terça-feira, 7 de maio de 2013

quando alguéns se eclodem após uma guerra

Foi uma tarde toda na varanda: ouvindo a chuva bater no telhado, mas sem conseguir ver pingos na vastidão do calor, com dezenas de páginas de internet abertas com números e estatísticas de mortes e evacuação da Segunda Guerra Mundial, fazendo piadinhas sobre dívidas entre países e ouvindo as músicas favoritas de um amigo querido deitado ao meu lado. Fugi da guerra por algum tempo e fui me refugiar no quarto de um alguém, deitada, encolhida, na cama, adormecida, com vozes do lado de fora do quarto dizendo coisas que eu não conseguia processar. Meu coração tão acelerado pela adrenalina de toda aquela informação e eu tentando acalmá-lo para conseguir cochilar. Levei um chute na testa e fui despertada pela entrada de um calorento senhor. E não sabia o que era tudo aquilo - não sei se jamais vou saber -, sem saber reconhecer meus sentimentos e meu cansaço.
Antes de ir dormir, assisti a mim mesma deitada debaixo das estrelas com uma pessoa perdida, conversando sobre nem-lembro-mais-o-que. Senti uma energia no círculo de Susac enquanto nós dois nos acalmavamos enquanto eu acariciava seu cabelo e ele deitado no meu colo. O estresse do dia inteiro parecia partir enquanto discutiamos sobre o céu se mexer e foi uma das nossas poucas conversas em que não choramos de rir.
Acabei comendo chocolate belga e tomando chá num cozinha que tinha estado pela última fez quando me despedindo de uma garota de cabelos fogosos. Ouvi histórias de uma vida tão misteriosa que eu nunca teria imaginado e alcancei com a minha mão todo aquele desespero que ela jogava com palavras sobre a mesa e que me obrigava a aguentar firme e não fechar meus olhos, embora o sono fosse tão forte. Fomos interrompidas por uma garota que sentou-se conosco e mudou completamente o assunto: insônia.
Nessa manhã eu acordei tão cedo que as nuvens ainda estavam entre a luz das estrelas da noite e da do dia. Coloquei um vestido no meu corpo e me aventurei pelas ruas, vagando de volta pra casa, perguntando o que será de mim no ano que vem... E mais tarde tarde escrevi  um piece que odiei, que foi resultado de uma prova frustrante que impressionantemente não me fez chorar. E achei nas palavras de Leminski algo de mim

Deixei alguém nesta sala
que muito se distinguia
de alguém que ninguém se chamava,
quando eu desaparecia.
Comigo se assemelhava,
mas só na superfície.
Bem lá no fundo, eu, palavra,
não passava de um pastiche.

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