quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

instruções para dizer adeus

Adeuses acontecem em estações de trem, em aeroportos, em portões e em camas. Nunca se deve interromper um grupo ou um casal de pessoas se despedindo. Não se interfere no momento em que há coisas ficando pra trás e coisas indo. O movimento fixo e fluxo e sem-jeito que há naqueles compassos de abraços é unicamente limitado em termos de tempo e espaço. Seria como se jogar nos trilhos do trem. Também não se deve olhar muito; porque o olhar, invejoso ou não, transforma o campo energético em uma fumaça que se dissolve. 

O jeito correto de dizer adeus é calculável. Primeiramente, deve-se segurar as lágrimas o máximo possível e conter as palavras. Nesse momento, a palavra não é necessária. O mais necessário é o uso dos braços para se colocar os corpos juntos um ao outro. Às vezes, sentir o batimento cardíaco do outro – que não é o você. Embora os dois batimentos às vezes se misturem e sua percepção seja incapaz de distingui-los. O tempo do abraço, no entanto, não é calculável. E, também, um abraço mais longo não necessariamente significa mais amor, mas saudade. O tempo do abraço é sempre decidido e imposto pelos participantes desta.
Há pouco a se fazer depois dessa intensa troca de calores, pois os corpos devem se separar e partir. Não se deve chorar. Os batimentos cardíacos se dispersam. O próximo passo é a troca de olhares entre você e o outro. E aí você se vai. Ou o outro se vai. Alguém se vai. Talvez pra logo voltar. Talvez, nunca mais.

Crônica inspirada em Júlio Cortázar
Dedicada à Laila Kontic.

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