sábado, 17 de agosto de 2013

quase esqueci, quase fui, quase serei

Comia stroopwafels no trem. Empurrava o balanço de uma garotinha de Martinica que insistia em falar francês comigo, mesmo sabendo que eu não a entendia. Depois tive a viagem mais longa da minha vida, em que senti as olheiras debaixo dos meus olhos crescendo, se tornando mais e mais escuras, profundas enquanto as horas passavam e eu não comia, nem dormia, nem descansava. Ônibus, trem, museus maravilhosos (Anne Frank, Foam e Amsterdam Museum), trem, horas e horas nas poltronas pretas de Schiphol sem conseguir pregar os olhos (assim como o homem que tentava dormir nas poltronas à minha frente e demos risada um pro outro quando fomos acordados pela quarta vez em menos de meia hora), avião, avião, taxi, ônibus... Dois dias muito, muito longos de viagem que não me possibilitaram descansar, nem pensar, nem ler o tanto quanto eu gostaria. Nem consegui explorar Amsterdam tanto quanto eu queria, pois minhas costas, meus pés, meus joelhos, meus ombros me imploravam que eu parasse de ser tão... imprevisivelmente apreciadora. Me falta palavras agora... Pra descrever aquele cansaço, aquela dor nas costas que parecia que eu nunca superaria. E também aquela fome que não era mais fome enquanto eu devorava um sanduíche feito por Sarah e um saco de salgadinhos que me deixava enjoada, mas me ajudava a saciar aquela ausência estranha. Nunca tomei um avião tão terrível como aquele de Zagreb pra Sarajevo; minha poltrona era do lado da asa daquele mini avião cuja asa era na verdade algo que girava absurdamente rápido e produzia um barulho insuportável. Minha viagem de ônibus de Sarajevo pra Mostar foi fantástica; foi como se eu nunca tivesse passado por aquela estrada, visto aquelas casas todas furadas por marcas de bala; como se eu nunca tivesse ficado de queixo caído, espantada com a beleza do Rio Neretva que segue até Mostar. E toda vez que eu via uma placa sinalizando quantos quilômetros faltavam pra Mostar, eu abria um sorriso e, ao mesmo tempo, uma parte em mim gritava por socorro, desesperada, sem saber o que eu estava fazendo ali, chegando como uma segundo ano. Uma parte de mim gritava, desejando que aquela fosse realmente a primeira vez que eu tomava aquela estrada de Sarajevo pra Mostar e não a penúltima. Mas sem dramas: tentei me segurar, aguentar, enfrentar.
Quando pisei em Mostar, tentaram me oferecer hospedagem e eu dei risada. Óbvio que eu pareço uma mera turista perdida com meus 20 kg nas costas, minha mochila e a bolsa da minha câmera. Fui parar em Abrasevic com uma garota alemã da primeira geração do UWC Mostar, com quem cruzei em frente à Musala. Encontrei Valentina, a diretora do colégio, tomei um suco com as duas e fui encontrar Haimeng (China) na casa de Ljubica (professora de alemão), onde passaria duas noites. Queria ir pra cama logo, mas Valentina insistiu que fôssemos comer um cevapi. Fui dormir como se fosse a primeira vez em meses.
Acordei e não percebi que era Mostar. Aquele calor, aquele cama. Não sabia onde estava. Levantei e me dei conta... Sentei na mesa e passei o dia todo escrevendo minha monografia, tentando me concentrar. E fui finalmente convencida a largar a tentativa de concentração para encontrar Markéta em No Flash. Foi como se nunca tivéssemos deixado Mostar. Meu primeiro ano embarcou hoje, deixou a casa, a família, a namorada e Brasília. Me faz perceber.... tanto.

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