Tudo começou com duas horas de antecedência para acordar. Tirar as
coisas do varal: check. Colocar roupas de inverno na mala: check. Uma aula
insuportável de matemática e um abraço longo em uma certa holandesa, sabendo
que só a veria dali a uma semana. Almoço ao lado de uma turca muito querida que
parece que passo mais tempo longe do que perto, de tão grande que é a saudade
quando acabamos nos desencontrando por estarmos em aulas completamente diferentes
e projetos opostos, mas que é a minha metade aqui (principalmente pelo cabelo
negro cacheado).
Amigos indo pra Vienna. Amigos indo pra Budapeste. Amigos indo pra
Zagreb. E “locais” indo pras suas casas pra aproveitar o feriado com a família
e amigos antigos. Depois de uma semana me perguntando se deveria aceitar a
proposta de Adis para ir pra casa dele, pensei “por que não?”. Será incrível
experimentar um feriado muçulmano!
Achava que o trem sairia às 18h. E depois de ficar um bom tempo nos
degraus da escada na frente de Musala conversando Toam, achei que Adis havia
desistido de me levar pra casa. O jantar: batatas fritas e salada. Amigos
felizes por acharem que eu acabaria ficando – já que abandonada. Mas um taxi
para de frente da residência e Dino e Adis pulam pra fora com mochilas e malas.
O trem só parte às 18h40.
Primeira viagem de trem: sem lugar pra sentar. Sentei-me em cima da mala
do Haris e fiquei horas ouvindo Almedin tirando sarro da minha cara. Dino
dormiu ouvindo música e Adis cochilou no chão do trem. Haris nos deixou um
pouco antes da nossa parada e pude sentar na frente de Almedin e apostar uma
palacinka que eu não dormiria durante as 6h de viagem.
Em Sarajevo, fizemos conexão. Saltamos do trem e o que tínhamos que
pegar estava logo ali, na nossa frente. Subimos e encontramos um trem bastante
lotado. Eu e Adis conseguimos lugar numa cabine com outros dois homens. Um
deles ficou absurdamente feliz por eu ser brasileira e não parava de me falar
coisas – as quais Adis tinha que traduzir. Quis calar a boca do senhor, com
todo o respeito. Liguei meu computador, coloquei fones de ouvido e assisti a
Central do Brasil com Adis vendo as imagens passando na tela do meu computador
e provavelmente não entendendo nada além de choros de Josué.
Finalmente chegamos a Zavidovici. O pai de Dino nos buscou na estação de
carro. O engraçado é que quando pulei do trem, senti como se estivesse em
tempos de guerra. O trem velho, assim como nos filmes, ruindo e um senhor
soprando um apito para que todos descessem do trem. Atravessando trilhos na
terra e o escuro da meia noite.
Fui parar na porta de uma casa deliciosamente pequena. Os muçulmanos tem
uma tradição de não entrar de sapatos na casa. Delícia andar de pantufas por
aí, comer muito e ser oferecida mais e mais comida. Adis mora com a avó e com a
mãe, que não falam nada de inglês, mas são uns amores. Disseram-me que nevará
no sábado.
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