na ponte, esperando pela chegada de Markéta, olhando para o Neretva e pensando. Quando ela chegou, conversamos no caminho ao Hall e foi só... um reflexo da nossa amizade. Talvez a única beleza de ser segundo ano seja ter tantas pessoas com as quais contar.
Algumas horas depois, quando me encontrei na "praia" (ou como Lucas e eu decidimos, 'riverside'), apoiada nas costas de Lucas, me lembrei. Voltou tudo à tona. E mais tarde, Mario (Espanha) me fez perceber que é algo que acontece quando estou com either one (ou com Lucas ou com Mario)... Essa coisa meio latina, a risada genuína e legítima, as piadas de alto (baixo) nível, o calor latino... Lucas e eu nos sentamos numa mesa de madeira, colocada sobre as pedras da praia, encarando Neretva e tivemos nosso momento sério e engraçado, sem nenhuma vergonha: é tão natural. Falamos sobre tudo - e mesmo assim, toda vez que conversamos, sinto que temos tantas outras milhares de coisas pra conversar -, sem nenhuma censura moral. Até nos misturamos no português e no inglês (embora tenha sido ele quem fez questão que falássemos em português), deixamos uma egípcia - quase uma adotada - sentar conosco - mesmo que ela não entendesse nada - e, ali, naquele pequeno espaço, coube nosso amor. Coube três vidas inteiras.

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